Terra arrasada – Além da era digital, rumo a um mundo pós-capitalista

Jonathan Crary
tradução Humberto do Amaral
texto de orelha Giselle Beiguelman
Coleção Exit
brochura
192 pp.
14 × 21 cm
R$ 69,90
lançamento – 1/3 nas livrarias
Novo lançamento de Jonathan Crary, autor de 24/7 – Capitalismo tardio e os fins do sono, alerta que um futuro partilhado e habitável em nosso planeta só é possível se off-line.
“Rotas para um mundo diferente não serão encontradas nas ferramentas de busca da internet.” Essa afirmação categórica é um dos motes de Terra arrasada, o mais recente livro do crítico e professor Jonathan Crary, autor de 24/7 – Capitalismo tardio e os fins do sono. Dando continuidade à teoria apresentada nos livros anteriores, Crary interroga aqui a maneira como o capitalismo tardio se apodera de nossas possibilidades de existência subjetiva e objetiva, mediante o que chama de “complexo internético”, conjunto de dispositivos, lógicas e equipamentos ligados à internet que tem como sintoma mais gritante as redes sociais.
Discutindo fenômenos contemporâneos como o 5g, a Internet of Things (iot), a inteligência artificial, a biometria e o big data, o autor mostra como a operação do complexo internético caminha lado a lado com a devastação ecológica e a desolação da sociedade civil, lançando-nos num estado de “terra arrasada”. Ao mesmo tempo, Crary argumenta que vivemos hoje num mundo exaustivamente on-line, mas não irremediavelmente on-line: assim como é falsa a percepção de que o capitalismo durará para sempre, a ideia de que nosso mundo e nossas vidas serão condicionados pela internet de forma permanente e definitiva é falaciosa. Na verdade, as duas andam juntas, de modo que é preciso combater ambas, reconsiderando nossas necessidades e redescobrindo nossos desejos, atualmente pervertidos em toda parte e a todo instante, em busca de outras formas de nos comunicar, cooperar e conviver.
Essa tarefa, que coloca um desafio a nossa agência e a nossa criatividade, começa com a aceitação de “uma verdade irrefutável: não existem sujeitos revolucionários nas redes sociais”.
Sobre a autor
jonathan crary nasceu em 1951, em New Haven, nos Estados Unidos. Graduou-se em história da arte na Universidade Columbia, onde concluiu o doutorado, também em história da arte, em 1987. Entre 1973, realizou mestrado em artes visuais no San Francisco Art Institute, onde estudou cinema e fotografia. Entre 1983 e 1985, lecionou no Departamento de Artes Visuais da Universidade da Califórnia em San Diego. Em 1988, ingressou como professor afiliado do Programa de Estudos Independentes do Whitney Museum e, desde 1989, ocupa a cátedra Meyer Schapiro de teoria e arte moderna na Universidade Columbia. Foi professor visitante nas universidades Princeton e Harvard e é membro do Instituto de Estudos Avançados da Universidade Princeton. Colabora em revistas como Artforum, October, Cahiers du cinéma, Domus e Village Voice, entre outras. Em 1986, foi um dos fundadores da editora Zone Books, que publicou autores como Michel Foucault, Gilles Deleuze e Giorgio Agamben. Recebeu prêmios de grande prestígio como Guggenheim, Getty, Mellon e National Endowment for the Arts.
Obras selecionadas
Técnicas do observador: visão e modernidade no século xix [1990], trad. Verrah Chamma, org. Tadeu Capistrano. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012.
Suspensões da percepção: atenção, espetáculo e cultura moderna [2000], trad. Tina Montenegro. São Paulo: Cosac Naify, 2013.
24/7 – Capitalismo tardio e os fins do sono [2013], trad. Joaquim Toledo Jr. São Paulo: Ubu Editora, 2016.
Trechos selecionados
“Eis uma verdade irrefutável: não existem sujeitos revolucionários nas redes sociais.”
“Previsões alarmistas sobre o futuro totalizante da vigilância e da regulação digitais não apenas são exageradas mas também se caracterizam como um impedimento à percepção de quão livres somos, na verdade, para recusar as ordens do império e adotar formas alternativas de vida.”
“Como tudo o que ocorre no circuito sem fronteiras da internet é quantificado e, portanto, monetizável, muitas pessoas se agarram a uma convicção nebulosa de que a escalabilidade do on-line guarda em si possibilidades de riquezas dignas de loterias para um eu digital mercadorizado. Mas a realidade da internet está em sua eficiência em canalizar os minúsculos ativos de muitos em direção à carteira de investimentos de uma elite de poucos.”
“o contato direto entre seres humanos não se confunde nem pode ser comparado com a simples troca ou transmissão de palavras, imagens ou informações. Esse contato sempre está inundado de elementos não linguísticos e não visuais. Mesmo quando seus resultados são pouco inspiradores ou banais, os encontros face a face são uma base irredutível do mundo da vida e de sua comunalidade; trazem em si o possível surgimento de algo imprevisto que não tem nenhuma relação com a comunicação normativa. Encontros não acontecem em espaços vazios e tampouco estão limitados pelas bordas de uma tela. São uma imersão, a habitação de uma atmosfera, algo que, conscientemente ou não, afeta todos os sentidos. Esse tipo de encontro, essa proximidade, é literalmente uma con-spiração, um respirar juntos.”
“Estamos perdendo a possibilidade de escutar; de deparar, de maneira tolerante, com um estranho, alguém desamparado, alguém que não ofereça nada de útil a nosso interesse pessoal. Somos ainda mais incapazes de entender as dificuldades de estar presentes com alguém ou de aceitar que o diálogo pode ser uma abertura não para a conexão ou para o companheirismo, mas para a incognoscibilidade do outro.”
“É preciso que haja uma reformulação radical do pensamento sobre quais são nossas necessidades, sobre a redescoberta de nossos desejos para além da enxurrada de anseios superficiais que são promovidos de modo tão incessante.”
“O limiar de um mundo pós-capitalista não está longe – está a, no máximo, algumas décadas de distância. Mas, a menos que haja uma prefiguração ativa de novas comunidades e formações aptas à autogovernança igualitária, à propriedade compartilhada e ao cuidado de seus membros mais fracos, o pós-capitalismo será um novo campo de barbarismos, despotismos regionais e coisas ainda piores, no qual a escassez assumirá formas inimagináveis de selvageria.”