1. O que o título Corta Quebranto representa para a banda e como ele se conecta com o momento pós-pandêmico?
“Corta Quebranto” sugere movimento e cura. O próximo passo depois de uma “Tramoia” intensa e inerte é o próprio passo. Reocupar os espaços pós-pandêmicos com cultura popular e regional, com as tecnologias do presente, supondo um futuro onde só o absurdo pode trazer a alegria aos olhos de todo mundo. Trazer à tona as dores e riquezas do nosso interior. Se curar das dores com o autoconhecimento e evoluir em constante movimento.
“Representa muito o momento inicial de desenvolvimento do album, que era um período pos-pandêmico de autocuidado e também de reocupação dos espaços com cultura. Corta Quebranto é isso, movimento e cura.” – João Manga (baterista)
2. Como foi o processo colaborativo na criação das 12 faixas do álbum? Há algo que foi particularmente desafiador ou recompensador?
“Foi um processo natural que sempre buscamos. Apreciamos muito a musicalidade um do outro, e desde que nos tornamos amigos compor e arranjar juntos é um dos nossos maiores prazeres. Esse album nos permitiu lançar músicas que começamos a criar juntos desde que nos conhecemos.” – Marco Maia (guitarrista)
“O mais desafiador é partir de um grande projeto com uma repercussão tão positiva como o “Tramoia” para um novo desafio que agrade e surpreenda tanto quando. O mais inspirador é ter ao meu lado o grande artista e amigo Leonardo Leitão, que também participa ativamente das nossas criações musicais, e talvez por isso consiga traduzir nossa música em imagem com tanta maestria” – Pedro Tasca (vocalista e diretor de arte)
3. O álbum explora uma mistura de ritmos tradicionais e contemporâneos. Como vocês definem o “caipigroove” e como ele se desenvolveu desde Tramoia?
O caipigroove é um movimento que busca novas possibilidades artísticas reinventando a cultura popular regional, assim como o afrobeat nigeriano e o manguebeat pernambucano, grandes referências para a Roça Nova. No Tramoia tínhamos uma certa preocupação em apresentar o caipigroove enquanto nesse album nos sentimos mais livres para incrementar novas referências ao nosso som, se tornando mais orgânico, mas ainda assim com muito caipigroove.
4. Como foi trabalhar com a Banda de Pau e Corda e com André Prando? Qual foi o impacto dessas colaborações no resultado final do álbum?
“Poder juntar o novo interior de Minas Gerais com as raízes Pernambucanas da Banda de Pau e Corda é um sonho realizado. Eu e o Marco já viramos muitas noites ouvindo nossos discos de vinil da Banda de Pau e Corda.” – Pedro Tasca (vocalista e compositor da musica)
“O André sempre foi uma das minhas maiores referências musicais, sempre fui fã mesmo, de tirar e cantar as músicas dele. Depois que nos conhecemos na estrada tivemos a oportunidade de tocar em inúmeros eventos juntos. Hoje somos grandes amigos e era questão de tempo essa participação vir pra gravação. Ficou lindo, forte e eu me sinto realizado.” – Hector Eiterer (baixista e compositor da musica)
5. A faixa “Caipora” traz elementos do jazz mineiro e das raízes pernambucanas. Como surgiu a ideia de combinar essas influências?
“Desde o início da composição, senti que a harmonia e a letra me lembravam muito “Banda de Pau e Corda”, e isso acabou influenciando tanto a criação da música como a minha visão do arranjo que eu elaborei para faixa. Quando anunciamos o novo album, declaramos que havia muita influência deles, que entraram em contato com a gente dizendo ser um prazer. Parecia um sonho, e então quando eu enviei uma demo de “Caipora” eles gostaram bastante e toparam construir essa parceria linda.
O mais interessante é ver a forma carinhosa com que eles valorizaram nosso trabalho, genuinamente, é da personalidade deles serem assim, e isso tornou meus heróis mais incríveis ainda pra mim” – Pedro Tasca (vocalista e compositor da musica)
6. Em “Rio Doce”, a banda aborda questões sociais e ambientais. O que essa faixa representa para vocês e qual é a mensagem principal que ela traz?
