Entrevista: Grupo Palhastônicos 

Entrevista: Grupo Palhastônicos 

1.   O que o público pode esperar do espetáculo “Velho Circo, Novo Mundo”? Quais são os principais elementos que vocês exploram?

O público pode esperar um espetáculo muito divertido e cheio de poesia, onde os palhaços e a palhaça brincam com os clássicos do teatro e da literatura e em meio ao caos de tentar fazer uma apresentação artística. 

2.   Como foi o processo de criação do espetáculo e como vocês chegaram à decisão de revisitar histórias clássicas do circo, teatro, literatura e música?

A gente tinha vontade de falar dos clássicos. Mas com uma ideia alargada que incluiria tanto Shakespeare quanto “Seu Madruga” (personagem da série Chaves). Daí, fomos colocamos tudo isso num caldeirão junto com nossas habilidades circenses e musicais.

3.   Qual a importância do Edital de Chamamento de Cultura SESI São Paulo – VIAGEM TEATRAL para a realização dessa turnê?

Aqui no interior do RJ fazemos muitos espetáculos de rua, algumas circulações por teatros e o Festival Riso Solto – Encontro de Circo e Palhaçaria de Petrópolis, junto a outros coletivos da cidade. Essas trocas são muito importantes para o crescimento do grupo e, agora, com essa circulação por São Paulo, isso se expande ainda mais.

O edital VIAGEM TEATRAL além de viabilizar nossa viagem, nos permite estar em espaços culturais que trabalham com formação de plateia e possuem toda uma estrutura pra nos receber.

Estamos muito animados com a oportunidade de compartilhar o nosso trabalho com novos públicos, fazedores de cultura e expandir a rede de afetos!

4.   Como vocês se sentem em relação à estreia da turnê em um espaço cultural tão importante como o Centro Cultural FIESP, na Avenida Paulista?

É um misto de emoções: alegria, ansiedade, empolgação, frio na barriga… Talvez a gente entenda o tamanho dessa conquista quando estivermos em cena, sentindo o calor do público…ou não, já que em cena a palhaçada toma conta! É uma grande aventura!

5.   Como vocês descreveriam a experiência de levar o espetáculo para diferentes cidades do interior de São Paulo, após a estreia na capital?

Um presente! Somos de uma cidade do interior do estado do Rio de Janeiro e já apresentamos por aqui e noutras tantas. Sabemos que o interior é vasto e diverso e ter a chance de conhecer, ainda que um pouco, em SP é, para nós, uma grande alegria! 

6.   Quais são as principais diferenças entre se apresentar no Rio de Janeiro e em São Paulo? Como o público de São Paulo tem recebido o espetáculo?

Essa ainda vamos descobrir!

7.   Como vocês esperam que o público se sinta ao assistir “Velho Circo, Novo Mundo”? Qual mensagem vocês gostariam de transmitir?

Queremos que o público sinta a leveza que sentimos em cena. Que saiba que é possível não se levar tão à sério. Que às vezes, rir é o melhor remédio. Que nosso prazer em estar ali, brincando, seja contagiante e possa reverberar o resto do dia na mente, no corpo, na vida das pessoas. Estamos ali em busca do encontro, e esse encontro é da gente com o público e o riso!

8.   Como vocês conciliam a tradição do circo com uma abordagem moderna e inovadora no espetáculo?

O circo tradicional tem uma história magnífica que deve ser lembrada e valorizada para sempre. Nossa proposta é reverenciar essa arte milenar trazendo ao palco essas referências entrelaçadas ao nosso jeito de fazer teatro.

