Entrevista: Banda Alternata

Entrevista: Banda Alternata

1.   Como surgiu a ideia central de Curvas Sinuosas e qual mensagem principal vocês querem transmitir com o EP?

Kako: lançar um EP com duas canções partiu da sugestão do Dani Plothow, até então baixista e produtor musical da banda. Determinamos a escolha das músicas com base em suas temáticas e iniciamos os trabalhos de produção. O EP passa uma ideia de questionamento e transformações aliado a arranjos modernos e enraizados no rock.

Dani: Tive a ideia de lançar este EP pois a banda estava fugindo muito da programação que eu havia traçado. O projeto original era um álbum com cerca de 10 músicas que seria lançado ainda em 2023, após os 2 singles, Nuances e Peggy. Mas no meio do caminho tivemos alguns percalços com as gravações das guitarras e posteriormente a saída do guitarrista. Como as baterias e baixos já estavam gravados, sugeri o lançamento deste EP no começo de 2024 para que a banda voltasse a aparecer.

2.   Dani Plothow, como foi o processo de produção e arranjos? Houve algum desafio em equilibrar as diferentes influências musicais do projeto?

Dani: Quando me convidaram para fazer a produção, direção musical e toda parte de arranjos, a maioria das músicas já tinham sido compostas, cada uma com um estilo diferente e a parte instrumental estava muito crua, não havia arranjo e nem uma linha estética definida.
Então eu tinha esse desafio bacana de produzir e criar os arranjos de modo que a identidade da banda não se perdesse no meio do caminho e que cada canção ainda mantivesse as suas características iniciais, mas ao mesmo tempo criar uma sonoridade mais uniforme, sendo as músicas partes de um todo (o álbum).

3.   A participação dos guitarristas Bodão e Paulo Ueno trouxe novas nuances ao som da banda. O que cada um deles adicionou às faixas?

Dani: Desde o início da produção, eu tinha em mente convidar o Bodão para a faixa Meninos e Lobos, pois queria uma guitarra mais pesada, com um q de metal mesmo. E o Bodão tem essa pegada, é um cara experiente na cena do metal e alguém com quem já trabalhei. Já para a faixa Curvas Sinuosas, queria algo mais fora do trivial, com mais efeitos, notas fora da curva e uma certa “sujeira”. Por isso convidei o Ueno, que tem uma linguagem artística mais nessa onda. Com a saída do guitarrista, somado a questão do tempo, pois tínhamos colocado um prazo para o lançamento deste EP, ficou claro pra mim que eu precisava de músicos experientes para gravar essas faixas. Ambos já foram meus companheiros de banda, então conheço bem o estilo de cada um.

4.   A faixa “Meninos e Lobos” aborda temas sociais densos e atuais. O que motivou vocês a compor essa música e como foi o processo de trazer essas histórias para a letra?

Kako: Recebi a linha melódica dessa canção do Mr Newton — um dos compositores — e passei a escrever sua letra sob forte influência do documentário Falcão — meninos do tráfico, de MV Bill e o caso Mariana Ferrer, mais especificamente a forma machista como judiciário havia tratado o caso à época. O tema desenrolou-se entre esses personagens culminando na pergunta : até onde a fé é capa de mudar uma sociedade?

5.   Qual a importância de usar a música como ferramenta de crítica social, especialmente em uma sociedade tão complexa como a brasileira?

Kako: Promover o senso crítico é um dos grandes pilares da educação transformadora. E a arte exerce este papel desde os primórdios da humanidade. A música,como veículo propulsor de sentimentos, tem o poder de promover as mais variadas emoções. Usar essa força  para instigar o senso crítico é uma das bandeiras da Alternata.

Dani: A música pode e deve ser um caminho ou um recurso para que possamos compreender o mundo a nossa volta e compreender a nós mesmos.

6.   Em termos de narrativa e atmosfera, o que diferencia “Meninos e Lobos” das demais músicas do EP?

Kako: Enquanto Curvas apresenta um personagem que se desvincula de relações abusivas , Meninos e Lobos questiona até que ponto a fé é capaz de libertar o ser humano dessas amarras. Curvas soa alegre, libertadora enquanto ” Lobos ” mergulha numa atmosfera densa, pesada e repleta de reflexões.

7.   O EP mistura rock nacional com elementos de suingue latino e outras referências. Como vocês equilibram essas influências diversas mantendo a identidade da banda?

Kako: A estrutura da banda está calçada em suas influências individuais que, juntas, criam o espírito alternativo da banda. Este espírito nos dá liberdades experimentais dentro daquilo que nos propomos como músicos. Assim passeamos pelas mais variadas vertentes do rock sem perder a essência Alternata, presente em seus grooves e timbres.

