11 mar 2025, ter

“Ser negro no Brasil é criminalizado”, diz escritor Geovani Martins no Provoca

Nesta terça-feira (20/6), o programa Provoca recebe o renomado escritor Geovani Martins, autor dos livros “O sol na cabeça” (2018) – finalista do Prêmio Jabuti – e “Via Ápia” (2022). Em uma entrevista exclusiva com Marcelo Tas, Geovani revela detalhes sobre sua escrita e compartilha sua infância e vivência na zona sul do Rio de Janeiro, abordando temas relevantes para a sociedade. O episódio inédito será transmitido às 22h, na TV Cultura.

Durante a conversa, quando questionado por Tas sobre a realidade das comunidades cariocas com a chegada das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), Geovani afirma: “Foi muito louco esse período. Porque ser negro no Brasil é criminalizado, eu costumo dizer isso. As pessoas falam ‘ah, a maconha é proibida’. Não, a maconha não é proibida. Ser negro é proibido. Porque as pessoas brancas, de classe média, usam drogas na maior tranquilidade, sem nenhum medo”. Ele acrescenta que, devido à repressão histórica, em 2010 existia “a pior relação possível entre morador de favela e corporação policial”.

Geovani Martins também discute a escrita de seu livro “O sol na cabeça”, uma coletânea de contos que retratam a realidade da periferia carioca. Ele revela: “Nesse momento, eu ainda estava entendendo… Eu já sabia que estava fazendo um contraponto a várias coisas”, referindo-se às narrativas hegemônicas traçadas. Para exemplificar, Geovani menciona a forma como descreveu os personagens, contrastando com o que ocorre em grandes clássicos da literatura brasileira.

O escritor destaca que todos os personagens eram descritos por suas características, mas quando se tratava de um personagem negro, ele era rotulado apenas como “o negro”. Geovani ressalta que, mesmo em um país de maioria negra, o padrão estabelecido é o branco. Essa abordagem provocou questionamentos sobre a chamada “democracia racial”. O autor optou por não especificar se os personagens de sua obra eram brancos ou negros, mas a crítica e o público em geral assumiram, com base nas realidades descritas, que as histórias foram construídas em torno de personagens negros.

Ao relembrar sua infância, Geovani Martins compartilha sua experiência com a escola, afirmando que era um lugar que o aprisionava, apesar de proporcionar uma sociabilidade interessante. Ele menciona o dia em que um professor disse aos alunos que eles estudavam para se tornarem empregados dos alunos que frequentavam escolas particulares. “Isso me deixou com muito medo. Acho que o maior medo da minha vida era isso: viver a minha vida inteira servindo, sendo subvalorizado, sendo explorado”, completa o autor.

Geovani Martins tem uma trajetória única, tendo trabalhado como “homem placa”, atendente de lanchonete

e de barraca de praia antes de se tornar escritor. Ele participou das oficinas da Festa Literária das Periferias (Flup) em 2013 e 2015 e foi convidado para a programação paralela da Flip. Seu primeiro livro, “O sol na cabeça” (2018), que retrata a realidade da periferia carioca, foi finalista do Prêmio Jabuti e teve edições lançadas em 10 países. Recentemente, Geovani lançou seu primeiro romance, “Via Ápia” (2022).

Não perca a oportunidade de assistir à entrevista reveladora com Geovani Martins no Provoca, que será exibida nesta terça-feira (20/6), às 22h, na TV Cultura. Um programa que promete abrir discussões sobre questões sociais relevantes e promover reflexões sobre a realidade do Brasil contemporâneo.

Lei Nacional de Incentivo à Cultura – Realização: TV Cultura, Ministério da Cultura, Governo Federal.