Entrevista: Alê Motta, escritora

Entrevista: Alê Motta, escritora

1. “Minha cabeça dói” é seu primeiro romance após uma trajetória marcada por microcontos. Como foi a transição do formato conciso para uma narrativa mais longa?

Uma experiência diferente dos textos curtos, mas bem interessante. É um romance em que a concisão, que é meu projeto de escrita, está presente.

2. A temática social é um elemento central em “Minha cabeça dói”. O que te inspirou a abordar a violência doméstica e a desigualdade social nesse romance?

Vivemos em um país onde essas questões – violências e desigualdades – são muito contundentes. E eu gosto de observar a realidade para escrever.

3. O livro acompanha a vida de um menino-adolescente que migra de uma favela para um bairro nobre. Como essa mudança de ambiente impacta o protagonista e a narrativa?

O protagonista, que é um adolescente, é surpreendido, após um tempo longo de internação em um hospital, com uma nova dinâmica familiar. Adaptar-se a isso não é fácil. Ele aprende a ser frio e dissimulado. São muros que ele constroi para se proteger.

4. Você foi apresentada ao universo literário por João Anzanello Carrascoza. Como essa conexão influenciou sua escrita, especialmente no desenvolvimento de seu estilo conciso?

Carrascoza é um escritor generoso e incrível. Não sei definir exatamente como ele influencia minha escrita, mas com certeza ler o Carrascoza é marcante. E para escrevermos, precisamos ler, ler muito! 😊

5. “Velhos” se tornou leitura obrigatória em vestibulares de Santa Catarina e foi adaptado para o teatro. Como você vê a adaptação de suas obras para outros formatos?

A adaptação do Velhos para os palcos tem sido um presente incrível e inesperado. Apresentações em auditórios, escolas, e até clubes de terceira idade.Fico muito feliz!

6. Itamar Vieira Júnior mencionou que sua prosa tira o leitor da zona de conforto. Como você encara essa característica da sua escrita?

Acredito que seja o humor ácido, a linguagem direta. Eu acho que a literatura deve incomodar, fazer o leitor se mover, refletir.

7. Fernando Molica descreveu as cicatrizes do protagonista como mais do que marcas físicas, mas como simbolismos de feridas emocionais. Como você trabalhou esses aspectos na construção do personagem?

Meu personagem, a partir do acidente, precisa lidar com a cicatriz no rosto e as cicatrizes internas, no processo do seu crescimento: Uma adolescência recheada de surpresas, traumas e perguntas sem respostas. Essa mistura do que ele apresenta externa e internamente vai moldando suas escolhas e dúvidas.

8. Você tem uma formação em arquitetura e urbanismo. De que maneira essa formação influencia sua abordagem ao descrever cenários e ambientes nos seus livros?

Talvez meu olhar de arquiteta seja um facilitador para que eu crie perspectivas variadas para os meus personagens, nos ambientes em que eles estão.

9. Quais são os desafios e recompensas de escrever sobre temas sociais complexos, como a violência e a desigualdade, em uma forma literária?

Os desafios são produzir uma escrita que não seja plastificada, superficial. E também que toque fundo no leitor. Cutuque, incomode.As recompensas são os retornos dos leitores. Suas reações e análises da narrativa.

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