Entrevista: Andressa Krüger, escritora

  1. Como surgiu a ideia de escrever “Nas Ondas do Meu Mar” durante a pandemia?

R.: Alguns anos antes, em 2016, eu comecei a escrever um romance e publicar em plataformas abertas, como o Spirit Fanfics e o Wattpad. Na época, não tive o planejamento correto para concluir a história e, com a chegada dos vestibulares e outras responsabilidades, deixei o projeto de lado. Em 2020, na iminência da pandemia e com a suspensão das minhas aulas da faculdade, resolvi retomar a escrita, mas com um livro novo. Nessa nova fase, me comprometi a estudar sobre a construção dos romances, desenvolver os personagens e esboçar a história antes de começar efetivamente a redigir os capítulos. Em um desses estudos, li sobre a importância de se ter um propósito para o livro e, refletindo algum tempo sobre o assunto, cheguei à temática do “Nas Ondas do Meu Mar”. A ideia era trazer a consciência sobre as fases de um relacionamento abusivo para a casa das mulheres, de modo que elas pudessem se identificar com a narrativa ficcional e pedir ajuda. 

  1. Você acredita que seu background em engenharia influenciou sua forma de escrever? Se sim, de que maneira?

R.: Eu diria que a minha forma de escrever influenciou minha faculdade de Engenharia! Sempre fui uma pessoa muito criativa e acredito que expressei isso de várias formas tentando trazer abordagens mais humanas para os números tão vistos em sala de aula. 

  1. Allura, a cidade fictícia do seu livro, foi inspirada em algum lugar real?

R.: Eu imagino Allura um pouco como a cidade retratada no livro e no filme “A Última Música”, do Nicholas Sparks. No entanto, essa associação que eu faço hoje não existia na época que escrevi os capítulos. Assim, sinto que criei um “mapa” da cidade na minha cabeça e é como se ela só existisse dentro do livro, sem muita base em outros lugares que já visitei ou vi algo sobre. 

  1. Por que decidiu abordar o tema de relacionamentos abusivos em seu livro de estreia?

R.: Acredito que esse é um tema extremamente importante para a sociedade e eu não quero que o meu livro seja só mais um romance na estante. O objetivo é que ele consiga contribuir na identificação de situações reais vividas pelos leitores, principalmente mulheres. Assim, eu espero que “Nas Ondas do Meu Mar” contribua de alguma forma na jornada árdua que aqueles que passam por relacionamento abusivos precisam enfrentar até a libertação. 

  1. Como leitora voraz, quais foram suas maiores inspirações literárias ao escrever este livro?

R.: Na época em que eu comecei a escrever, era apaixonada por Kiera Cass, da série de livros “A Seleção”. Conforme fui amadurecendo, comecei a me interessar por Carina Rissi e acredito que ela foi uma grande referência na escrita do meu livro, tanto pela forma como ela envolve o leitor quanto por ser uma escritora nacional. Também gosto de mencionar Jane Austen e suas personagens fortes e irreverentes. 

  1. Você acredita que o primeiro amor é sempre idealizado ou ele pode ser tóxico, como sugere seu livro?

R.: Eu acredito que o primeiro amor é o mais difícil, pois é nele que acontecem as maiores decepções. Quando estamos apaixonados e, principalmente, quando isso acontece pela primeira vez, enxergamos o melhor do outro e é como se a relação pudesse ser perfeita. Assim, acredito que cair em relacionamentos tóxicos é muito comum e identifica-los nessa fase não é exatamente fácil.  

  1. Como foi o processo de construção dos personagens, especialmente Mirella e Afonso?

R.: Inicialmente, eu fiz uma “ficha” dos personagens principais (Mirella, Afonso e Giulia), já levando em consideração que eles seriam narradores em capítulos diferentes do livro e, para isso, eu precisaria de um jeito peculiar para cada um contar a história. Assim, nessa ficha, escrevi nome, idade, descendência, parentesco, ocupação, hobbies, data de nascimento e outros, além de inserir uma imagem para inspiração de como eles seriam fisicamente. Uma curiosidade é que eu passei muito tempo procurando nomes e significados na internet para escolher aqueles que faziam mais sentido na jornada dos protagonistas. O mesmo se aplica aos sobrenomes, que também levavam em consideração a descendência dos personagens e a colonização de Allura. 

  1. Qual foi a reação dos seus amigos e familiares ao saberem que você estava escrevendo um livro?

R.: Posso dizer que o que eu mais vi foram olhares surpresos. Não é exatamente esperado ver escritores em uma sala de engenharia haha! Mesmo assim, é importante pontuar que o choque muitas vezes veio acompanhado de interesse sobre o livro e, como você devem imaginar, eu poderia falar horas sobre ele com um sorriso no rosto! Tratando especificamente sobre a família, preciso dizer que a minha irmã é a pessoa que mais me apoia no universo e ela sempre me trouxe altas doses de motivação durante todo o processo. Sem ela, eu provavelmente não teria passado das primeiras 100 páginas. 

