Entrevista: Solaine Chioro, escritora

Entrevista: Solaine Chioro, escritora
  1. Balela é seu segundo romance publicado. Como foi o processo de escrita comparado ao de Reticências? Houve alguma mudança na sua forma de narrar ou criar personagens?

Reticências foi um livro menor e também uma retomada de uma história que já tinha sido publicado de forma independente. Teve seus desafios próprios, mas foi bem diferente da escrita de Balela, que eu passei uns bons anos batendo cabeça e mexendo e remexendo no texto até descobrir a história que queria contar; o que não aconteceu com Reticências, que já veio com um enredo mais pronto na minha mente antes de escrever. Além das mudanças mais estruturais que acabam afetam muito a narrativa, porque enquanto Reticências é um livro em terceira pessoa com capítulos intercalados do Davi e da Joana, junto com trocas de mensagens, Balela é um romance em primeira pessoa, todo do ponto de vista da Pietra.

  1. A história de Pietra envolve temas como amadurecimento, insegurança e coragem. O que a inspirou a criar essa protagonista e sua jornada?

A Pietra foi uma das personagens mais difíceis que já escrevi. Eu demorei muito para entender quem ela era, o que ela queria e do que precisava. Foi um pouco frustrante até, porque eu costumo começar a desenvolver um enredo justamente pela protagonista, e com a Pietra, eu sempre sentia que quando estava quase lá, entendendo a personagem, ela escapava de novo. Eu acho que essa minha relação com a própria personagem acabou inspirando a jornada que queria contar sobre ela. Eu tive dificuldade de entender e conhecer a Pietra, porque a própria personagem estava tendo esses problemas, de lidar com as inseguranças, entender o que queria da vida e criar coragem para seguir por um caminho escolhido. 

  1. O romance fake entre Pietra e Eric gera muitas situações hilárias. Como foi desenvolver essa dinâmica entre os personagens? Alguma cena favorita durante a escrita?

Relacionamento falso é um dos meus tropes favoritos! Escrever todas as interações do Eric e da Pietra nesse contexto foi divertido, principalmente porque eles são bem diferentes em muitos aspectos, mas acabam se encontrando em várias semelhanças no meio dessa mentirinha. Acho que minha cena favorita é a primeira vez em que o Eric conhece os pais da Pietra.

  1. Lunito, ex-integrante de um grupo de pagode dos anos 90, é uma figura inusitada. Como surgiu a ideia desse personagem e qual o papel dele na trama?

Eu queria que a Pietra fosse cercada de amigos e familiares que a amam e que ela também ama muito, apesar das mentiras que acaba inventando para eles. E no meio disso, eu queria que ela tivesse alguém próximo que soubesse de todas as mentiras, que não necessariamente apoiasse suas escolhas, mas que estivesse do lado dela para o que precisar; então o Lunito funciona muito como esse porto seguro, além de ser também essa ponte da Pietra com a música. O Lunito e o pai da Pietra serem integrantes do Semba, esse grupo fictício de pagode que só teve uma música de sucesso, foi muito inspirado em duas coisas; a primeira (a sementinha de tudo) foi o personagem Roney Romano, interpretado pelo Lúcio Mauro Filho em Malhação: viva a diferença, que era pai de uma das protagonistas da novela e também tinha sido um cantor conhecido por um grande sucesso, mas que não vivia mais a vida de astro musical; a segunda inspiração (ou talvez já pesquisa de trabalho) foi o podcast Depois Daquele Hit, apresentado pelo Zeca Camargo, em que ele conversa com cantores brasileiros que só tiveram uma música de grande sucesso. Essas duas coisas me motivaram muito a inserir o Lunito, o pai da Pietra e o Semba em Balela.

  1. O cachorro Bombom parece ser um personagem adorável na história. Como foi incluir um pet na trama e qual a importância dele na jornada da Pietra?

