Entrevista: Junio Barreto, cantor e compositor

Entrevista: Junio Barreto, cantor e compositor

1. Junio, após um intervalo de 13 anos, o que o motivou a voltar ao estúdio e lançar um novo álbum agora?

Antes de começar gravar “O Sol e o Sal do Suor”, estava pensando em outro álbum,
cheguei a compor algumas canções, eram músicas mais densas, a situação política
do país num estava boa e isso me afetava muito, veio a pandemia e parei de compor esse disco; daí repensei a vida e a forma de fazer isso em música, e comecei a pensar um disco solar; junto a isso as pessoas amigas cobravam muito um disco, e pagaram as primeiras sessões, um deles foi Otto, amigo e parceiro de longa data e que me levou para o ParedeMeia, estúdio de Rovilson Pascoal que acabou produzindo o disco comigo e o Marcus Preto.        

2. “O Sol e O Sal do Suor” parece ser uma celebração da vida e das raízes nordestinas. Como você descreveria a jornada emocional que esse álbum proporciona aos ouvintes?

Sim, tínhamos saído vivos de um momento difícil, queria celebrar isso; exemplo minha família, fiquei 2 anos sem ver, (moram no nordeste, Pernambuco, Paraíba) isso me trazia a saudade de lá, inclusive os ritmos, na dança, no carnaval,  pensei no baião, fiz “Ata-me”, “Vida Vida Vida” e “Nordeste Oriental”, pensei na pisadinha, gravei de Beto Viana e Nana Carneiro “Coração Preto”, no afoxé, “Mamãe quer Meu Amor”, ritmos nordestinos, e aí o disco tomou o rumo da festa, da celebração da vida.    

3. Explique para nós como foi o processo de composição e produção deste novo álbum. Alguma experiência em particular o inspirou?

Quando entrei no estúdio falei para Rovilson Pascoal, “quero um disco de festa, dançante”, com letras que falem de momentos bons, felizes, de quando estamos com quem amamos”, e comecei a compor pensando nisso.  No primeiro dia de gravação veio Mestre Nico as percussões e suas maracas indígenas e tambores de tribos africanas, “achei aquilo um batismo lindo, abençoou o disco”.

4. Cada faixa deste álbum parece contar uma história única. Você pode nos contar um pouco sobre a inspiração por trás de uma de suas músicas favoritas do álbum?

Sim, na canção “Nordeste Oriental”, tinha lido algo que falava dessa parte do Brasil, achei bonito esse termo, “Nordeste Oriental”, que é uma subdivisão geográfica do Nordeste brasileiro que engloba os estados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Daí surgiu uma letra onde enalteço a chegada de amor à paisagem e belezas desse  lugar que tanto amo.      

5. Você mencionou que “Estrela do Norte” tem a dança como foco essencial. Como você acha que a música pode ser uma forma de expressão corporal e espiritual ao mesmo tempo?

Acho que sim, a dança como forma arte surge dos sons, também através da música, nela expressamos e elevamos os sentimentos da alma, chegamos ao êxtase com o movimento do corpo, a dança melhora a vida.  

6. Com colaborações de músicos talentosos, como Pupillo e Thomas Harres, como foi trabalhar com esse time e como eles contribuíram para a sonoridade do álbum?

É um sonho ter músicos tão fantásticos no álbum, como falei antes sobre o Mestre Nico, que além de toda percussão maravilhosa, chegou abençoando o disco, e cada músico traz sua emoção e história, seus sentimentos e experiências, realmente   algo sagrado e muito especial ao som.      

7. Além de suas criações musicais, suas composições foram gravadas por diversos artistas renomados. Como é ver suas músicas sendo interpretadas por outros artistas?

É a maior emoção do mundo, quando escutei Gal Costa, Alaíde Costa, Lenine e ou cada cantora e cantor que gravaram músicas minhas, eu chorei! É muito prazeroso ter uma canção sua sendo interpretada por outra pessoa, e a forma como cada uma, um, canta. Os significados crescem. Eu amo.    

8. Você mencionou que uma de suas músicas foi feita para sua mãe. Como é a
relação entre suas experiências pessoais e suas composições?

Sim, nessa canção em especial eu quis expressar todo carinho, atenção e amor que minha mãe tem por mim, na verdade a canção se estende a todas as mães, falo  desse amor incondicional e infiniito por suas crias. Tem umas fictícias, mas  geralmente só escrevo quando sinto de verdade.          

9. Se você pudesse descrever este novo álbum em uma palavra, qual seria e por
quê?

Celebração.

10. O que você espera que os ouvintes sintam ao mergulhar nas músicas deste álbum?

Que se divirtam, tenham um dia feliz, ame, dancem e celebrem a vida.    

11. Algumas pessoas argumentam que a música nordestina está perdendo sua autenticidade. Como você acha que seu trabalho contribui para preservar e promover as raízes musicais nordestinas?

No meu caso uso elementos da música brasileira vinda do nordeste com toques de eletrônica, brinco com isso! Mas acredito que tem um música de raiz e cultura muito forte no nordeste, isso nunca vai acabar, Baião, Xote, Forró, continuam muito autênticas; ao mesmo tempo acho bacana a força que a música nordestina tem de sempre criar novos ritmos, como o Arrocha, a Pisadinha, aliás sempre falo que se Luiz Gonzaga fosse vivo certamente gravaria uma pisadinha.                

12. Com o cenário musical cada vez mais dominado pela música comercial, como você vê o papel da música autoral e experimental como a sua neste contexto?

Acho que sempre existiu e sempre vai existir essa música mais comercial; continuaremos lutando e buscando meios de inserir essa música autoral, experimental cada vez mais para um número maior de ouvintes. A música sendo bacana, boa, uma hora ele encontra seu espaço.

13. Há quem critique a tendência dos artistas em se afastarem de suas origens em busca de uma sonoridade mais “global”. Como você equilibra sua identidade cultural com uma abordagem mais universal em sua música?

Sempre pensei numa música mais universal, nunca esqueci minhas raizes, carrego as bandas de Pífanos, Aboios e o Baião, tudo no meu peito, mas eu gosto de dessa possibilidade de mesclar melodias das cantigas do meu lugar com a música do mundo que escuto.        

14. Desde o lançamento do seu primeiro álbum, como você acha que sua música evoluiu ao longo dos anos?

Acho que minhas letras estão mais acessíveis, mais diretas, menos abstratas, esqueço os termos mais densos, viraram mais solares, acho que isso devo seguir no futuro .

15. Quais são os principais desafios que você enfrentou ao longo de sua carreira e como os superou?

Eu sempre tive muito, todo apoio da minha família, amigxs e de todo mundo que me cerca, claro, tive também momentos difíceis, de colocar em prova minha capacidade de continuar, mas a força da arte é maior e faz a gente superar qualquer dificuldade.    

16. Você mencionou ter dividido o palco com alguns ícones da música brasileira. Existe alguma colaboração ou momento específico que tenha sido especialmente significativo para você?

Todos os momentos foram igualmente fantásticos, ficam marcados com tinta indelével no coração. Tudo é muito grandioso, cantar com João Donato, Elza Soares, Arnaldo Antunes, Nação Zumbi, e tantos outros engrandece a alma, forma base pra vida.            

marramaqueadmin

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