🎵 ULTRASONHO revive memórias sonoras

O terceiro álbum do projeto ULTRASONHO mergulha o ouvinte em um labirinto sonoro repleto de nostalgia, ecos de TV e rádio, e estéticas obsoletas ressignificadas.
Nova aposta sonora: ULTRASONHO e o Brasil profundo do Signalwave
O artista paranaense por trás do projeto ULTRASONHO acaba de lançar seu terceiro álbum, “Nós Nunca Vamos Morrer”, trazendo à tona o conceito de “arqueologia do efêmero”. Enraizado nas estéticas do Signalwave e da Hauntologia, o trabalho resgata a decadência das mídias analógicas e transforma falhas, estáticas e distorções em arte. A expressão “ULTRASONHO” ganha corpo ao reconstruir memórias coletivas de uma geração conectada ao som das fitas VHS, jingles de desenhos animados e rádio AM.
Álbum mergulha na hauntologia brasileira
Hauntologia e Signalwave ainda soam estrangeiros para o público nacional, mas ganham versão abrasileirada nas mãos do criador do ULTRASONHO. O artista explica que o projeto busca simular um zumbido nostálgico entre o real e o imaginado. A proposta é criar músicas com múltiplos fragmentos, onde samples são esticados, ecoados e até “engolidos” por ruídos. O resultado é uma paisagem sonora tão reconfortante quanto inquietante, como se lembranças da infância estivessem sendo reproduzidas por um rádio quebrado.
Regionalismo em alta: São Mateus do Sul no coração da narrativa
Com apoio da Política Nacional Aldir Blanc, o álbum traz como pano de fundo a cidade natal do artista, São Mateus do Sul (PR). Trechos de programas de rádio locais foram coletados e transformados digitalmente, tornando-se portais sonoros disfarçados. Essa ligação regional não apenas confere identidade ao trabalho, mas também ressalta o desejo do artista de valorizar o Paraná na cena musical alternativa.
Memória e ruído: quando o caos sonoro é arte
O álbum, deliberadamente lo-fi, utiliza técnicas digitais para simular a degradação de fitas cassete e VHS. Dessa maneira, sons com interferência, baixa fidelidade e modulação errática são tratados como matéria-prima valiosa. “Pode parecer simples, mas deixar um som corretamente degradado exige precisão”, explica o autor, com bom humor. A ideia central é provocar sensações dúbias, onde o ouvinte oscila entre conforto e estranhamento.
Narrativa sonora sem linha do tempo
A construção das faixas ignora a linearidade cronológica. Fragmentos dos anos 70, 80 e 90 convivem em um mesmo espaço sonoro, embaralhando percepções temporais. O resultado é uma experiência auditiva semelhante a um sonho lúcido ou uma fita de memórias embaralhada. “Quando você acha que reconheceu algo, ele já se distorceu novamente”, comenta o artista.
Falas familiares em contextos insólitos
Entre os samples utilizados estão desde falas icônicas de apresentadores da TV brasileira até trechos de músicas de artistas como Beach Boys e Aphex Twin. Mas nada aparece como originalmente conhecido. Tudo é filtrado, remixado e devolvido ao ouvinte em novas formas, intensificando o efeito de nostalgia não linear.
Mais que um álbum, uma experiência sensorial
“Nós Nunca Vamos Morrer” não pretende apenas ser ouvido, mas sim sentido. O artista equilibra o grotesco e o belo, o perturbador e o acolhedor, criando paisagens sonoras que parecem transitar entre sonhos e pesadelos. Segundo ele, o projeto sempre buscou essa dualidade. “É como um som que parece familiar, mas que veio de um universo paralelo”, define.
Próximos passos do ULTRASONHO
Apesar de não ter intenção de se apresentar ao vivo, o criador do ULTRASONHO planeja expandir a experiência sensorial do projeto com videoclipes e outras mídias. Seu foco está na composição e edição, sempre experimentando novas possibilidades. “É um universo infinito”, afirma.
Impacto das políticas públicas na arte alternativa
O uso dos recursos do PNAB reforça a relação entre cultura, memória e políticas públicas. Para o artista, essas iniciativas são fundamentais para dar espaço à arte experimental e permitir que projetos como o ULTRASONHO floresçam fora dos grandes centros. “O alternativo precisa estar também no edital”, conclui.