https://abacus-market-onion.top Entrevista: Barbosa Ribeiro, escritor - Marramaque

Entrevista: Barbosa Ribeiro, escritor

1. O que o motivou a escrever Marte ou Morte e como surgiu a ideia de combinar pena de morte com exploração espacial?  

Tive a ideia baseada no programa Mars One, projeto anunciado há alguns anos, mas que acabou não indo para frente. Era a ideia de organizar uma viagem sem volta ao planeta Marte para a colonização do planeta. Mas ao contrário do que ocorre no livro, em que ninguém quer ir a Marte, esse projeto teve milhares de inscritos. Baseei-me também na colonização da Austrália, que foi povoada por criminosos condenados e exilados da sua terra natal.

2. A obra se passa em um Brasil de 2045. Como você imagina que o país pode evoluir até lá em relação às desigualdades sociais e avanços tecnológicos?  

Creio que em relação às desigualdades sociais não teremos muitos avanços diante das crises pelas quais o nosso país passou, a menos que haja uma transformação fenomenal da gestão pública. Quanto aos avanços tecnológicos, o mundo já está evoluindo, sobretudo com relação à inteligência artificial, às novas tecnologias de comunicação e avanços na medicina. Não iremos a Marte, mas teremos computadores e dispositivos de comunicação muito diferentes do que temos hoje.

3. O conceito de enviar prisioneiros condenados à morte para colonizar Marte levanta questões éticas complexas. Como você espera que os leitores interpretem essa proposta?  

Busco provocar uma reflexão sobre a pena de morte e os seus impactos e possíveis injustiças, assim como a ganância dos políticos apresentados no livro, que priorizam o avanço tecnológico em detrimento do bem-estar do ser humano.

4. Como foi o processo de construção da personagem Valentina em Marte ou Morte? Ela tem alguma relação com a protagonista do filme Um Corpo e Um Sonho?  

Não há nenhuma relação, foi pura coincidência, até porque em Marte ou Morte Valentina é uma personagem secundária, que acaba por se tornar a melhor amiga da protagonista Deborah. Já em “Um Corpo e um Sonho”, Valentina é a protagonista, uma jovem que busca um novo corpo para ter uma vida mais digna. Coincidentemente, ambas as obras têm a pena de morte como pano de fundo e se passam algumas décadas no futuro.

5. A narrativa de Marte ou Morte provoca reflexões sobre moralidade e política. Você acredita que a ficção tem um papel importante na conscientização sobre esses temas?  

Sim, sem dúvidas, pois a ficção não deixa de ser um espelho da realidade e um dos seus objetivos fundamentais deve ser a conscientização sobre temas relacionados à política.

6. Quais foram as principais inspirações para a criação do universo distópico de Marte ou Morte? Você se baseou em algum autor ou obra específica?  

Tive uma leve inspiração nos filmes “Planeta Vermelho” e “Missão Marte”, produções de Hollywood que tratam dessa temática. Mas a minha maior inspiração foi o programa Mars One, como mencionei antes.

7. Além do livro, você também está envolvido com produções cinematográficas. Como essa experiência no cinema influencia sua escrita literária?  

Influencia por me fazer pensar em como seriam os meus livros adaptados para o cinema e como seriam esses personagens nas telonas.

8. O longa Um Corpo e Um Sonho aborda transplantes de corpos e cabeças em um contexto futurista. O que te levou a explorar esse tema?  

Na verdade, o roteiro não é meu. Adquiri seus direitos de adaptação e exploração comercial. Mas me interessei pelo tema por ser algo criativo e por haver cientistas que realmente creem nessa possibilidade, apesar de não terem muita credibilidade na comunidade científica.

9. O filme O Jogo dos Condenados tem semelhanças com Round 6. Como você pretende trazer originalidade para essa narrativa?

A originalidade vem do fato de os participantes serem delinquentes condenados que foram sequestrados por um vingador e também por alguns personagens do filme serem baseados em criminosos da vida real, casos que tiveram muita notoriedade na mídia, o que fará com que haja uma maior conexão do público com a obra
 
10. Suas obras frequentemente dialogam com dilemas éticos e sociais. Qual dessas questões mais te instiga a explorar na ficção?  

O que mais me instiga a explorar é essa questão da valorização da vida humana e as questões éticas envolvidas na pena de morte, além da desigualdade social existente no nosso país.

11. Você acredita que o público brasileiro tem se interessado mais por ficção científica e distopias nos últimos anos?  

Sim, principalmente com o sucesso de livros, filmes e séries do gênero. Mais um motivo para investirmos mais na produção audiovisual deste gênero no Brasil, que ainda é muito incipiente, embora venha crescendo paulatinamente.

12. Como foi o processo de aprovação do projeto do longa-metragem Um Corpo e Um Sonho pela Lei do Audiovisual da Ancine?  

O procedimento de aprovação é relativamente simples. Basta ter a produtora com regularidade fiscal e preencher os campos no sistema da Ancine. O grande desafio é conseguir empresas interessadas em patrocinar, que é o que temos buscado neste momento.

13. A Alfa Centauri Filmes, da qual você é fundador, tem outros projetos futuros além de O Jogo dos Condenados?  

Por enquanto somente Um Corpo e um Sonho, que é o nosso projeto que está em captação de recursos. Tenho outras ideias, mas ainda estou elaborando.

14. Como você vê o impacto da literatura e do cinema na forma como enxergamos o futuro da humanidade?  

A literatura e o cinema muitas vezes preveem tecnologias futuras. Coisas que há algumas décadas eram ficção científica hoje são parte da nossa realidade, como portas automáticas, drones, videochamada e inteligência artificial. Infelizmente (ou felizmente?) não chegamos a 2015 com carros voadores e skates flutuantes, mas temos câmeras digitais, tablets e óculos de realidade virtual, que foram algumas das tecnologias previstas no filme De Volta para o Futuro 2, que considero um dos melhores do gênero, apesar de suas previsões pra lá de furadas.

15. Quais são seus próximos planos como escritor e cineasta? Há alguma nova obra em desenvolvimento?

Comecei a escrever uma continuação de Marte ou Morte, ainda sem previsão de lançamento. Tenho escrito alguns roteiros de filmes, porém são projetos para um futuro mais distante. Por enquanto pretendo focar “O Jogo dos Condenados”, “Um Corpo e um Sonho” e o lançamento comercial de “Vampiros do Espaço”, nosso longa-metragem de ficção científica que gravamos ano passado.