9.   Como surgiu a ideia de formar o Grupo Palhastônicos em 2018?

Foi meio no acaso, surgiu um trabalho de SIPAT (evento empresarial de segurança no trabalho) e Léo Gaviole convidou Madson José (seu professor em Palhaçada) para montar umas cenas relacionadas ao tema. Daí, convidamos a Andressa Hazboun, que tinha experiência com mímica. Deu BOM!!!… Foram surgindo outras demandas de espetáculos, editais de fomento a cultura, idealização e realização do “Festival Riso Solto – Encontro de Palhaçaria e Circo de Petrópolis”… e quando vimos… aqui estamos em nosso sétimo ano como grupo! – dizem que 7 é número de crise nos casamentos, mas acho que entre palhaços, na pior das hipóteses, é torta na cara.

10. Como é o processo de criação coletiva do grupo, desde a concepção das ideias até a montagem dos espetáculos?

Cada processo é único. O disparador pode ser tanto uma proposta vinda de fora que precisamos conciliar com nossas vontades artísticas ou um desejo nosso.

A gente aproveita a experiência que cada um tem na criação, o Madson, por exemplo, traz bastante trabalho físico e textos como proposta, o Dalus na música, Andressa na dramaturgia e Léo nas habilidades circenses. Mas isso tudo se mistura na sala de trabalho, sem muito papel fixo. 

Independente do processo, uma coisa que costuma  acontecer é que no meio das experimentações, sejam físicas ou só trocando ideias, começam a surgir piadas, gags, bobagens, gracinhas, trocadilhos de gosto duvidoso e começamos a entrar numa espiral de bobagens que alguém (geralmente Madson) precisa trazer pro foco novamente. Sempre se aproveita alguma coisa dessas tergiversações, mas mais do que as ideias ruins ou piores, é o que nos dá a liberdade necessária para a palhaça e o palhaço, tanto no processo criativo, quanto em cena.

11. Quais foram os maiores desafios e as maiores alegrias ao longo da trajetória do grupo até aqui?

O grande desafio sempre foi, e é ainda, não termos uma SEDE.Um lugar nosso para ensaiar, dar aulas, desenvolver pesquisas, realizar projetos socioculturais, promover encontros. Fora isso, um desafio que muitos artistas vivem de ter de se tornar produtor cultural de si ou de seus grupos, deixando de trabalhar na sua arte para dar conta de inscrever projetos em diversos editais, estudar leis, vender seus projetos e tudo isso, sem garantias de quando ou se vai dar certo. Isso gera um desgaste e ansiedade em relação ao nosso sustento e longevidade. Felizmente, temos conseguido. Há pessoas que gostam e contratam nosso trabalho, além de termos sido agraciados com editais importantes do estado do Rio, e agora com esse do SESI/SP.

A maior alegria é trabalhar com arte, com o que se ama e se acredita, ao lado de pessoas queridas. É o que dá esperança e alegria, mesmo com os desafios. Ter um grupo que é como uma família escolhida, com gente que amamos e admiramos e o afeto se reflete na sintonia que sentimos em cena. E ainda poder compartilhar tudo isso com o público é, de fato, um privilégio.

12. Como os prêmios recebidos pelos espetáculos anteriores, como “Sem Palavras, 100 risadas” e “Um Réquiem para Esmeralda”, influenciaram o trabalho do grupo?

Ficamos felizes com os prêmios, é claro. Mas num ano em que Fernanda Torres não levou o Oscar de melhor atriz, vale lembrar que “melhor” na arte é sempre um grande debate.  Para nós, o prêmio foi um momento de celebrar o trabalho, de agradecer o reconhecimento e à sorte. Não influenciou o grupo nos trabalhos seguintes, mas ficou muito bonito no nosso currículo. 

13. Como vocês veem o futuro do Grupo Palhastônicos e quais são os próximos projetos?

Vemos o futuro assim como nosso presente, estamos num barquinho de papel navegando pelas águas desse mundão. Chegamos até aqui meio à deriva, para onde o vento nos levou a gente foi, mas também fomos remando, porque o que não nos falta é determinação e vontade de trabalhar.

