Entrevista: Vamberto Maia Filho, médico e escritor

Entrevista: Vamberto Maia Filho, médico e escritor

1. Dr. Maia, em seu livro “Filhos, histórias inspiradoras”, você aborda a infertilidade feminina e a reprodução assistida. Como foi o processo de pesquisa e seleção das histórias que compõem essa narrativa emocional? 

São quase duas décadas atendendo pessoas com um desejo quase existencial por um filho e apesar do objetivo ser o resultado final o caminho é muito variado. Problemas semelhantes podem ter tantas nuances que a individualização é de suma importância. Optei por tentar abordar temas por diagnósticos e a partir daí contar uma história que seria uma inspiração para cada “tentante”.  Mostrar que o caminho pode ser difícil, mas jamais impossível.

 2. Você destaca a importância do apoio emocional e do conhecimento sobre a infertilidade no caminho para a maternidade. Como esses elementos se entrelaçam nas histórias apresentadas em seu livro? 

A infertilidade desperta na mulher o sentimento mais primitivo, sua essência. Nascer, crescer, reproduzir e morrer é o caminho que a natureza nos mostrou. Ser impedido de ser quem você é na vida pode ter um peso imensurável. Daí vem o apoio emocional aliado ao cientifico. Mostar excelência na sua área com carinho e afeto dá a jornada tão difícil a capacidade de ser possível. Faz o sonho ser tangível.

 3. No livro, são discutidos maus hábitos que impactam negativamente a fertilidade feminina. Você poderia destacar alguns desses hábitos e explicar como eles afetam a saúde reprodutiva? 

mudamos muito nossos hábitos em geral. Alimentares, físicos e sexuais… A evolução nos deu muitos ônus e bônus, porém do ponto reprodutivo o peso desses hábitos foi pior. Sedentarismo, tabagismo, doenças sexualmente transmissíveis e obesidade estão entre os mais importantes. De uma forma em geral levam a problemas ovulatórios e anatômicos para uma gravidez espontânea. Contudo, a postergação da gestação para uma idade mais avançada foi o pior. Precisamos tentar ajustar tudo isso para que o equilíbrio seja alcançado.   

 4. Qual é o papel da tecnologia e da medicina de excelência na jornada das mulheres em busca da maternidade, conforme descrito em “Filhos, histórias inspiradoras”? 

A tecnologia foi fundamental para o avanço das técnicas reprodutivas. Dos Indutores da ovulação recombinantes, aparelhos laboratoriais próximos ao que a natureza nos deu em nossos corpos, meios de cultivo semelhantes ao natural entre outros benefícios nos levaram a quase dobrar a expectativa de gestação por fertilização in vitro (FIV) realizada. Tudo isso é a busca pela excelência na medicina. Algo que não deve ser jamais o fim, mas sim o meio que nos anima a seguir melhorando sempre.

 5. Ao longo de sua carreira, você reconheceu a reprodução assistida como uma ferramenta transformadora. Como você vê a evolução dessa área e quais são os principais desafios que ainda enfrentamos? 

Em menos de 45 anos saímos de um 1º  bebe de proveta para mais de milhões nascidos. Casais que não teriam sua família se não fossem a FIV. Já representam quase 3% dos bebs nascidos no mundo. Isso é incrível quando pesnsamos no declínio mundial do número de bebes e o que isso poderá representar com alternativa para renovação da população que segue envelhecendo e quebrando recordes de idade avançada, O grande desafio é tornar o processo mais assertivo e mais acessível. Fazer com que mulheres busquem ajuda precocemente e que a preservação da fertilidade seja cada vez mais comum.

6.⁠ ⁠Além do conhecimento científico, “Filhos, histórias inspiradoras” destaca a importância da esperança e da crença no extraordinário. Como você vê esse aspecto espiritual influenciando a jornada da maternidade? 

O Divino é para muitos palpável. Para mim é total. Não são poucos os momentos em que essa força nos leva a fazer, ter e criar o que precisamos para vencer na luta pela sonhado filho. Esta provado que nossa capacidade de ter fé é capaz de mudar nossa imunidade, nossas células e nossa recuperação. A fé cura a alma e nos dá o poder de vencer o que parece impossível.

 7. No cerne do livro estão diversas histórias de mulheres que enfrentaram a infertilidade. Que tipo de impacto você espera que essas histórias tenham naqueles que estão passando por desafios semelhantes? 

Contamos historias desde o começo da humanidade. Elas nos ensinam, acalentam, emocionam, protegem, mas sobretudo nos motivam. Cinema, teatro, livros e qualquer boa historia nos atraem a atenção. O que mais desejo é despertar uma faísca de esperança em corações machucados e desesperançosos para seguir em frente, perseverar nessa jornada que por vezes não é curta.

8.⁠ ⁠Como você descreveria sua abordagem ética e humanizada na prática da medicina, especialmente no campo da reprodução assistida? 

– Sem respeito jamais haverá um ato de humanidade. Somos regidos por esse conjunto de regras e preceitos que levam em consideração os valores de cada individio. Sem isso não podemos seguir. De nada valeria a pena fazer o que é cientificamente aceito se não for individualmente o desejável. Acredito que as alternativas devem ser sugeiradas e a decisão final feita pelo paciente. Isso é inegociável.

