Entrevista: Raquel Durães, escritora e musicista
1) Como surgiu a inspiração para transformar o conto infantil, que já tinha mais de 170 mil visualizações no YouTube, em um livro físico?
A inspiração surgiu da vontade de ter minha coleção de audiobooks, “Histórias Que Voam”, no papel, com o QR Code para as histórias narradas e sonorizadas por mim. As músicas que estão lá também são de minha autoria. São 18 histórias! E os pedidos vindos de professores, pedagogos e coordenadoras do ensino infantil e fundamental foram mais um incentivo para que eu tomasse essa decisão.
2) Uma História Africana mergulha nas riquezas culturais do Arquipélago de Bijagós. Pode compartilhar conosco a importância de apresentar essa cultura de maneira acessível às crianças?
O meu texto enfatiza não só as riquezas culturais, mas também a diversidade da natureza. Educar para a preservação desses bens.
3) No livro, há uma ênfase na preservação da natureza e na sabedoria dos povos ancestrais. Como esses elementos são fundamentais na narrativa e na mensagem que deseja transmitir?
Vivemos num mundo caótico em que se faz necessário e urgente, que as crianças e todos nós, tenhamos conhecimento de que não haverá futuro sem a preservação do meio ambiente. E que a cultura de um povo é a sua identidade.
4) Gabu e Mali, os protagonistas, passam por experiências como a construção de suas próprias casas e a tradição de escolher maridos através de uma refeição. Como esses aspectos se entrelaçam na história e influenciam o desenvolvimento das personagens?
A ilha de Orango tem uma sociedade matriarcal. Eu quis falar da força da mulher que chefia, que escolhe o marido e constrói sua própria casa. E que nesta sociedade o homem respeita e admira essa mulher. E isso Gabu aprendeu com seu pai pela tradição oral.
5) As ilustrações de Vinicius Passos desempenham um papel crucial na experiência do leitor. Como a colaboração com o ilustrador contribuiu para a representação visual do universo africano presente no livro?
Vinícius Passos foi muito sensível à narrativa com todas aquelas cores exuberantes e padrões da cultura africana. Com graça e beleza!
6) Além de autora, você é educadora musical e compositora. Como sua experiência na música se reflete na abordagem educativa do livro?
De que a música salva! Expressar nossas alegrias e tristezas tocando, dançando e cantando, é terapêutico, lúdico e transformador.
7) Você foi indicada ao Grammy Latino em 2008 e premiada no Sanremo Videoclipe Awards em 2020. Como essas experiências influenciaram sua jornada na literatura infantil?
A indicação ao Grammy foi pelo meu primeiro CD solo de acalantos “Hora de Dormir”. Lá estão temas instrumentais e canções para os pequeninos. Foi um grande passo para pensar em literatura infantil, já que todas as letras são de minha autoria. Já a premiação na Itália foi com uma canção para o público adulto: Beijinhos à Beira-mar.
8) Ao longo das 24 páginas, as crianças descobrem a importância de sonhar e ser autênticas. Que mensagem específica espera transmitir para os jovens leitores?
O objetivo é que eles reflitam sobre tradição, preservação do meio ambiente, fraternidade… E que ninguém precisa ser forte e corajoso o tempo todo.
9) Algumas pessoas argumentam que histórias infantis devem evitar temas culturais complexos. Como responde a essas críticas e por que escolheu abordar a cultura africana?
Tudo é uma questão de como o escritor aborda o assunto. Eu escrevi sobre 2 crianças na sociedade em que vivem na Ilha de Orango – África. Assim como escrevi histórias que se passam na América do Sul e na Europa.
10) Quais foram os principais desafios criativos ao adaptar um conto visualmente rico para um formato físico, mantendo a essência e o encanto original?
Foi muito simples. São as mesmas ilustrações do vídeo de sucesso, o mesmo texto e traz o QR Code para minha narração da história sonorizada. Ficou uma beleza!
11) Se Gabu e Mali fossem músicos, que instrumentos acha que escolheriam?
Gabu e Mali desde muito cedo já ouviam suas mães cantando e tocando as músicas tradicionais infantis da Guiné-Bissau. O simbi, o bensumi e o tokorongh são instrumentos que vem do Egito há 5000 anos, no mínimo. Eles naturalmente começariam por aí, mas poderiam desenvolver interesse por flauta, contrabaixo, violão, trombone, etc.
12) Se o livro fosse transformado em um espetáculo musical, qual seria a música tema de Gabu e Mali?
Eu teria imensa alegria em compor a música tema do musical. Um tema suave com acompanhamento instrumental, característico daquela região
13) Se o Arquipélago de Bijagós tivesse um hino musical, como seria?
Seria um hino exaltando a natureza e a força da mulher.