https://abacus-market-onion.top Entrevista: Xauim, cantor e compositor - Marramaque

Entrevista: Xauim, cantor e compositor

1. Como surgiu a ideia do álbum ‘Na Cocó’ e qual é o conceito por trás dele?

Antes mesmo de pensar em criar um álbum, algumas músicas sobre Salvador começaram a surgir. Percebi que eu tinha um olhar magnético para falar da cidade de várias maneiras, retratando a complexidade de muitas camadas do território que é a Bahia, explorando tanto seus aspectos belos quanto seus desafios.

Em um olhar retrospectivo, percebi que  tinha universo surgindo. Em um dado momento, precebo que minhas últimas 10 músicas eram sobre ser e estar em Salvador. E que existiam linhas de abordagem distintas nesse conjunto de canção. Então a partir dessa percepção de desse processo espontâneo, que racionalizei e dei corpo e formato. 

E essa ambivalência no olhar sobre Salvador me fez entender que tinha uma série em mãos. Essa série começou com “Na Cocó,” trazendo uma abordagem de crítica social à cidade. 

2. O título Na Cocó é uma expressão baiana que traz a ideia de um ataque furtivo. Como esse conceito reflete a essência do seu disco e o que você quer comunicar com ele?

O termo Na Cocó representa esse ataque que não é muito aparente, algo sutil e discreto. E é justamente isso que tento imprimir musicalmente: embora seja um álbum de crítica social, ele não tem um clima sombrio. Através dos ritmos e batidas dançantes, ou do tom satírico de algumas letras, a ideia é levar a sensação para outro lugar. Na faixa Eles Não Ligam Pra Gente, por exemplo, falo de uma experiência com violência policial em um dancehall com arranjos luminosos, batida dançante e tom de deboche.

Quase como um cavalo de Troia, Na Cocó é uma semente de crítica social que tenta se enraizar aos poucos, numa estratégia que se aproxima desse ataque não aparente que o título e a capa simbolizam.

3. As músicas do álbum trazem influências de samba reggae, dancehall, ijexá e kuduro. Como foi o processo de combinar essas referências locais e internacionais para criar uma sonoridade única?

A Bahia é um território portuário. Historicamente, quase o mundo todo passou por aqui. Essa Bahia de Todos os Santos recebeu os mais variados povos e troncos linguísticos ao longo da história. Se pensamos na diáspora negra, foram inúmeros os troncos linguísticos e códigos culturais que desembarcaram aqui, coexistindo com a cosmovisão dos povos originários do Brasil e dos lusitanos, e se transformando em algo genuinamente brasileiro. O mundo inteiro se encontrou e se transformou aqui. Isso se reflete naturalmente na minha música.

Por isso, o processo de colocar lado a lado um dancehall, kuduro, samba reggae e ijexá acontece de forma muito espontânea para mim. Não é algo racional ou planejado. Para mim, é natural, quase um reflexo de ser baiano.

4. Em Voz da Terra, você incluiu depoimentos e vozes de figuras icônicas de Salvador. O que inspirou essa escolha, e o que essas vozes representam para você?

Voz da Terra é uma coleta afetiva de vozes e símbolos que habitam o imaginário baiano desde a adolescência e infância. Ao mesmo tempo, é como uma antena ligada, captando as questões, inquietudes e vozes que representam os problemas contemporâneos da cidade. Esse mix de uma antena sintonizada com o presente e outra conectada ao passado afetivo começa com a voz do meu pai, refletindo sobre o que significa ser baiano, quase de forma etimológica.

A faixa então se mistura com vozes de pensadores modernos, como James Martins, e um intelectual do panteão baiano, como Cid Teixeira. Também inclui vozes de Carla Akotirene, Gerônimo Santana e vozes populares — aquelas que surgem em um jornal, reclamando de algo, ou até mesmo vozes que viram memes na internet. Esse amálgama de vozes tenta encarar uma Bahia que não é fácil, uma Bahia que tem muitas camadas e é complexa.

