Entrevista: Ally M. e J. B. Hope, escritoras

Entrevista: Ally M. e J. B. Hope, escritoras
  1. Como surgiu a ideia de transformar a fanfic inspirada no BTS em um romance ambientado no universo da Fórmula 1

RED é a junção de 3 coisas que amamos: BTS, Fórmula 1 e anos 1980. Por influência de nossas famílias, fãs de Ayrton Senna, criamos a trama inicial em torno de um piloto de Fórmula 1. Outra inspiração foi o filme “Rush”, que ambienta o acidente do piloto Niki Lauda. Já tínhamos o costume de escrever fanfics, então juntamos as ideias que cada uma tinha e assim nasceu RED. Desde que postamos o primeiro capítulo, vimos potencial para um livro pela autenticidade, pois nunca tínhamos visto algo do mesmo tema em meio as fanfics do fandom.

  1. Por que escolher os anos 1970/1980 como cenário para a trama de RED?

Crescemos rodeadas pela cultura pop dos anos 1970 e 1980 por influência de nossas famílias. Quando pensamos em Fórmula 1, é impossível não lembrar de pilotos icônicos da década de 1980. Foi quase automático ambientar a história nessa época, um contexto que amamos muito pela estética, movimentos sociais, fenômenos cinematográficos e, é claro, as músicas. RED desperta um sentimento nostálgico tanto em nós quanto nos leitores. 

  1. O que mais mudou na transição da fanfic original para o livro publicado? Quais foram os maiores desafios nesse processo?

O que mais mudou foi a aparência dos personagens e também alguns pontos de suas personalidades. Na obra original todos são mais intensos e coerentes, pois a nossa escrita amadureceu. A parte que mais amamos foi criar personagens originais com etnias diversas e peculiaridades. Mas, o nosso maior desafio, foi adaptar a escrita da fanfic para o livro físico. Quando lemos on-line, perdemos a noção da quantidade de páginas. Nisso, a primeira versão do manuscrito ficou gigantesca, precisamos fazer muitos cortes e criar estratégias para escrever de maneira mais objetiva, sem comprometer a essência do texto.

  1. Vocês mencionaram que dar vida aos personagens foi a melhor parte da adaptação. Como foi reconstruir visual e emocionalmente Jungkook e Jimin para se tornarem William e Jonathan?

Mantivemos a sua essência, mas eles se tornaram mais intensos e complexos. Já tínhamos definido as aparências antes mesmo de recebermos a proposta para um livro físico, mas vê-los ilustrados foi mágico. O Jungkook da fanfic já era rabugento e amargurado, mas o William consegue ser mais ainda. Torná-lo metade latino foi uma mudança interessante pelo contexto histórico e seu visual mostra melancolia e cansaço. Jimin era carismático e encantador; Jonathan possui o mesmo charme, porém sua personalidade é mais arisca e fria. No visual, idealizamos traços que expressam esse encanto, principalmente nos olhos e sardas. Alguém hipnotizante.

  1. William Scott é um personagem marcado por perdas e traumas. Como vocês construíram a personalidade dele e o arco de redenção ao longo do livro?

Inicialmente, William foi inspirado em Ayrton Senna, por ser a nossa maior referência da Fórmula 1 e em Niki Lauda pela personalidade metódica, e também pelo acidente com fogo. Ele começa como alguém melancólico e amargurado pelos traumas e cicatrizes. Mas, ao lado de Jonathan, ele descobre que o acidente não foi o fim, mas um começo. A jornada de William é um drama psicológico intenso, sua redenção é gradual e o leitor sentirá suas emoções do início ao fim. 

  1. Jonathan Evans chega com carisma e sonhos grandes. O que ele representa dentro da história?

Jonathan é o caos em pessoa, que chega de repente e vira a rotina de William do avesso. Ele é um personagem misterioso e, assim como o ídolo, não gosta de falar do passado. Johnny cativa a todos com seu charme, é impossível não se encantar por ele. Porém, mais do que o caos, Jonathan Evans representa uma chama de esperança e acredita fielmente que William Scott é a sua chance de conseguir realizar o seu sonho de se tornar um grande piloto. 

  1. A relação entre William e Jonathan tem elementos de idolatria, redenção e afeto. Como vocês descreveriam esse vínculo?

Para Jonathan é a realização de um sonho estar tão perto de seu maior ídolo. No entanto ele descobrirá que o “Piloto de Ouro” que ele idolatrava na adolescência não é mais o mesmo de antes. Para William, ter um fã cheio de expectativas e sonhos assim tão próximo é um lembrete doloroso do seu “eu” do passado que ele tenta esquecer.  Mas, no decorrer da trama, ele se deixa cativar pela luz que emana do garoto e, aos poucos, irá se conectar novamente com o que mais amava. A relação deles é construída aos poucos, cheia de conflitos, até que alguns sentimentos começam a florescer. 