14. Como vocês descreveriam a importância do palhaço na sociedade contemporânea?

Vichi… essa resposta dá um artigo inteiro e muitas inconclusões também! Mas vamos lá, vou tentar resumir. A Palhaçada sempre esteve a serviço da sociedade. Seja para apontar seus absurdos ou para salvar nossa sanidade extravasando nossas tensões através do riso. Hoje, nessa contemporaneidade descompensada (não que eu pense que algum dia foi equilibrada) estamos vivendo uma ameaça pelo desafeto e apologia ao ódio, muito nocivos à nossa necessidade vital de pertencer à uma comunidade, à colaborar com o coletivo. Sem contar o silencioso e perigoso distanciamento social agravado pelas redes sociais: estamos conectados com o mundo inteiro, com figuras imaginárias ilustradas na internet e longe de nossa realidade humana, e o resultado é o distanciamento do momento presente, das pessoas que estão ao nosso lado e que amamos. Em fim, ou “em começo”, a Palhaça e o Palhaço só existem no tempo presente, para ele não importa o dia de amanhã ou o mês que vem. Sua existência perpassa pelo encontro com o outro. Sem o outro, sem poder olhar nos olhos de quem nos deparamos e mostrar que estamos ali para viver aquele momento presente, não temos o “por quê”  sair de casa. A importância da Palhaça e do Palhaço para o mundo é lembrar o quanto somos falhos em nossa humanidade, e que tudo bem, pois é o que nos aproxima da VIDA! 

15. Quais são as inspirações do grupo no mundo do circo e do teatro?

Temos diversas inspirações: os grupos Teatro Galpão, As Marias da Graça, A Barca dos Corações Partidos, Teatro Circense Andança, o pessoal do LUME, entre tantos. Em quesitos de territórios inspiradores, apreciamos projetos como Quintal do Mundo, ponto de cultura no Arraial do Sana Macaé, do artista Fabiano Freitas, Palhaço Piter Crash; Centro Cultural Novos Horizontes com sua Biblioteca comunitária na área rural de São José do Vale do Rio Preto; e a Fazenda Vira Mundo, na área rural de Petrópolis, um espaço de educação extracurricular fora dos padrões tradicionais, que oportuniza experiências culturais e ecológicas para alunos da rede pública de ensino. 

16. Como vocês lidam com o humor e a emoção em seus espetáculos?

Vivendo um espetáculo de cada vez, às vezes mais apreensivos, às vezes mais relaxados, mas sempre atentos para estar presente em cena, levando o nosso melhor e degustando a oportunidade de se divertir e aproveitar aquele encontro que nunca mais se repetirá.

17. Qual o papel da música no espetáculo?

A música é um elemento essencial no nosso trabalho é, inclusive, a maneira pela qual a gente recebe e se despede do público. Ela é muito potente na definição do ritmo da dramaturgia e conexão com o público. Esteticamente, gostamos de diversificar os ritmos no espetáculo (tem valsa, xote, lundu, rock…) e de misturar coisas, tipo o Bach em Baião. 

18. Como é a relação do grupo com a produção local e a comunicação do espetáculo?

É nossa primeira parceria com a equipe de produção local e a comunicação do espetáculo, e está sendo muito legal. Escolhemos a EuCirc para potencializar a divulgação e ampliar nossa rede de contatos, e afetos, na cidade. O profissionalismo delas é um aprendizado para nossa equipe!

19. Como vocês veem a importância do acesso gratuito à cultura, como proporcionado por esta turnê?

O acesso aos bens culturais é um direito garantido por lei : “o artigo 215 da Constituição Federal de 1988: garante que o Estado deve garantir o acesso às fontes da cultura nacional e o pleno exercício dos direitos culturais.” A democratização desse acesso oferecendo atrações gratuitas potencializa o alcance de um maior número de pessoas, colaborando para a formação de platéia e investindo em saúde pública preventiva por meio de atividades de lazer que proporcionam experiências que aliviam estresse e ansiedade.  

20. Gostariam de deixar alguma mensagem para o público que irá assistir ao espetáculo?

Venham! DIVIRTAM-SE! 

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