5. Ambivalente fala sobre as desigualdades sociais em Salvador. Como a sua vivência na Cidade Baixa influenciou sua visão sobre esses contrastes?

A minha vivência na Cidade Baixa revela a desigualdade em Salvador de maneira direta, visível mesmo para um olhar distraído. Por exemplo, em um simples trajeto de ônibus entre a Cidade Baixa e a Cidade Alta, a desigualdade salta à vista. Do Bonfim para a Cidade Alta, passando pelo Largo de Mares, à direita vemos um corredor de lojas de eletrodomésticos e iluminação; à esquerda, uma fileira de pessoas em situação de rua, dormindo em condições precárias. Esse contraste faz parte da paisagem da cidade. Não se trata apenas de uma visão triste, mas de uma realidade que permeia a vida urbana.

Esses contrastes também se intensificam no Carnaval. No circuito carnavalesco, tudo é potencializado: a alegria, o fervor, mas também as desigualdades. O ‘apartheid’ social se torna evidente. Basta uma fotografia para entender onde estão os lugares de poder, de ocupação e de exclusão no Carnaval. E se você analisar os dados de remuneração dos trabalhadores e trabalhadoras das mais variadas escalas do Carnaval, percebe ainda mais essa disparidade.

Esse olhar atento para as desigualdades, eu não sei ao certo quando começou, mas posso dizer que uma influência direta foi o meu pai, cuja presença é marcante neste álbum. Ele abre o disco com sua voz em um registro antigo de uma entrevista. Meu pai me ensinou a enxergar essas desigualdades. Ele criou um projeto chamado Escola Flutuante, que incluía uma ação chamada Salvador Frontal. Nesse projeto, ele levava alunos de escolas públicas em um barco pela costa de Salvador, mostrando os contrastes da cidade. Ele começava no Corredor da Vitória, com seus prédios e decks de luxo, e seguia até Alagados, na Cidade Baixa, onde o cenário muda para palafitas tortas e condições de moradia precárias. Esse percurso de contrastes está presente também em ‘Ambivalente,’ uma das faixas do álbum. Então, essas desigualdades fluem como água pela cidade.

6. A faixa Caldo de Sururu apresenta uma visão crítica sobre o turismo em Salvador. Como você enxerga o impacto do turismo na vida dos moradores da cidade?

A faixa “Caldo de Sururu” é uma crítica ao impacto do turismo em Salvador e aos contrastes entre as experiências do turista e do morador. Salvador é vendida como um paraíso tropical, um lugar onde o turista pode relaxar, aproveitar a paisagem e ter acesso a uma cultura local envolvente. Mas, para o morador, que embora desfrute também das belezas da cidade, a realidade é outra.

Eu acredito que deveríamos tratar esses temas com mais franqueza, reconhecer que essa economia afeta a cidade de formas complexas e, muitas vezes, injustas.

O impulso para essa crítica na música surgiu de uma vivência de raiva e angústia que eu tive em um trabalho na área de publicidade. Estava com uma equipe de fora, incluindo uma pessoa que ostentava uma bolsa de mais de 10 mil reais. Enquanto estávamos na praia, um vendedor local passou oferecendo queijo coalho, anunciando o preço: três queijos por 12 reais. E essa pessoa imediatamente quis barganhar, oferecendo 10 reais. Quando o vendedor explicou que esse valor não cobriria seus custos e o mínimo de lucro, ela insistiu, mentindo que outros vendedores haviam aceitado esse preço, quando eu sabia que isso não era verdade, pois estava ali o tempo todo.

Essa cena me marcou profundamente, porque ela exemplifica uma cultura de turismo predatória e exploradora. Mesmo pessoas com poder aquisitivo alto tentam extrair o máximo, pagando o mínimo aqui, sem considerar o impacto sobre a vida de quem sustenta esse cenário turístico. Esse episódio reflete o que a música “Caldo de Sururu” quer transmitir: que os trabalhadores locais, sob o sol e com muito esforço, sustentam essa imagem de paraíso para que o turista possa aproveitar.

