https://abacus-market-onion.top Entrevista: Marina Dutra, escritora - Marramaque

Entrevista: Marina Dutra, escritora

1. “Sonho e Pesadelo” é uma obra que aborda a dualidade entre dois personagens divinos opostos. O que a inspirou a explorar essa ideia de dualidade em um contexto tão fantástico?

Marina: Sempre gostei de histórias de amores impossíveis, e de mitologia. Acredito que uni essas duas paixões quando criei meu próprio panteão de deuses, e foi muito divertido dar a eles um final feliz.

2. Você menciona que o livro foi inspirado por obras como Castelo Animado e Sandman. De que maneira essas influências se manifestam na construção do universo e dos personagens de “Sonho e Pesadelo”?

Marina: As obras do Studio Ghibli em geral exercem uma influência muito grande na minha vida, e com certeza moldaram a minha personalidade. Sempre quis ser capaz de criar uma história que passasse essa mesma sensação de deslumbramento mágico que eu sinto toda vez que vejo algo do Ghibli, especialmente Castelo Animado. Peguei toda essa inspiração e quis também dar um toque mais dúbio, talvez possa dizer, até mesmo, sombrio.

3. A deusa Sonho e o deus Pesadelo têm origens e missões que os distanciam, mas que acabam por uni-los de maneira inesperada. Como você trabalhou o desenvolvimento do relacionamento deles ao longo da narrativa?

Marina: não costumo planejar nada, e meus personagens têm vida própria. Eles vão onde querem, falam e fazem o que querem, e eu sou apenas a responsável por escrever as coisas de uma forma que faça sentido, rs. Sonho e Pesadelo queriam ficar juntos desde o começo, apesar da impossibilidade: ela era de todo boa, ele era de todo mal. Foi muito divertido mostrar que não era bem assim, e trabalhar no relacionamento de forma sutil, mas ao mesmo tempo, profunda.

4. O conceito de “romantasia” mistura fantasia e romance. Quais foram os desafios de equilibrar esses dois gêneros para que ambos tenham o mesmo peso na história?

Marina: escrever uma romantasia não foi nem um pouco planejado, mas eu tinha essa vontade de escrever uma bela história romântica. Conforme escrevia, acho que meu maior cuidado foi com a criação do mundo, e ambientação. Eu precisava dar os detalhes fantásticos, mas essa não era a minha prioridade.

5. O livro parece questionar as regras que governam a ordem do universo. Qual mensagem você espera transmitir aos leitores com essa temática de “quebrar as regras” para alcançar o equilíbrio?

Marina: escrever Sonho e Pesadelo me fez perceber que ninguém pode viver só de sonhos e, com isso, passei a conviver melhor com os meus pesadelos. Espero que a história desperte esse mesmo sentimento nos leitores.

6. O que mais a fascina na ideia de deuses e forças universais representarem emoções humanas como Sonho e Pesadelo? Como você trabalhou essas personificações de conceitos abstratos?

Marina: desde o começo da pandemia convivo com crises de ansiedade. Às vezes elas são tão fortes – e vêm tão de repente – que sinto como se elas fossem uma presença física, me esmagando, sussurrando no meu ouvido tudo de ruim que pode acontecer. Foi com base nessa experiência pessoal que dei vida aos deuses-emoções. Acho que todo mundo tem alguma experiência dessas, e quase sentiu que a sua angústia, o seu medo, ou a sua esperança, podiam se materializar diante dos olhos.

7. Além de ser uma história de romance, “Sonho e Pesadelo” também aborda temas profundos sobre o equilíbrio da vida. Como você enxerga a relevância desses temas para o público mais jovem, que compõe parte dos seus leitores?

Marina: para mim, estar viva é buscar constantemente o equilíbrio. Sonho e Pesadelo representam o Yin-yang, e acho que é muito importante, no nosso desenvolvimento como seres humanos, aceitar as partes que consideramos ruins, abraçar as nossas vulnerabilidades e nos permitir ser o que somos, ao invés de só olhar para o que é bom. Se minha história puder contribuir com isso na vida de uma pessoa que lê, com certeza vou ficar muito feliz.

8. Marina, você é autora de outros livros, como Belar e 24h para correr. De que forma “Sonho e Pesadelo” se diferencia das suas obras anteriores em termos de estilo e narrativa?

Marina: tenho muito orgulho dos meus primeiros trabalhos, especialmente pelo que eles me proporcionaram, mas eles refletem uma voz insegura, que ainda estava se descobrindo. Como Sonho e Pesadelo, finalmente experimentei contar uma história do jeito que sempre quis, sem me apegar a tropos ou ao pensamento do que meu público queria. Escrevi, acima de tudo, pra mim mesma.

9. A dualidade entre Sonho e Pesadelo também pode ser interpretada como uma metáfora para relações humanas. Você acredita que o público poderá se identificar com esses personagens mesmo sendo eles figuras divinas?

Marina: Sonho e Pesadelo são deuses, mas completamente humanos. Eles falham, e mesmo assim continuam tentando. Se veem presos a regras e expectativas, temem decepcionar aqueles que amam, e tenho certeza que toda pessoa que lê vai se enxergar um pouquinho neles.

10. Sabemos que o universo literário é vasto e complexo. Quais foram as suas maiores dificuldades e aprendizados ao transitar de publicações independentes para uma editora como a Buzz?

Marina: ser uma autora indie é difícil, porque a gente aprende a pensar e fazer tudo sozinho. Tive que aprender a abrir mão desse “controle total”, mas a experiência com a Buzz foi maravilhosa. A equipe com quem trabalho é incrível, e sempre pediu minhas ideias, e ouviu minhas opiniões. Com toda certeza, foi uma transição suave, e estou aprendendo muito com eles.

11. Para encerrar, o que você espera que os leitores sintam ou reflitam ao terminar “Sonho e Pesadelo”?

Marina: escrevi essa história para fazer as pessoas sorrirem. Escrevi para que o amor impossível entre um sonho, e um pesadelo, preenchesse corações com esperança, e espero muito que minhas palavras sejam capazes de fazer isso acontecer.