 9. Quais são os principais conselhos que você ofereceria às mulheres que estão enfrentando dificuldades para conceber, com base em sua vasta experiência e nas histórias compartilhadas em seu livro? 

infertilidade lembra muito uma corrida. Poucas serão curtas, mas a maioria será longa. Então essa jornada deve ser encarada coo uma prova de resistência. Perseverar é o melhor conselho possível. Acredite na medicina, creia no caminho, alinhe expectativas e não desista. Jamais conheci um casal que não conseguiu engravidar devido a falta de tenacidade. Infelizmente outros elementos: matrimonio, desgaste, dor e, principalmente o financeiro, podem ser a causa do insucesso.

10. “Filhos, histórias inspiradoras” oferece um olhar otimista sobre a infertilidade, repleto de exemplos reais de vida e conquistas. Como você espera que essa mensagem inspire e motive as mulheres que o leem? 

Por associação. A nossa dor sempre será a maior, por que nos a sentimos! Saber que alguém passou por uma situação que lembra a própria pode, e desejo, que inspire a perseverar. E quando falo de cátedra dá mais ainda empatia. Eu estive nesse lugar. Não sou “coach”, sou a dor! A esperança não reside no passado e sim no futuro. E ver que é possível, mesmo quando não acredito, será o que mais desejo.

11. Você já considerou escrever um livro sobre os pais dos bebês, intitulado “Pais, histórias esquecidas”? 

Quando minhas filhas estavam na UTI vivi a solidão de ser um dos poucos homens a viver a luta pela vida. A licença paternidade de uma semana tira muitos desse local… Acho que ainda precisamos superar varias dificuldades impostas por leis e preconceitos para permitir que homens estejam mais no lugar das mães. Ainda não cheguei ao ponto de pensar num livro para o universo masculino.

12. Você acha que o uso de superstições pode influenciar na fertilidade das mulheres?

superstição muitas vezes posterga a busca pela ciência, leva a problemas sérios de saúde e podem causar muitos danos físicos e psicológicos. Os mitos atrapalham de verdade.

13. Se os bebês pudessem falar, o que você acha que eles diriam sobre o processo de reprodução assistida?

Obrigado! Sem você eu nada seria.

14. Alguns críticos argumentam que a reprodução assistida pode levar a dilemas éticos. Como você responde a essas críticas em seu trabalho?

acho muito pertinente a critica. A medicina muitas vezes vive de verdades transitórias. A busca pela excelência nos move a perfeição. Precisamos estar atentos a vários dilemas éticos e morais que nos, enquanto sociedade, precisamos debater. Argumentação baseada em ciência é o caminho e acho muito bem vindo.

15. Há quem sugira que a sociedade coloque muita pressão sobre as mulheres para se tornarem mães. Como você vê essa pressão e seu impacto na saúde mental das mulheres?

a pressão em cima das mulheres é descomunal. Precisam ser perfeitas e suas falhas são escancaradas. Um desproposito. Contudo, essa pressão precisa ser canalizada com racionalidade. A igualdade entre os sexos deve ser o objetivo, porém do ponto de vista reprodutivo isso não existe. A mulher nasce com uma fertilidade limitada a idade e homens não, assim sendo politicas deveriam proteger isso com foco na compreensão da reserva ovariana feminina e preservação da fertilidade com congelamento de óvulos. Isso tornaria essa pressão imensamente menor.

16. Com o avanço da tecnologia na reprodução assistida, você acredita que podemos estar caminhando para um mundo onde a concepção natural se torne obsoleta?

Ficção cientifica já retrata isso. Em escala global não acredito, mas objetivamente tenho certeza que as técnicas em reprodução assistida serão cada vem mais presentes na vida da sociedade e talvez possam ser o fiel da balança para muitos países com queda da natalidade. O que já é uma realidade.

17. Como médico especializado em reprodução assistida, qual foi o momento mais gratificante de sua carreira até agora?

seria injusto com os mais de mil nascimentos de minha vida, fico com os de minhas filhas. Trigêmeas por tratamento realizado por mim.

18. Quais foram os maiores desafios que você enfrentou ao escrever seu primeiro livro, “Filhos, histórias inspiradoras”?

Como médico falhar não é uma opção. Somo moldados para o sucesso. Sair de minha zona de conforto e propor algo tão distante me causou medo. Mas queria retribuir as pacientes tudo que conquistei. Idealizei esse livro para devolver a mulheres tão sofridas a possibilidade de ter uma chance de engravidar. O livro é um projeto ambicioso: gerar inspiração aos casais que precisam de referencia e arrecadar fundos para que os menos favorecidos economicamente possam fazer uma FIV. Foram quase 2 anos de um projeto que se puder fazer a diferença para alguém valerá a pena demais.

19. Você tem planos para escrever mais livros no futuro? Se sim, sobre que temas você gostaria de explorar?

brinco que queria sempre ter 3 filhas. No feminino. E fui agraciado pelos céus com isso. Tenho tantas historias que um livro é até injusto. Então fiaria feliz em seguir inspirando e realizando sonhos de casais. Acho que seria uma realização que ainda não esta em curso.

Após uma gestação a mulher tem o puerpério, fase que se dedica ao filho e só após alguns meses se torna apta a gestar novamente. Vivo meu puerpério, quem sabem em alguns meses me anime a ter mais!

marramaqueadmin

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