Entrevista: Mônica Cereser, médica e escritora

1. Dra. Mônica, “Se eu soubesse” é apresentado como um guia para os desafios da maternidade. Como você acha que suas experiências como psiquiatra influenciaram a abordagem deste livro?
Unindo a experiência clínica e certa perspicácia pessoal, compartilho ‘insights’ valiosos e transformadores que, certamente, teriam orientado minha abordagem à maternidade de uma maneira ainda mais positiva.
2. Em seu livro, você menciona que deseja que as mães possam priorizar a si mesmas e criar filhos emocionalmente mais completos. Como você aconselharia uma mãe a encontrar esse equilíbrio entre suas necessidades e as demandas da maternidade?
O equilibro vem do autoconhecimento. A ideia com o livro é que as mães busquem esse conhecimento e entendam quais sao seus tracos de carater e sua personalidade, como elas lidam com as próprias emoções, como aprenderam a lidar com a sua “criança interior”. Com esse conhecimento elas conseguem se posicionar, se priorizar, e gerar um modelo para seus filhos.
3 .”Se eu soubesse” é descrito como um presente perfeito para o Dia das Mães. Que mensagem específica você espera transmitir para as mães que recebem este livro como presente?
As inseguranças e cobranças existem, mas elas não precisam ser tão intensas e gerar tanta dor nessas maes.o importante é que elas possam também desempenhar os inúmeros papeis que possiem em suas vidas alem do ser mae.
4. Você mencionou que as informações contidas no seu guia poderiam ter sido úteis quando teve seus próprios filhos. Quais são algumas das lições mais importantes que você aprendeu como mãe que gostaria de compartilhar com outras?
Eu não tinha a dimensão de que estava vivendo um stress intenso. Quando estamos estressados vivemos no piloto automatico e assim nao focamos em solucoes mas muitas vezes ficamoa no problema .Eu não entendia que poderia pedir ajuda, que não precisa ser perfeita. Ficar mais no presente e não no passado. E trabalhar também a assertividade. Dizer mais não, pois disse muitos sim querendo dizer nao .
5. Como psiquiatra, você provavelmente teve contato com muitas mães que enfrentavam estresse, depressão ou ansiedade. Como você espera que seu livro ajude essas mães a lidarem com esses desafios?
Espero que sim. Desejo que estas mães possam se priorizar e criar filhos mais inteiros emocionalmente, sem ter que se despedaçar te tando ser a super mae e agradar a todos, querendo ser perfeita e forte o tempo todo.nao existe mae perfeita.
6. Quais são os principais mitos ou equívocos sobre a maternidade que você espera desmistificar com “Se eu soubesse”?
O principal mito é que eu não posso ter tempo para mim, como mulher, amiga, filha etc. O livro mostra que a mãe pode também desempenhar outros papéis: esposa, amiga, irmã e o de mãe. O outro é que eu tenho que fazer tudo para o meu filho para que ele não sofra. A gente se equivoca com isso. Precisa mostrar para o filho que ele precisa se frustrar. Quando a mãe superprotege, ela está dizendo a ele que não é capaz. Isso é bem grave, porque gera pessoas incapazes, inseguras, que evitam ir para vida, as vezes até, de ter um relacionamento saudavel sem dependência.
7. Ao longo de sua carreira, você se especializou em psiquiatria infantil e adolescente. Como essa experiência influenciou sua compreensão dos desafios enfrentados pelas mães?
Minha paixão por criança sempre foi grande e quando passei a atender como psiquiatra infantil, eu comecei a perceber que muitas das mães que chegavam com uma criança “problema”, na verdade o “problema” era a mãe que não sabia se posicionar no papel de mãe. Dentro dela havia uma “criança ferida” que vem à tona. Os pais precisam tratar suas questões para serem modelos para esses filhos. Quando a criança chega nessas condições, acabam sendo o termômetro de uma família disfuncional
8. Além de ser autora, você também é coautora de diversos livros e capítulos relacionados à psiquiatria e à parentalidade. Como você vê a interseção entre sua prática clínica e sua atividade como escritora?
Na prática clínica pude colocar ver a importância da autorregulação e de perceber de quando elas estão perdendo a capacidade de lidar com as emoções. Aí elas entram num ciclo vicioso de só reagir e não parar para pensar. Aprendi muito com o trabalho de stress e com a minha mentora, Marilda Lipp a entender que as maes precisam mtas vezes chegar na exaustao p pedir ajudar .