7. Em Eles Não Ligam Pra Gente (Michael), você se inspira na memória coletiva do clipe de Michael Jackson no Pelourinho. Qual foi o impacto desse momento na sua vida e na comunidade de Salvador?

Quando o clipe de They Don’t Care About Us foi gravado aqui em Salvador, em 1996, eu era criança, com pouco mais de 5 anos. Embora eu não tivesse noção do que aquele clipe representava na época, hoje sei que ele foi um marco na vida da cidade, do Pelourinho e do samba reggae. 

Tanto que o Olodum ecoa pelo mundo, muito também devido a esse episódio. Esse trabalho é, para mim, uma das coisas mais potentes que já aconteceram aqui.

No primeiro contato que tive com o clipe, ainda como criança e depois como adolescente, eu não entendia todas as camadas que ele trazia. Ver Michael Jackson, um astro global, ali no Pelourinho, misturando sua voz com o Olodum e o samba reggae, apontando uma crítica social, era algo grandioso, mas que eu só fui compreender realmente com o tempo. Esse clipe envelheceu muito bem

. Inclusive na minha visão inicial de criança, eu via apenas um astro pop branco cantando. 

Michael estava na fase em que sua pele tinha menos melanina, e esse aspecto mascarava um pouco as camadas da mensagem.

Mas, ao passar do tempo, percebi a profundidade do que estava acontecendo ali. Estamos falando de um homem negro, no meio de um movimento negro, em um bairro negro, cantando sobre problemas que afetam a população negra. Há uma cena muito potente de Michael Jackson gritando no ouvido de um policial – Pra mim ali é a critica gritando na cara estado. Essa imagem, ao som do samba reggae, é cheia de simbolismo e resistência.

Além disso, o clipe traz uma frase em português, uma voz feminina que diz: “Michael, eles não ligam pra gente.” Essa frase ficou, tanto quanto o próprio clipe. Em 2023, eu fui atravessado novamente por essa frase e fiz dela o refrão da minha música.

A minha inspiração nessa canção se origina de experiência pessoal de abordagem violenta pela polícia. Eu só consegui costurar essa narrativa ao ouvir uma entrevista de Carla Akotirene no programa BahiaCast, onde ela aborda isso a partir de umas perspectiva estrutural. Esse momento me ajudou a compreender que minha experiência não era isolada, mas parte de uma teia maior, que liga a todos nós. Assim, essa inspiração e esse entendimento me fizeram recorrer à memória da frase e do clipe de Michael Jackson para dar voz a essa realidade e reforçar a crítica social que ele representava.

Aqui está a resposta completa com a pergunta:

8. Praça do Reggae serve como um manifesto sobre a exclusão social e a gentrificação. Qual é a sua visão sobre a transformação de espaços históricos como a Praça do Reggae?

A Praça do Reggae é um exemplo moderno e doloroso do abandono cultural e histórico em Salvador. Era um lugar de cultura e entretenimento no centro da cidade. A perda desse espaço evidencia o modo como a cidade lida com locais de valor cultural como esse e, em contrapartida, investe em projetos estéreis e artificiais.

A cidade não se assume como um verdadeiro memorial de si mesma, apesar de viver de sua própria idade histórica. O Pelourinho é um exemplo emblemático: ele é um chão carregado de memória, palco de castigos e punições ao povo negro escravizado. No entanto, essa história fica quase invisível para quem passa por ali. É raro que as pessoas saibam o que realmente aconteceu naquele lugar. Salvador lida mal com sua história e falha em transformar seu próprio chão em um espaço de memória que faça jus ao seu passado.

