Entrevista: Bianca da Silva e Denise Flaibam, escritoras

Entrevista: Bianca da Silva e Denise Flaibam, escritoras

1. O Clube do Pesadelo se passa no final dos anos 90, período bastante marcante culturalmente. O que motivou a escolha dessa ambientação e quais referências da época mais influenciaram a construção da história?

Bianca: A história começou como uma fanfic de Stranger Things, então desde o começo foi pensada em outra época. Mas, quando transformamos em uma história original, optamos por um período mais marcante da nossa vida, já que ambas somos crianças dos anos 90.

Denise: Acabamos escolhendo 1999 por conta de toda a ideia do bug do milênio e do fim do mundo, que combina muito com a vibe da história. Além disso, tentamos incluir algumas referências da época, como os arquétipos dos personagens da patricinha, o rebelde, a nerd, etc.

Bianca: Também incluímos algumas referências a cultura pop, como o ET de Varginha e até a brincadeira do compasso, de maneira a deixar a ambientação mais autêntica em relação às nossas memórias da época.

2. A amizade entre vocês duas é também a base da parceria criativa no livro. Como foi o processo de escrita a quatro mãos? Como dividiram as responsabilidades narrativas?

Bianca: Nós sempre estivemos envolvidas no processo criativo uma da outra, com nossas histórias solo. Sempre nos apoiamos na hora de escrever, o que fez com que o processo de escrever um livro juntas tenha sido muito natural.

Denise: Não temos um cronograma ou uma divisão de responsabilidade. O Clube do Pesadelo é a terceira história que escrevemos juntas e, desde a primeira, estamos em constante comunicação sobre a escrita.

Bianca: Escrevemos juntas mesmo, não dividimos a escrita entre quem vai fazer personagem X ou Y ou quem vai escrever capítulo tal e tal. Nós montamos o roteiro que vai servir de norte e a partir daí, cada uma escrever um pouco. Depois a outra volta, relê e adiciona ou remove o que acha que precisa.

Denise: E isso sempre conversando uma com a outra, pra avisar o que foi feito, porque foi feito e até discutir possíveis mudanças e ideias novas que tenham surgido no meio do caminho.

3. Dominique, Angélica, Johnny, Mabê e Fábio formam um grupo com perfis muito distintos. Como foi o processo de criação desses personagens? Algum deles é inspirado em pessoas reais ou em vocês mesmas?

Bianca: Como comentamos, a história surgiu como uma fanfic de Stranger Things, especificamente por conta do personagem Eddie Munson, que inspirou o Johnny. Nós também temos por regra não nos inspirarmos em nós mesmas ou pessoas que conhecemos para escrever as histórias, no máximo um traço de personalidade ou outro, tipo a Dominique que gosta de filmes de terror, e o gosto musical do Johhny e da Mabê.

Denise: Pra essa história, escolhemos criar os personagens de acordo com os arquétipos clichês da patricinha, o rebelde, a nerd, e depois quebrar esses estereótipos. Uma coisa meio Scooby-Doo, um grupo que acaba se tornando uma família pela situação em que se encontram e percebem que tem mais em comum do que mostra a superfície.

4. A história traz elementos de horror, amizade, humor e representatividade queer. Como equilibraram essas camadas temáticas sem perder o ritmo da narrativa?

Bianca: Para você não se perder em uma história com uma grande quantidade de elementos, a melhor forma é roteirizar tudo antes. Nós sentamos durante uma semana e planejamos não só o que precisava acontecer para a história andar e chegar no clímax, mas também onde poderíamos colocar momentos mais tensos e onde quebrar essa tensão para dar um respiro.

Denise: E nos inspiramos bastante em autores como Stephen King, R.L. Stine e Grady Hendrix, que conseguem equilibrar bem o terror com os demais elementos da história.

5. Pesadelos que ganham vida, sombras nos corredores e maldições antigas. De onde vieram as inspirações para os elementos sobrenaturais da trama? Há alguma lenda ou mito brasileiro que influenciou?