Eu acho que o Eric nunca existiu na minha mente, antes mesmo de escrever de fato, sem o Bombom do lado. Foi muito divertido escrever esse cachorrinho fofo e poder usar ele na narrativa como uma ferramenta para desenvolver o relacionamento da Pietra com o Eric. O Bombom ajuda muito na aproximação do casal, dá uma atrapalhadinha aqui e ali, além de ser muito, muito fofo!

  1. Balela segue a linha da comédia romântica, um gênero muito querido pelo público. Quais são suas maiores influências nesse estilo? Algum livro, filme ou autor favorito?

Eu amo comédia romântica, é um dos gêneros que mais consumo, então são muitas influências, de anos e anos assistindo todo e qualquer filme do gênero. De livro, eu acho que Emma, da Jane Austen, é um dos clássicos que passa muito bem tudo que o gênero pede. Uma autora mais recente que eu amo é a Talia Hibbert; eu adoro todos os livros dela! Um dos meus filmes favoritos do gênero é 10 coisas que odeio em você, que vivo reassistindo. Algo que vi há pouco tempo, mas já deixou uma marquinha, foi a novela turca Será isso amor?, que tem um casal vivendo um relacionamento falso!

  1. Você acredita que o romance fake ainda tem fôlego como trope literário? O que acha que o torna tão irresistível para os leitores?

Com certeza! Tanto que filmes, séries, novelas e livros com esse trope nunca deixaram de existir. Eu acho que além de ser divertido ver as situações engraçadas que esse enredo gera, também é adorável ver o romance surgindo dentro de uma relação que não era para ser real, em que as partes envolvidas não estavam esperando por isso. Existe uma cumplicidade no romance falso que torna os envolvidos mais próximos e mais vulneráveis, e isso encanta muito quem acompanha o desenvolvimento do casal.

  1. Seu livro traz tretas familiares, encontros forjados e uma jornada de autodescoberta. Como equilibra o humor com momentos mais emocionantes na sua narrativa?

Com o tempo e muito trabalho, a gente vai entendendo o que nossa história pede, o que ajuda nesse processo. Às vezes uma história pode te puxar mais para o humor, ou mais para o drama, ou mais para o romance, e tudo bem, não existe resposta certa. O importante é a gente entender o que queremos contar e ir lapidando o livro em torno disso, sabendo onde entra o humor e onde entra a emoção. Conhecer bem o gênero e sua própria narrativa é essencial.

  1. Você é escritora, revisora, leitora crítica e tradutora. Como essas diferentes funções influenciam sua escrita?

Trabalhando com livros de diferentes formas, eu acabo entrando em contato com muitas narrativas que talvez não lereia por diversão, o que acaba enriquecendo meu repertório, me ensinando mais sobre outras formas de escrita, outras estruturas narrativas e outros gêneros. Tudo isso acaba indo para o estoque de conhecimento que todo autor vai criando com o tempo e utilizando na hora de escrever.

  1. Seu primeiro livro, Reticências, conquistou muitos leitores. Como foi a recepção do público e como isso impactou sua carreira?

Eu sempre fico muito tocada com o carinho dos leitores com Reticências e é muito surreal pensar que esse livro, que escrevi lá no meu quarto, no meu computador, chegou em tantas pessoas que se identificaram com as personagens. Isso me motiva muito e me faz acreditar que estou fazendo a coisa certa de alguma maneira.

  1. Quais são seus próximos projetos? Já tem uma nova história em mente para depois de Balela?

Ainda não tem nada muito concreto, mas ideia é o que não falta! Tem até alguns personagens que aparecem em Balela que tenho vontade de explorar mais no futuro, mas por enquanto só ideias soltas mesmo. 

  1. Se pudesse escolher qualquer um dos seus personagens para tomar um café e bater um papo, quem seria e por quê?

Eu convidaria o Eric, de Balela, porque ele é um querido e muito divertido, com certeza íamos passar horas conversando (e ainda tem a chance de ele aparecer com o Bombom junto!).

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