Na faixa Praça do Reggae, trago duas vozes que representam essa discussão: a do geógrafo Milton Santos e a do urbanista Apoena Ferreira. 

9. A canção Madeira traz uma forte crítica à exploração colonial e suas continuidades. Qual é a importância de abordar temas históricos e coloniais na música hoje?

É muito importante abordar temas históricos, pois eles nos ajudam a entender que os sistemas e engrenagens de opressão que vivemos hoje são uma continuação de um modelo do passado. A música Madeira, nesse álbum, cumpre esse papel ao mostrar que essa estrutura de exploração não é algo que nasceu agora. Ela é um modelo que se atualiza, se camufla, se adapta, mas ainda assim permanece exploratório.

Madeira não só faz essa volta ao passado para entender a continuidade desse processo, mas também aponta que essa sociedade violenta – ou esse povo violento – é um produto desse modelo exploratório. Como diz a própria música, “sou fera ferida que desce a madeira.” Esse verso reflete o efeito de causa e consequência, mostrando que somos uma sociedade violenta porque somos violentadas. Ao revisitar o Brasil dos séculos passados, a canção passa rapidamente por 5 séculos de exploração que deixaram marcas profundas e moldou a sociedade que temos. Pensar o Brasil a partir de sua história colonial nos permite enxergar essas continuidades e, quem sabe, entender melhor o Brasil do século XXI, buscando formas de resistência inspiradas na luta daquelas que vieram antes de nós.

10. Na faixa Haverá Doce, você encerra o álbum com uma mensagem de esperança. Como essa esperança se manifesta na sua visão de Salvador e da cultura baiana?

O álbum Na Cocó faz parte de uma série chamada Ambivalente . Eu percebi que não conseguiria falar sobre Salvador a partir de uma perspectiva única; seria até contraditório, considerando que o álbum explora essa cidade de múltiplas camadas e complexidades. Será Doce cumpre um papel importante nesse sentido: ela funciona como o último capítulo de uma temporada, fazendo uma ponte com o que está por vir.

Essa faixa, além de se encaixar no universo de Na Cocó – até porque é uma ramificação do verso de outra música – também abre caminho para uma nova visão.

11. Além de cantor e compositor, você também é fotógrafo. Como essa experiência visual influencia seu processo criativo na música?

Tanto a música como a fotografia, para mim, são dois fazeres complementares. A separação entre elas acontece mais por uma demanda profissional e institucional. Na verdade, as inquietações que me atravessam enquanto artista visual são as mesmas que me movem como músico e compositor. Estamos falando do mesmo corpo, da mesma cabeça, das mesmas memórias afetivas. Minha música alimenta minha fotografia e minha fotografia alimenta minha música. Não só as minhas, as fotografias de outras pessoas também inspiram minhas composições, assim como a música de outros artistas já serviu de adubo para o meu olhar fotográfico.

Dorival Caymmi, por exemplo, desenha com a música. É possível visualizar cenas completas em suas canções, como um pescador no mar ou um cenário praieiro. Ele tem essa habilidade de pincelar histórias através da música, e isso me inspira a conectar minhas criações em diferentes linguagens.

Na minha carreira de fotógrafo, recebi recentemente o Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger, com o tema “As Caretas do Mingau”, uma manifestação cultural de Saubara, terra da minha família materna. Na música “Maria Filipa,” essa manifestação cultural ilustra e expande o sentido da música no videoclipe. Essa é uma prova de como esses fazeres coexistem em harmonia, se misturando e se nutrindo mutuamente.

Outro ponto importante é a capa do álbum. A concepção do universo musical e temático de “Na Cocó” surgiu primeiro, e depois busquei ilustrar esse cenário com uma fotografia que sintetizasse a proposta do título e a atmosfera do álbum. Nesse caso, a fotografia está diretamente conectada com o pensamento sonoro e visual do projeto, criando um diálogo entre a imagem e o som.