9. Como você acha que as experiências compartilhadas em “Se eu soubesse” podem contribuir para uma conversa mais aberta sobre saúde mental materna?
Quando a gente pensa em saúde mental, falamos no equilíbrio entre os 4 quadrantes da qualidade de vida: social, afetivo, profissional e saúde. Quando pensamos neles, falamos de alguém que está distribuindo sua energia em cada um desses quadrantes de maneira equilibrada. Ela também traz propriedades de que estamos aqui para cuidar de nós mesmas e não agradar os outros o tempo todo. E colocar energia em lugares em que você nao se desgastar.Falamos também sobre a importância de estar lidando com o mau comportamento de uma criança eo que fazer com ele.Muitas vezes esse comportamento é a criana que está chamando a atenção para ser ouvida Vista respeitada acolhida em sua necessidade.
10. Como médica, mãe e autora, qual mensagem final você gostaria de deixar para as mães que estão lendo ou considerando ler o seu livro?
Na medida em que a gente se conhece, se respeita, trabalha a si mesma com amorosidade, aceita sua vulnerabilidade, essas mães conseguem ser mais felizes e sendo uma mãe mais feliz, criara um filho mais seguro e mais ok emocionalmente.
11. Dra. Mônica, se você pudesse ser uma mãe de desenho animado, quem você seria?
Eu seria a mulher elástica dos incríveis
12. Qual é o seu superpoder secreto para acalmar um bebê chorando?
Na medida que a mãe está mais calma, o bebê sente essa energia. O segredo é se acalmar. Nós não somos só matéria, somos também energia e o bebê sente isso.
13. Se você tivesse que escolher entre trocar fraldas por um dia inteiro ou participar de uma reunião de 12 horas ?
no mundo ideal, é trocar fraldas, porque a presença da mãe na primeira fase dos 0 ao 3 anos por ex,é importante. Mas isso também não pode gerar uma culpa caso vc nao consiga ficar c seu filho pois tem q trabalhar
14. Algumas pessoas argumentam que a maternidade é romantizada na sociedade. Você concorda com essa afirmação?
Eu acho que sob um prisma sim. Se deposita na mãe uma série de cobranças. Maternidade não é isso. O exercício da maternagem é cuidar. E eu não consigo cuidar do outro, sem cuidar de si.
15. Como psiquiatra, qual é sua opinião sobre o debate em torno do uso de medicamentos para tratar questões de saúde mental pós-parto?
Já tive vários pacientes que precisaram tomar a medicação nos primeiros meses e sempre a gente teoriza: é possível não tomar a medicação nos 3 primeiros meses? Mas a consequência do risco da não medicação se for maior, é preciso medicá-la. Tudo depende de cada caso. Mas se há necessidade, o risco pode ser maior devemos usar
16. Em sua opinião, a pressão da sociedade sobre as mulheres para serem mães perfeitas contribui para problemas de saúde mental?
Eu acho que contribui, dependendo dos traços dessa mulher. Há mulheres que são muito competitivas. O mito da mãe perfeita pode sim contribuir
17. Dra. Mônica, como sua formação em psiquiatria influenciou sua abordagem à escrita de livros sobre maternidade e saúde mental?
O que mais me chamou atenção nesse tema é como eu posso ajudar: identificar a criança ferida dessas mães e ajudar. Para que elas possam se conhecer, criando assim filhos mais resolvidos e sem probabilidade de desenvolver transtornos emocionais.
18. Você pode nos contar sobre um momento significativo em sua carreira que moldou sua visão sobre a maternidade e a saúde mental?
Esse momento já me acompanha há muito tempo. Cuidar dos pais, antes de cuidar das crianças. Se a mãe não está preparada, fica muito mais complicado. Trabalhei com Dr. Fernando Freitas que me trouxe a questão dos papéis: qual o papel da mãe, a função dela. Até que momento tenho esse papel. Em algum momento é preciso “empurrar” o filho para vida. Entendi que preciso colocar cada um no seu papel. Você vê muita família com papéis invertidos.
19. Como você equilibra suas responsabilidades clínicas com seu trabalho como autora e coautora de livros?
Eu não faço mais atendimentos clínicos. Meu trabalho tem foco no workshop de babás, treinamento com mães com método cognitivo, minha formação acadêmica e orientadora parental. Gosto de chamar esse novo trabalho que estou desenvolvendo alguém que está ajudando mães para se conhecerem melhor e estarem inteiras nos papéis que exercem e serem pessoas mais felizes para criar filhos mais felizes
