Entrevista: Jones, cantor e compositor

1. Jones, como foi o processo de criação e produção do seu álbum “Só o  Começo”? Quais foram suas principais fontes de inspiração ao longo desses  dois anos? 

Foi um processo longo e intenso. Os primeiros 6 meses foi de produção  e composição em massa. Fiz várias sessões sozinho e também em camping  com outros artistas e amigos. Levantei cerca de 50 músicas novas e resgatei  algumas idéias picadas que tinha guardado. Com o tempo fui selecionando as  melhores para produzir e no meio do caminho surgiram novas idéias que  acabaram entrando no álbum, como a faixa ‘Parar de Sonhar’, que fala muito  bem do seu conceito. Foi uma grande imersão com o meu amigo e produtor  Pedro Lintz e tive que abrir mão de 1 ano e meio de contato social, festas, etc.  Basicamente eu apenas trabalhei e saía de casa apenas para praticar esporte.  Foi um período em que precisei focar muito na saúde e no processo do álbum.  As minhas motivações e inspirações foram situações marcantes que  aconteceram na minha vida e a vontade de falar com o mundo sobre o caminho  da vida e a busca do propósito. Questionei a forma como vivemos hoje.  

2. Você mencionou que o álbum é uma jornada pessoal de autodescobrimento.  Como essas experiências pessoais se refletem nas letras e na sonoridade do  disco? 

As letras são bem sinceras. As vezes eu falo coisas que eu sempre quis falar  mas não conseguia. Elas também contam casos de relacionamentos e dos  pensamentos que eu tinha em certos momentos da vida. Por contar tantas  histórias o álbum se tornou uma jornada e a sua sonoridade foi influenciada por  isso. Ele começa mais feliz e esperançoso e vai ficando mais denso e sério,  como é a vida.  

3. O projeto é descrito como um álbum conceitual, dividido em quatro atos.  Pode nos contar um pouco mais sobre a estrutura e o significado por trás  desses atos? 

Os quatro atos resumem uma jornada. O primeiro é a introdução e fala sobre o  nascimento. É o momento que explica o porquê do álbum existir: eu estou me  reconectando à minha essência em um mundo caótico e perdido. O segundo  ato é a parte mais feliz e animada. Começamos a formar nossa personalidade  descobrindo os prazeres da vida de forma leve e engraçada. Nada pode nos  machucar. No terceiro momento a jornada começa a ficar complicada. É  quando descobrimos o que vem depois do prazer: depressão, ansiedade, raiva.  A busca do prazer deixa de ser apenas pelo prazer, mas também para fugir da  dor. Isso naturalmente nos leva ao último ato do álbum, que é quando  questionamos a nossa existência, o nosso propósito. Nessa fase tudo o que 

achávamos que era a vida se desmorona. Representa a morte. E a morte nos  leva ao renascimento. Encontramos o que achamos ser a razão da vida, e é aí  que começa.  

4. Em “Só o Começo”, você explora uma variedade de estilos musicais, desde  MPB até o rap, pop e influências de Daft Punk. Como foi a experiência de  mesclar esses diferentes gêneros em um único trabalho? 

Foi desafiador, pois tanta influência diferente precisava fazer sentido junto. O  próprio conceito do álbum, de ser uma jornada, ajudou nesse objetivo. A vida é  assim, não somos uma coisa só. E nesse trabalho eu estou mostrando quem eu  sou hoje. Vivemos coisas completamente diferentes todos os dias e eu me  identifico com todas elas. Foi bem gratificante poder me expressar de diversas  formas no mesmo álbum e a minha identidade está em todas as músicas. 

5. A capa do álbum foi inspirada na primeira carta do tarot, simbolizando o  início de uma jornada emocional e espiritual. Como você relaciona essa jornada  com a sua própria trajetória na música? 

Eu bebi de várias fontes. Quando criança eu escutava muito Rock internacional,  MPB, reggae e pop nacional. Com o tempo fui descobrindo novos estilos e me  identifiquei muito com o rap e o eletrônico. Isso se manifestou quando me  tornei produtor musical. Trabalho com diversos artistas de nichos diferentes e  eu sempre me encontro neles. Não poderia começar de forma diferente no meu  primeiro trabalho solo. 

6. Sua colaboração com artistas como Alok, Djonga, Lagum e KVSH já é  conhecida. Como essas experiências colaborativas influenciaram sua  abordagem na produção do seu álbum solo? 

As pessoas sempre me relacionaram muito a esses artistas, mas sempre  notaram a minha identidade nos seus trabalhos. No meu álbum eu pude me  expressar mais, fazer tudo como eu queria. É o meu projeto e isso é muito  gratificante. A produção é mais livre. As músicas tem estruturas nada  convencionais e eu misturo timbres que eu amo e que para mim fazem sentido  estarem juntos. Sinto que fiz um trabalho muito rico.  

7. Você mencionou que o álbum promove reflexões sobre temas como amor,  vida, hedonismo, morte e renascimento. Como você espera que o público  receba essas mensagens? 

Eu espero que as pessoas se identifiquem com as músicas de acordo com a  fase em que elas estão na vida. Eu usei minha história para contar uma jornada,  mas ela cabe a todo mundo. Todo mundo passa por esses momentos. Todo  mundo se encontra e se perde. Torço para que o álbum possa inspirar as  pessoas e também ajudá-las a encontrar o melhor caminho de suas vidas. Se 

elas pararem 1 minuto para refletir sobre isso já valeu a pena.  

8. Além de músico, você também é produtor musical e multi-instrumentista.  Como essas diferentes facetas se complementam no seu processo criativo

Acredito que é tudo uma coisa só: música. Eu fico feliz de conseguir enxergá-la  de uma maneira ampla e criar arranjos com diferentes elementos. Os  instrumentos são alguns dos elementos e cada um é uma possibilidade de  caminho a seguir. Uma música que começa no violão é diferente de uma que  começa no piano e eu posso trabalhar o ‘mood’ dela de acordo com o que ela  pede. Acho que assim ela fica mais coesa, do que limitar a apenas uma  sonoridade.  

9. Você acumulou mais de 1 bilhão de streams em suas produções ao longo dos  anos. Como você lida com a pressão e as expectativas de lançar seu próprio  álbum solo após trabalhar com tantos artistas renomados? 

Essa pergunta é muito boa. Eu senti muito essa pressão no começo, quando  decidi que ia me lançar como artista e fazer o álbum. Eu me cobrava muito, pois  eu sabia que as músicas precisavam ter a mesma qualidade desses artistas,  tanto de forma artística quanto de forma técnica. Eu também pensava nos  números, já que eu estou lançando hits há anos como produtor. Com o tempo  eu fui despreocupando disso, pois eu já tinha o poder criativo e técnico pra  executar o trabalho e sei que os números são construídos com o tempo e eu  vou ter esse tempo para trabalhar. Eu decidi focar no principal: a arte. E o  resultado desse trabalho ficou incrível.  

10. “Só o Começo” marca o início de uma nova fase em sua carreira. Quais são  seus planos e expectativas para o futuro da sua música? 

É Só o Começo, porque eu não vou parar. Eu senti o sabor de criar sem limites,  me expressar e inovar e eu amei. Eu vou continuar criando e trabalhando muito  para sempre fazer um trabalho de muita qualidade e impacto. Comecei a  produção do meu novo show e em breve começo a me apresentar por aí. Agora  que esse trabalho está no mundo eu já estou me permitindo experimentar  novas formas de compor e produzir e já está sendo incrível e libertador. Podem  esperar que muita coisa vem aí. É, de fato, Só o Começo.