12. Desde seu primeiro EP Flutuântico, você vem lançando trabalhos que exploram a conexão entre ancestralidade e contemporaneidade. Como você vê essa relação no seu desenvolvimento como artista?

Olhar para o meu desenvolvimento é uma tarefa difícil, porque é uma análise de um presente. Mas vamos lá. Pegando o gancho da própria pergunta, sinto que essa mistura entre ancestralidade e contemporaneidade está cada vez mais afinada e afiada no meu trabalho. Tento, quase que em cada estrofe, não abdicar nem do presente, nem do passado. É um processo, uma dança que venho fazendo e que busco intensificar cada vez mais.

Essa mistura se dá tanto tematicamente quanto ritmicamente. Por exemplo, na música “Madeira,” eu pulo, no mesmo verso, do século XV para o século XX, ou no verso “Mariele vive em Maria Felipa.” Ou quando trago beats eletrônicos, sintetizadores e efeitos que são abraçados por toques e ritmos ancestrais que já existiam há muito tempo. Essa maneira de “gingar musicalmente” nos tempos tem sido algo que tenho percebido maturação em mim. Meu desenvolvimento está ligado a essa consciência, a entender para onde ir e como estou caminhando.

13. O que você espera que o público sinta ou reflita ao ouvir Na Cocó?

Eu desejo que Na Cocó possibilite ao público sentir uma Salvador complexa, uma cidade que não está nem no outdoor, nem nas propagandas sobre a cidade, e nem na grande maioria das músicas que falam sobre a cidade. A intenção com Na Cocó é mostrar a cidade a partir da perspectiva de um morador, que sabe do caos da capital, mas que também vê as belezas do litoral.

Na Cocó quer abarcar as muitas camadas que constituem o território – num processo histórico, arquitetônico, cultural e na vivência civil de quem mora aqui e realmente conhece a cidade. E volto a pontuar que o álbum oferece uma possibilidade, uma visão, um ponto de vista de Salvador que não aparece nem mesmo na música baiana contemporânea, salvo algumas boas exceções.

14. Você mencionou que o nome Xauim representa a busca por equilíbrio entre as vibrações naturais e urbanas. Como você integra essa ideia na sua música e na sua vida cotidiana?

Exato. Há essa busca, sim, cada vez mais, mas está longe de esse equilíbrio acontecer. Eu ainda me considero muito urbano, um “bicho da urbanidade.”  Quando digo que é a busca do equilíbrio das coisas naturais, quero me lembrar que, antes do concreto ser levantado, isso aqui é terra: terra, água, vento, planta, folhas. Então, a busca também vem dessa consciência do chão que a gente ocupa. Quando menciono minha busca por equilíbrio entre os circuitos da cidade e as vibrações da mata, estou falando não só de fauna e flora, mas também de ancestrais, de povos originários, de vibrações de um Toré, ou de uma mitologia indígena.

Essa é uma busca constante, que está longe de estar equilibrada. Há muito caminho pela frente. Hoje, essa busca aparece em alguns vetores. Um vetor cotidiano é tentar me ouvir, deixar meu instinto falar também, minhas intuições. Coisas que talvez a cidade, a correria e as engrenagens capitalistas ofusquem. Essa intuição é quase um oráculo próprio.

Essa é uma luta minha intensa e tento me desamarrar desses engessamentos que o ritmo da vida na capital traz para buscar outras possibilidades de fazer e outros tempos de maturação.

Nesse processo de se desvencilhar do modelo que o mundo moderno impõe, a música se apresenta como um veículo, um lugar onde a intuição dança e fala mais alto A música acaba sendo meu maior instrumento para buscar esse equilíbrio, e dentro dela também tento equilibrar o melhor de cada coisa.

Então, é por aí. Mas quero cada vez mais. Ainda é muito assimétrico o meu chão no concreto e o meu chão na terra, não só fisicamente, mas a nível de epistemologia, de cosmovisão de como é ser e estar mundo