Bianca: As principais inspirações foram Stranger Things, Carrie e FA Hora do Pesadelo. Queríamos criar uma história com uma personagem que tivesse um poder sobrenatural, tentando existir no mundo sem que notem isso, o que acabou culminando na Mabê.

Denise: Também queríamos uma entidade que nos permitisse criar um cenário onde pudéssemos inventar todo tipo de ameaça. O mundo dos sonhos é o lugar ideal, porque não existe limite para o que podemos sonhar. E ele também nos permitiu trazer mais inspirações brasileiras para a história, com pesadelos e lendas urbanas bem nossas, como a boneca da Xuxa possuída e a faca na cabeça do boneco do Fofão.

6. A cidade fictícia de Enseada dos Anjos parece ter quase uma personalidade própria. Como vocês a imaginaram? Há alguma cidade real que serviu de base?

Bianca: O nome da cidade já é uma homenagem a uma das nossas séries favoritas dos anos 90, Power Rangers. Também queríamos que ela fosse o tipo de cidade onde todo mundo sempre sabe de tudo, onde segredos são difíceis de serem mantidos e, ao mesmo tempo, onde todo mundo fingi que não sabe de nada do que está acontecendo.

Denise: Na questão estética, nos inspiramos nas cidades da região da Bianca, em Santa Catarina, para deixar a ambientação a mais autêntica possível.

7. O livro homenageia tanto o terror clássico quanto a cultura pop brasileira. Que filmes, séries ou autores influenciaram diretamente a escrita de vocês?

Bianca: Nos inspiramos bastante em alguns filmes como A Hora do Pesadelo, Brinquedo Assassino e Rua do Medo. Também tem uma influência bem forte de Stranger Things, a série dos anos 1990 de Goosebumps e Scooby-Doo.

Denise: Queríamos que a história tivesse a mesma vibe dos livros do Grady Hendrix, R.L. Stine e do Stephen King que, inclusive, é citado algumas vezes na história. 

Bianca: O Clube do Pesadelo também tem influência dos livros e RPG de mesa Ordem Paranormal, que é um dos favoritos da Denise.

8. Qual foi o maior desafio ao escrever para um público jovem, especialmente tratando de temas sombrios e complexos como o luto, a exclusão e o medo?

Bianca: Nós consumimos muitas histórias para o público jovem e já escrevemos outros livros para essa faixa etária, então estamos mais familiarizadas com as formas narrativas. E sentimos que o segredo é escrever para eles com a mesma seriedade que escrevemos para os adultos.

Denise: Os adolescentes atravessam esses sentimentos complexos com tanta frequência quanto as pessoas na fase adulta, e é importante deixar claro que tá tudo bem, ajudá-los a identificar esses sentimentos e que parte de crescer, é saber entender e lidar com eles.

9. Como vocês enxergam o atual momento da literatura de terror nacional? Sentem que há mais espaço e receptividade para esse gênero hoje?

Bianca: A literatura de terror é um gênero de nicho, então ele está sempre aí. Mas podemos observar que de tempos em tempos, ele “ressurge” no mainstream, normalmente impulsionado por filmes e séries. Que é o que está acontecendo agora.

Denise: Acreditamos que é o momento para arriscar com histórias diferentes dentro do nicho, que é o que o público está buscando. Tanto o terror que faz gelar a espinha quanto aquele pastelão, que tinha muito nos filmes B dos anos 80.

10. E por fim, o Clube do Pesadelo vai continuar? Já existe alguma ideia de continuação ou adaptação para outros formatos, como audiovisual?

Bianca: Não, O Clube do Pesadelo é uma história única, então se encerra nesse capítulo. Inclusive já estamos trabalhando na nossa próxima história, que mistura fantasia aconchegante e suspense.

Denise: Em relação às adaptações, nós sonhamos, como qualquer autor que coloca sua obra no mundo, mas até o momento não temos nenhuma novidade a respeito. Se surgir alguma coisa, pode deixar que vamos avisar todo mundo!

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