1. Você pode nos contar o que inspirou a criação de Vermelho e o que te atraiu para o universo BDSM como tema central da narrativa?
Escrevi o livro no auge da pandemia, então acredito que a necessidade da distância do outro, na época da quarentena, fez com que eu pensasse sobre proximidade e confiança. Acredito que as dinâmicas BDSM seriam o nível máximo dessa confiança, pois envolvem práticas violentas, que demandam extrema entrega.
2. O livro explora profundamente os limites do desejo e do consentimento. Como foi o processo de pesquisa para abordar esses temas complexos e polêmicos?
Conversei com muitos praticantes e visitei ambientes de prática, assim que a pandemia aliviou. Isso me deu mais respaldo e entendimento sobre como essas pessoas lidam com seus desejos.
3. Em Vermelho, você usa quatro perspectivas para narrar a história. Qual foi o desafio de interligar essas diferentes vozes e pontos de vista dentro da trama?
Não acho que, necessariamente, as vozes precisem ser interligadas. O interessante é exatamente que as perspectivas das personagens sejam diferentes em relação ao tema.
4. O conceito de moralidade e perversão é central em seu livro. Como você vê a linha entre o comportamento sexual e o transtorno parafílico?
Tudo tem a ver com quantidade e o quanto isso afeta sua vida e sanidade.
5. Você comenta que Vermelho é um convite para questionar os próprios desejos. Como espera que os leitores se relacionem com esses questionamentos?
Estando abertos para ouvir o que os personagens têm a dizer. Aprendendo com os erros deles.
6. O livro também toca na relação entre dor e prazer no contexto do BDSM. Como você aborda essa dualidade entre Eros e Thanatos na narrativa?
Deixando claro que tudo está interligado e misturado.
7. A figura do moralista e do pervertido está presente em Vermelho. Como você acredita que a sociedade vê e julga esses personagens?
Engraçado que, através dos olhos da sociedade, acredito que eles se encontrem nos extremos. O moralista é um pervertido encoberto e o pervertido sempre vai ter algum limite.
8. O que você considera mais desafiador em narrativas que exploram o psicológico e o comportamento humano de forma tão intensa?
Ser o autor. Hahahaha não é fácil escrever um livro desses sem ir parar em um hospital psiquiátrico.
9. Sua experiência em psicanálise influenciou a escrita de Vermelho? De que forma ela contribuiu para explorar a psicologia dos personagens?
Um pouco menos. Acredito que este seja um livro mais violento do que psicanalítico, ainda que traumas das personagens tenham sido constituintes para a discussão que o livro traz.
10. A sua parceria com diretores como Fernando Sanches e Heitor Dhalia trouxe prêmios e visibilidade. Como o cinema e a literatura se complementam em sua carreira?
Eles coexistem, mas não acho que se complementam.
11. Além de Vermelho, seus trabalhos anteriores também exploram temas sombrios e complexos. O que você acha que atrai leitores para essas temáticas?
O fato de quererem entender a própria perversão.
12. Quais foram os maiores desafios que você enfrentou durante o processo de escrita de Vermelho?
O maior deles foi contestar a minha própria moral.
13. Para você, quais são as maiores limitações ou tabus que ainda precisam ser quebrados em discussões sobre sexualidade e moralidade?
Precisamos entender que a liberdade plena é uma ilusão e as bordas são importantes.
14. Existem planos para uma adaptação de Vermelho para o cinema ou streaming, como foi com outras obras suas?
Há planos. Espero que sim.
15. Por fim, o que você espera que os leitores levem consigo ao final da leitura de Vermelho?
Um choque que rompa com os padrões sejam eles quais forem.