  1. Quais desafios você encontrou ao escrever sobre temas tão delicados como relacionamentos abusivos?

R.: O maior desafio foi escrever sobre um tema que eu não vivenciei. Dediquei um grande número de horas para estudar sobre relacionamentos abusivos e transformar os aprendizados em capítulos do livro. O que eu mais temia era não conseguir passar a informação da forma correta e cair em “romantizações” que acabariam com todo o propósito do livro. Para que isso não acontecesse, o segredo foi ter paciência e dedicar o tempo necessário ao processo de aprendizagem.

10. Quais são suas expectativas para o lançamento oficial do livro no Dia dos Namorados?

R.: A maior expectativa é encontrar o livro disponível no Kindle sem nenhum problema técnico ou experiência indesejada. Trabalhei muitas noites para que o material se tornasse profissional e, nesse momento, o que eu mais quero é que tudo saia conforme o planejado. Além disso, estou extremamente ansiosa para ouvir os comentários dos leitores e espero que, em breve, “Nas Ondas do Meu Mar” possa subir nos rankings da Amazon e chegar em mais gente!

11. Se você pudesse ser qualquer personagem do seu livro por um dia, quem você escolheria?

R.: A Giulia, definitivamente! Ela é divertida, leal, cuida da família, defende os amigos e, ainda, tem um interesse por moda que diz muito sobre mim! 

12. Qual é a sua rotina de escrita? Você escreve de pijama ou se arruma como se fosse para o trabalho?

R.: O livro é praticamente meu segundo emprego e só posso dizer que saio do primeiro doida para tomar um banho quente. Dito isso, definitivamente escrevo de pijama haha! Quanto à rotina, independentemente do cansaço coloco metas de palavras por dia, assim consigo escrever e refinar os capítulos consistentemente todos os dias (ou quase). Se não for assim, é muito fácil cair na falta de motivação e perder o diálogo com os personagens (sim, eles falam na minha cabeça e, muitas vezes, eu defino o rumo da história com base nesse processo mental de “ócio criativo”) 

13. Se “Nas Ondas do Meu Mar” fosse transformado em filme, qual ator você gostaria que interpretasse Afonso?

R.: Vejo Julio Peña como um ótimo Afonso, baseado em sua atuação recente para a Netflix (filme Através da Minha Janela). Acredito que ele conseguiria mostrar as duas faces do personagem com muita maestria e seguindo a imagem criada dentro do livro.

14. Você acha que a sociedade ainda romantiza demais o conceito de “primeiro amor”?

R.: Eu acho que sim, mas não vejo isso exatamente como um problema. A vida já é complicada demais para colocarmos mais um obstáculo e nos privarmos de viver esse momento de descobertas e autoconhecimento. Nenhuma relação será perfeita, muito menos a primeira. Mesmo assim, é importante que estejamos abertos a viver essa experiência da melhor forma possível e, claro, sem nunca nos deixarmos em segundo plano.

15. Na sua opinião, os livros têm a responsabilidade de educar os leitores sobre relacionamentos abusivos?

R.: Eu trocaria a palavra “responsabilidade” por “possibilidade”. A informação hoje vem de vários canais e os livros são apenas uma forma de tratar o assunto, muitas vezes de um jeito mais lúdico, através de narrativas ficcionais. Esse é o caso do “Nas Ondas do Meu Mar”, que pode servir como fonte de educação para aqueles que se interessam pelo assunto, mas não querem consumi-lo apenas de forma literal em artigos e vídeos, por exemplo. 

16. Como você responde às críticas de que a ficção não deveria abordar temas tão pesados como os que você escolheu?

R.: Eu acredito que existem livros de ficção para todos os gostos e abordar temas “pesados” apenas requer coragem e responsabilidade para tratá-los da melhor forma. Vejo o público muito preparado hoje para receber romances de maior profundidade e complexidade psicológica e popularizar o assunto é importante para que se dê a devida importância.

17. Você planeja continuar escrevendo e seguir carreira como autora, ou pretende focar na engenharia?

R.: É uma pergunta difícil, dado que a engenharia é o meu sustento hoje. Se eu pudesse trabalhar apenas com a arte, com certeza faria isso. No entanto, sei que o caminho como autora nacional é árduo e acredito que a engenharia me proporciona a estabilidade necessária para enfrentar isso. 

18. Quais são seus próximos projetos literários após “Nas Ondas do Meu Mar”?

R.: Eu tenho ideias para próximos livros todos os dias, mas sei que nesse momento minha energia precisa estar direcionada para a divulgação do “Nas Ondas do Meu Mar” e para a diagramação e produção do livro físico. Acredito que todo esse processo ainda vai levar de 6 meses a 1 ano e depois disso pretendo, finalmente, me aventurar em novas histórias. 

19. Como foi a transição de engenheira para escritora? Foi um processo natural ou houve muitas dificuldades?

R.: Eu fui escritora muito antes de ser engenheira na verdade e, de certa forma, minha cabeça sempre funcionou numa perfeita junção entre a literatura e os números. Não vejo exatamente dificuldades nesse aspecto, acredito que o fato de as áreas de conhecimento se complementarem sempre me ajudou a ser organizada no planejamento da escrita e a pensar “fora da caixa” nos projetos da engenharia.