O toque do berrante e um lamento de voz e viola anunciam perdas irreparáveis, por culpa da exploração mineral. Como o rompimento de uma barragem, toda a banda estoura em convenção, trazendo pulso e voracidade, o que culmina em um poema ácido, bravio e doloroso, feito a vida, em meio a uma avalanche de lama e rejeitos minerais.
Rio Doce é um grito pelas vítimas em Mariana, Brumadinho, e em tantas outras comunidades do interior de Minas Gerais, que após 9 anos segue assombrada pela ganância e pela impunidade de grandes mineradoras.
7. A música “Montaña” é a primeira com letra em espanhol da banda. Qual foi a inspiração por trás dessa escolha e da mensagem de unidade latino-americana?
Montaña é a primeira canção com letras em espanhol da banda, com grooves sinceros e guitarras calientes. Quente, tropical e revolucionária, esse “pilon” mineiro resgata referências da Sierra Maestra ao Caparaó.
“Cresci apreciando a união que a nossa Serra do Caparaó promove entre os estados de Minas Gerais e Espírito Santo, isso fez parte minha vida, por já ter morado nos dois estados, e carrega-los comigo na minha música, assim como o João, o Bernardo, o Marco… Isso acabou se refletindo na história da formação da banda, que também transita entre os dois estados.
Um dia percebi que essa relação também se manifesta em outras regiões montanhosas por toda a américa latina. As serras e cordilheiras latinas foram palco de grandes revoluções, e o caparaó também não fugiu à regra com sua guerrilha, história pouco difundida até mesmo na nossa região.
Essa música eu fiz tentando transmitir a grandeza histórica e cultural dessa palavra, que se pronuncia da mesma forma, mesmo que em diferentes línguas, por todo nosso continente. O poder revolucionário de união da montanha.” – Pedro Tasca (vocalista e compositor)
“Uma palavra para unir fronteiras, uma palavra para ser palco de grandes revoluções, uma palavra para ser pronunciada da mesma forma por todo o continente, una palabra por la unidad latinoamericana” – João Manga (baterista)
8. A canção instrumental “Rabo de Galo” veio de experimentações no palco. Como foi o processo de criação dessa faixa e o que ela representa no contexto do álbum?
“Eram dois trechos, um de viola do Tiago e um de violão do Pedro, que o Pedro teve ideia de juntar, por isso o nome Rabo de Galo, pelo método de composição. A música instrumental foi a abertura dos nossos shows na última turnê, e representa uma forte conexão sonora entre o primeiro e o segundo álbum.” Hector Eiterer (baixista)
9. Como a transição das colagens digitais de Tramoia para as telas pintadas à mão em Corta Quebranto enriqueceu a conexão entre música e imagem?
“Assim como nosso som evoluiu organicamente, com arranjos e composições coletivas, além de mais transições harmônicas, a arte visual também teve uma transição significativa. Das colagens digitais de Tramoia, passamos para doze telas pintadas à mão pelo mesmo artista, Leonardo Leitão. Essa colaboração trouxe um novo nível de simbiose entre música e imagem” – Bernardo Leitão (percussionista e irmão do artista)
10. O documentário dirigido por Rodrigo Ferreira complementa o álbum. O que os fãs podem esperar desse registro dos bastidores?
“Um registro sincero sobre a produção do álbum, com depoimentos dos integrantes da banda sobre a criação e gravação de cada uma das doze músicas. Vai estar disponível no canal da banda no YouTube a partir dia 28/02” – Rodrigo Ferreira (diretor do documentário)
11. Vocês citam influências como Chico Science e Buena Vista Social Club. Como essas referências impactaram a sonoridade e o conceito de Corta Quebranto?
