1. O título do álbum, “Se No Mundo Não Tivesse Espelho”, é provocador e reflexivo. Como surgiu essa ideia e o que ela significa para você?
A ideia surgiu de uma aula que eu estava ministrando sobre colonização, especificamente sobre a entrega de espelhos aos indígenas pelos portugueses. Um aluno me fez uma pergunta jocosa: “E se no mundo não existisse espelhos?” Isso gerou reflexões profundas, e quatro dias depois encontrei o poema do poeta pernambucano Miró da Muribeca com o verso “SE NO MUNDO NÃO TIVESSE ESPELHO”, o que deu origem ao título.
2. A “tirania do espelho” é um tema central. Como você acredita que a autoimagem influencia nossas vidas e nossa sociedade hoje?
A tirania do espelho representa a opressão que vivemos por meio da preocupação constante com a nossa imagem, especialmente em tempos de redes sociais. A dependência da nossa aparência se tornou uma verdadeira escravidão.
3. Suas músicas abordam temas filosóficos, como vaidade, identidade e espiritualidade. Como foi o processo de traduzir essas reflexões em música?
Sempre estive preocupado com a condição humana e o fenômeno da Existência. A identidade cultural, a memória coletiva e o pertencimento a um povo estão presentes em minha obra, assim como a espiritualidade, que se entrelaça naturalmente nos meus discos.
4. Seu álbum mistura música nordestina com elementos de rock progressivo. Como você chegou a essa combinação de estilos?
A mistura vai além do baião e da cantoria de viola nordestina, abrangendo blues, hard rock, samba, e mais. Para mim, cada gênero é um caminho musical, um horizonte a ser explorado, sem limitações de estilos.
5. Você é frequentemente comparado a artistas como Zé Ramalho e Belchior. Como essas influências moldaram sua música, e como você mantém sua identidade única?
Detesto comparações, mas entendo que as influências são inevitáveis. Embora admire muito artistas como Zé Ramalho, Belchior, e outros, procuro fugir dessas comparações ao criar uma música mais pesada e ácida. Minha obra aborda temas diferentes, mas a referência poética é similar à dos violeiros repentistas.
6. “Quando A Gente Recebia Cartas” remete a um tempo mais analógico. Qual foi a inspiração por trás dessa faixa?
A faixa reflete sobre a perda dos sentidos na pós-modernidade, uma crise nas relações socioafetivas. Estamos lentamente abandonando práticas antigas, como escrever cartas, sem perceber as consequências disso.
7. Este álbum marca uma nova fase na sua carreira, com maior projeção internacional. Como está sendo receber essa receptividade em países como Grécia e Itália?
Alcançar o mercado internacional sempre foi um objetivo. É gratificante ver a recepção positiva da minha música em outros países, especialmente em lugares como a Grécia e Itália.
8. Qual foi o papel do selo Musikorama Music na estruturação dessa nova etapa da sua trajetória?
A gravadora tem feito um trabalho excelente em distribuição e marketing, algo que seria muito difícil para mim realizar sozinho, já que não tenho habilidade em auto-divulgação.
9. A crítica de Régis Tadeu chamou você de “pérola brasileira”. Como você enxerga esse reconhecimento e a responsabilidade que ele traz?
Ser elogiado por um dos maiores e mais polêmicos críticos do Brasil é um grande honor. Ter a “chancela” de Régis Tadeu é como um “salvo-conduto”, uma validação importante para minha carreira.
10. Cada faixa parece ser uma peça de um quebra-cabeça maior. Como foi o processo criativo para construir essa narrativa coesa no álbum?
Todos os meus álbuns são temáticos, com um conceito que interliga as canções. Elas funcionam melhor quando ouvidas de forma linear, criando uma narrativa coesa.
11. A arte da capa é impactante. Qual foi sua colaboração com o artista He_Art para chegar a esse conceito visual?
Essa foi a primeira vez que não interferi na criação da capa. Fiquei muito satisfeito por não ter dado nenhum palpite, permitindo que o artista tivesse total liberdade criativa.
12. Seu trabalho convida o ouvinte a uma jornada de autoconhecimento. Qual mensagem você espera que o público leve após ouvir o álbum?
Espero que as pessoas se voltem para o “eu profundo” de cada um, para sua essência, deixando de lado as aparências e as ilusões.
13. O que vem a seguir para Júnior Cordeiro? Há planos para turnês, novos projetos ou colaborações?
No momento, estou planejando um terceiro DVD, onde farei um show com a Orquestra Sinfônica Jovem da Paraíba. A ideia está em andamento, mas já está em curso.