  1. A cena do reencontro no beco é intensa e carregada de emoção. Qual a importância desse momento na trajetória dos personagens?

Essa cena é o ponto de partida e o primeiro ponto de virada na história. De um lado, temos um ex-piloto amargurado que odeia e evita tudo o que tem haver com a Fórmula 1. O que ele menos quer nesse momento, é ser reconhecido e chamar atenção. Do outro lado, temos um jovem piloto cheio de sonhos e esperanças que acabou de encontrar o seu maior ídolo e implora para que ele seja seu treinador. Esse primeiro encontro é um choque para os dois e o real começo da jornada dos personagens.

  1. A história aborda superação, amor e esperança. O que vocês esperam que o leitor leve dessa leitura?

Esperamos que os leitores sintam cada emoção vivida pelos personagens e que essa história toque seus corações. Queremos passar uma mensagem de força, foco e destreza para todos aqueles que um dia pensaram em desistir. Pois, nas palavras do Piloto de Ouro, nunca desista! 

  1. Além da Fórmula 1, a trilogia tem muitas referências à cultura dos anos 80. Como foi o processo de pesquisa e inserção desses elementos?

É sempre um processo incrível pesquisar sobre a ambientação da história. Tecnicamente, estamos na costa da Inglaterra no ano de 1985, então temos muitas referências à músicas, filmes e os movimentos de contracultura. A pesquisa é essencial para manter o texto coerente, dos modelos dos carros, regulamentação da Fórmula 1 na época e até mesmo a seleção de músicas. Fomos atrás de vários livros dessa temática, documentários e artigos. Tudo foi pensado para que os leitores se sintam dentro da história. 

  1. A paixão por música antiga aparece na narrativa. Tem alguma trilha sonora não-oficial que vocês imaginam para o livro?

Sim, com certeza! Cada capítulo de RED carrega o nome de uma música da época e cada música tem um significado na trama. Temos até uma playlist no Spotify com todas as músicas que estão presentes no livro. 

  1. Vocês se conheceram durante a pandemia e começaram a escrever juntas à distância. Como essa dinâmica influenciou o processo de criação?

Escrever em conjunto começou como uma brincadeira e essa dinâmica nos ajudou muito no processo de criação dos personagens e da história em si. Nunca tínhamos escrito em coautoria, mas desde que começamos, o texto de uma sempre complementa o da outra. Com o tempo, a nossa escrita foi amadurecendo e se tornou única. 

  1. Qual foi o momento em que vocês perceberam que RED poderia deixar de ser apenas uma fanfic e se tornar um livro publicado?

Conforme escrevíamos nas fanfics uma da outra, percebemos que RED era a que mais tinha conteúdo para formar um livro. Escrevemos vários rascunhos isolados apenas para passar o tempo e quando percebemos, já tínhamos o “corpo” da história, com início, meio e fim. Assim, foi só amarrar as pontas soltas e acertar os personagens, como montar um quebra cabeças. Desde que postamos o primeiro capítulo, em 2022, tínhamos a pretensão de tornar RED um livro físico. Parecia um sonho muito distante, mas bastou um ano para algumas editoras entrarem em contato. 

  1. Como foi o apoio da Editora Violeta nesse processo de transformação da obra?

A Editora Violeta foi excelente em todos os processos editoriais, desde a leitura crítica e revisão até as artes da capa e brindes. Desde o início contamos com um suporte incrível para que o livro ficasse do jeito que imaginamos e também para proporcionar uma boa experiência aos nossos leitores. 

  1. “RED” é o primeiro volume de uma trilogia. O que podem adiantar sobre os próximos livros?

Nos próximos livros, ainda haverão muitas descobertas a respeito dos personagens, saberemos mais sobre o passado do Jonathan e também algumas pontas soltas que ficaram sobre o passado do William. Além de muita adrenalina e emoção também. 

  1. Como tem sido a recepção dos fãs que acompanharam a fanfic desde o início?

A recepção dos leitores têm sido muito boa. Todos ficaram muito animados desde o anúncio do livro físico. E esperamos que ao ler essa história que já conhecem, os nossos leitores se apaixonem novamente por esses personagens, como nós nos apaixonamos. 

  1. Que conselho dariam para outras autoras e autores que querem transformar fanfics em romances publicados?

Como o próprio William diria, nunca desistam! As fanfics vêm conquistando um espaço cada vez maior no mercado literário nacional. Um sonho a princípio distante pode se realizar quando menos esperamos. E quando uma de nós vence, então todas nós vencemos um pouquinho. Por isso, nunca desistam de sonhar.

marramaqueadmin