“Movimentos que resgatam a cultura tradicional com uma linguagem contemporânea possibilitam o surgimento de novas sonoridades e nos inspiram muito. Chico Science no Brasil, Fela Kuti na Nigéria, Compay Segundo e Eliades Ochoa em Cuba… Apreciamos isso, nos inspira muito” – Bernardo Leitão (percussionista)
12. A banda utiliza instrumentos como viola caipira, rabeca e berrante. Como vocês equilibram a preservação dessas tradições com a inovação sonora?
O novo album traz de novidade timbres representativos como a viola caipira, a rabeca e o berrante de chifre, somados aos elementos base do primeiro disco como a bateria, guitarras, baixo, percussão e os vocais e coros únicos dos integrantes. Tudo isso enriquece o cenário musical, fortalece as raízes regionais e torna o album mais melódico e orgânico, com a mesma intensidade certeira do seu antecessor.
“Não é nada tão planejado, fazemos a música que parte de nós. Cantamos o que se fala por aqui, tocamos os instrumentos que sabemos, que tivemos como referência durante nossa criação… Eu aprendi a tocar berrante desde criança com meu avô, na roça, o Tiago é um grande violeiro e por aí vai… A questão de ser “inovador” acho que é um reflexo natural de incorporar o mundo em que vivemos no nosso som.” – Pedro Tasca (vocalista)
13. O álbum será lançado em vinil em março de 2025. Qual é a expectativa da banda em relação a esse formato físico?
“A expectativa é altíssima, como a de qualquer fã e colecionador de vinil como nós somos! As prensagens do nosso primeiro álbum foram vendidas num piscar de olhos, então é bom geral já se ligar e ficar de olho na pré-venda pra nao ficar sem! Começa agora em Fevereiro!” João Manga (baterista)
14. Quais são os próximos passos da Roça Nova? Há planos de turnê ou novos projetos em andamento?
“Nossa nova turnê já decolou e está em curso nas estradas, fiquem ligados nas redes sociais e nos grupos de transissão pra conferirem os show proximos de voces!” – Marco Maia (guitarrista)
“Em Fevereiro começa a pre-venda do disco de vinil, camisetas e todos os itens exclusivos da nossa lojinha em edições limitadíssimas, alé do lançamento do documentário sobre a gravação do novo album” – Hector Eiterer (baixista)
“No segundo semestre vai tem lançamento muito importante pra acontecer! Vai ser ao vivo, vai ser inédito, mas não podemos falar muito além disso por enquanto, aguardem!” Pedro Tasca (vocalista)
15. Qual foi a história por trás da frase “Carroça Nave, Câmbio”? Ela parece ter se tornado um marco na conexão da banda com o público.
O discurso presente na faixa se tornou um elo comunicativo entre o icônico vocalista Pedro Tasca e o público, que veio dos show para o álbum, evocando o anseio pelo início de novos ciclos. Um clássico dos encerramentos de show da Roça Nova, que nasceu dos improvisos do palco para ser eternizado no segundo álbum.
O arranjo pelo percussionista Thalles Oliveira transita entre dois toques de congado, com um groove marcante de baixo e muita psicodelia nas guitarras. A verdadeira essência do caipigroove.
16. O que a expressão “Roça Nova corta quebranto!” significa para vocês pessoalmente, depois de cinco anos?
“No nosso primeiro show de festival, ainda em 2020, me lembro que uma pessoa que estava lá postou um trecho da nossa apresentação em seus stories escrito “Roça Nova corta quebranto!”, e isso marcou todos nós. Assim como o do primeiro disco, esse nome também veio de presente para nós, e mesmo depois de cinco anos, todos nós lembramos com carinho dessa expressão ao sugerimos os possíveis nomes desse novo album” – Marco Maia (guitarrista)
“Mesmo não sendo integrante da banda na época, eu e o Tiago sempre achamos o nome muito forte e místico de uma forma existencial, dialoga com o primeiro nesse sentido, não podia ser outro. Tramoia passa uma ideia de inércia e reflexão, enquanto Corta Quebrando sugere movimento e cura. É a ordem natural. Evolução. O próximo passo” – Thalles Oliveira (percussionista)