Entrevista: Rés, artista não-binário

Entrevista: Rés, artista não-binário

1. *peba* é seu primeiro álbum de canções lo-fi. O que te motivou a voltar à canção depois do projeto eletrônico Suave?  

Não penso muito numa forma pré-estabelecida quando crio. Eu tava num momento mais introspectivo, passando por uma jornada pessoal, aí as canções foram surgindo. Em algum momento eu me dei conta de que tava muito diferente da proposta da Suave e decidi lançar com outro nome.

2. O álbum foi gravado inteiramente em casa. Como esse processo influenciou o som e a identidade do trabalho?

Acho que isso ajudou com a estética “lo-fi” da coisa… uma pena, porque eu queria poder gravar melhor, mas não tinha como, ainda mais na pandemia. Mas também acho importante saber usar as limitações de forma criativa. Acho que o lance mais caseiro também deu um tom mais intimista que acabou combinando.

3. Você mistura ritmos brasileiros como samba e coco com uma estética lo-fi. Como encontrou esse equilíbrio sonoro?  

Foi tudo fruto de experimentação, muita tentativa e erro. Minha ideia foi passar por vários ritmos daqui da américa latina, principalmente o samba, e misturar isso tudo com o “meu jeitinho”. Não sei bem se funcionou…

4. O álbum tem um clima bastante introspectivo e experimental. Como foi o processo de composição das faixas autorais?  

Não tem um processo fixo, cada música é uma coisa. Tem hora que a letra vem antes, tem hora que é a melodia, tem hora que as duas coisas vêm junto. Às vezes algum fragmento surge em sonho, também. Mas geralmente envolve o violão de alguma forma.

5. Você traz versões inusitadas de músicas como *piedra y camino* e *morte é paz*. O que te atraiu nessas canções?  

São belas canções que conversam com a minha jornada pessoal por diversos motivos, como se colocar em movimento e encontrar sentido e contentamento durante o percurso.

6. A vinheta de *Assum Preto* tem uma base ambient e a voz da Bruna Luz. Como surgiu essa ideia e essa parceria?

Eu a ouvi cantando certo dia e pensei “putz, isso precisa estar no álbum”. Aí subimos a trilha para o pico do jaraguá e gravamos ali no trajeto. Aproveitamos também pra fazer a foto da capa do álbum. As ambiências são gravações dela.

7. Você menciona que *Elementar* tem conexão com o tarot. Como essa prática influencia sua música?  

Influencia não só minha música, mas minha vida no geral. Com a Suave, eu tenho gravado uma música pra cada arcano maior, e tem sido ótimo. É como estimular partes adormecidas da sua alma… um processo que te expande em todos os sentidos.

8. Você já passou por várias bandas e projetos musicais. O que o nome Rés representa nesse momento da sua carreira?

Representa em certo sentido um processo de voltar para a terra, encontrar e fincar raízes, pra com elas poder subir mais além.

9. Além do álbum, você também criou a capa. Qual foi a ideia visual por trás da arte do disco?

Aquele lugar é bastante importante pra mim, e simboliza todo o processo: o lugar onde me isolei, onde me perdi e onde encontrei acolhimento em meio à natureza selvagem.

10. Você faz parte da banda Cassanota. Como concilia os projetos e como eles dialogam entre si?

Não é fácil conciliar projetos musicais, e tem sido cada vez mais difícil nessa eterna crise que é o capitalismo. A gente consegue no momento porque temos tocado muito pouco. E também, onde há amor, encontra-se um jeitinho.

11. O álbum sai pelo selo Hominis Canidae REC. Como surgiu essa parceria?

Eu acompanhava o blog do Hominis desde os tempos áureos do Orkut. Conheci muita banda que acabou moldando quem sou hoje, então foi bem importante pra mim. Isso me levou a escrever pra eles durante um lançamento da Suave, e acabamos nos conhecendo aí.

12. O que podemos esperar do Rés depois de *peba*? Tem planos para shows ou novos lançamentos?  

Eu vivo para a música, então vocês podem esperar outros lançamentos pro futuro. Outros projetos também.
Quanto a shows, não tô pensando em nada agora. Meu sonho é viver de música, mas infelizmente nunca vi e nem estou vendo essa possibilidade ainda. Quem sabe não aparece uma proposta boa?

marramaqueadmin