8.   O rock nacional dos anos 80 e 90 parece ser uma grande inspiração para vocês. Como essa sonoridade dialoga com o cenário atual da música brasileira?

Kako: A estrutura de composição da banda, melodia e letra, possue uma fórmula que tem chamado a atenção do público. Aliado com arranjos atuais , notamos que despertamos curiosidade e, por consequência, afinidade que este público. Em termos de números vimos uma crescente de ouvintes na faixa etária de 18 a 35 anos, o que nos mostra uma tendência de busca por um estilo musical que vai além do simples entretenimento.

9.   Quais foram as principais influências para a faixa-título Curvas Sinuosas? Há alguma banda ou estilo específico que inspirou os arranjos?

Kako: Carlos Santana sem dúvidas foi a base . Um grande guitarrista do rock latino que sempre se permitiu passear por todas as possibilidades musicais possíveis.

Dani: Para este EP tive como referência principal o disco “Lightning Bolt” do Pearl Jam, as cenas hard rock norte-americana do final dos anos 80 e começo dos anos 90, e o Grunge. Os discos “Apetite For Destruction” do Guns e o “Pump” do Aerosmith.

10. A mixagem e masterização ficaram a cargo de Davi Menezes. Como foi trabalhar com ele e o que essa parceria trouxe de especial ao projeto?

Dani: Trabalhar com o Davizão foi uma opção minha, porque eu queria alguém com a experiência, a bagagem que ele tem com a sonoridade que eu queria para esse disco. E foi muito fácil trabalhar com ele, sempre é muito fácil. Ele consegue entender o que a gente quer. Ele sabe escutar e traduzir na sonoridade o que eu tenho na cabeça rsrs.

11. A arte da capa, criada por Lil Amaral, completa a identidade visual do EP. Qual foi a inspiração para essa arte e como ela dialoga com o conceito das músicas?

Kako: Lil Amaral é um grande parceiro do projeto. Além da capa do single Peggy e a criação do próprio logo da banda, permitiu-se mais uma vez ajudar na composição da obra, apresentando um desenho de uma estrada com Curvas em um ambiente sombrio mas com um Sol ameaçando surgir entre nuvens. Este é o espírito do EP. Das sombras para luz, mesmo diante das adversidades da estrada.

12. Desde a estreia com “Nuances” e “Peggy” até o lançamento de Curvas Sinuosas, como vocês avaliam a evolução da banda?

Kako: A experiência com outros músicos e produtores, a necessidade de se refazer como trio, e a experiência individual de cada integrante nos levou a um novo momento como banda. Temos evoluído à medida que vamos sacramentando nosso projeto.

13. Quais são os próximos passos da Alternata? Já há planos para um álbum completo ou turnês?

Kako: Temos um sólido projeto que visa a produção de uma trilogia. Três álbuns que passearão entre presente, passado e futuro. Seguimos com a produção do Álbum 1 dessa trilogia. Uma turnê mais extensa ainda não está em nossos planos.

14. Como vocês veem o papel da Alternata na cena do rock nacional hoje e que legado gostariam de deixar?

Kako: Temos passeado por um público diversificado e não exclusivamente do rock. E este è o nosso objetivo. Transitar entre todos sem um nicho específico. Levar o rock a um novo patamar dentro do mercado musical e deixar como legado a qualidade de nossa narrativa poética, filosófica, crítica.

15. Cada integrante traz décadas de experiência no cenário musical. O que ainda motiva vocês a criar e explorar novos projetos dentro do rock?

Kako: O rock é uma cultura que agrega música, filosofia de vida, estilo. Nasceu para se contrapor a cultura. Está aliado àquilo que pensamos como seres humanos. Qdo se faz música com verdade vc se coloca numa zona de conforto com seus ideias. Isso nos deixa em paz.

Dani: A música é algo tão incrível, com tantas facetas e nuances que poderíamos ficar por horas a fio conversando a respeito. Ela é expressão e manifestação. É coletivo e introspectivo. É fúria, é serenidade, é motivação, é calmaria. Poder transmitir isso e tocar as pessoas é algo maravilhoso.

16. Se pudessem colaborar com qualquer artista, nacional ou internacional, quem escolheriam e por quê?

Kako: Ira! Por ser uma banda longiquoa ainda em atividade, sempre à margem das grandes mídias, com belíssimas canções que atravessaram décadas, espírito virtuoso e atitude.
Internacional? Bruno Mars, pq não? Rsrsr. Afinal de contas ele foi beber da sonora soul dos anos 70 e trouxe para grande mídia essa cultura black-soul de 50 anos atrás, dando ares de novidade.
Caberia perfeitamente no Alternata, rsrs.

marramaqueadmin