Entrevista: Paula Furtado, escritora

Entrevista: Paula Furtado, escritora

1. O que a inspirou a escrever O Papagaio Mentiroso?

A inspiração veio do cotidiano com as crianças na clínica. Muitas vezes, elas usam a mentira como uma forma de se proteger ou de chamar atenção. Comecei a perceber que havia uma necessidade de falar sobre isso de forma lúdica, sem julgamento, trazendo empatia e leveza para um tema que costuma ser tratado com dureza.

2. Como surgiu a ideia do personagem Matraca e sua relação com a mentira?

O nome já veio com som de tagarelice! O Matraca representa aquele personagem encantador, divertido, mas que não mede consequências. A mentira, para ele, é quase como um jogo, até que as consequências chegam. Criei o Matraca como uma figura que pudesse provocar o riso, mas também a reflexão.

3. A história tem um tom divertido, mas traz um aprendizado importante. Como foi equilibrar esses elementos na narrativa?

Esse equilíbrio é sempre um desafio. Eu gosto de brincar com o cômico, com a fantasia, mas sem perder o fio do afeto e da verdade. O humor torna a escuta mais aberta. Quando a criança ri, ela também relaxa e se permite pensar sobre o tema trabalhado. O aprendizado vem como uma semente plantada, não como lição de moral.

4. Você acredita que as crianças se identificarão com Matraca e sua trajetória?

Acredito muito nisso. O Matraca é impulsivo, criativo, carismático — ele se parece com muitas crianças que conhecemos. E justamente por isso, sua jornada gera identificação. As crianças também passam por esse processo de entender os limites, de perceber como suas atitudes afetam o outro. Matraca vive isso de um jeito exagerado, mas muito próximo da realidade infantil.

5. Como a obra pode ser utilizada no contexto pedagógico e terapêutico?

No contexto pedagógico, o livro pode abrir conversas riquíssimas sobre convivência, ética, empatia e até mesmo sobre a linguagem. Além disso, é um excelente recurso para trabalhar a alfabetização, pois a história é construída com rimas, o que favorece o desenvolvimento da consciência sonora, um elemento fundamental nessa fase. As rimas despertam o interesse, facilitam a memorização e tornam o processo de aprendizagem mais lúdico e envolvente.

Já no contexto terapêutico, o livro é uma ferramenta valiosa para trabalhar com crianças que enfrentam dificuldades em lidar com a verdade ou que se sentem pressionadas a inventar histórias para se sentirem aceitas. A partir da narrativa, é possível criar jogos, dramatizações, desenhos e reflexões que contribuem para o autoconhecimento e o desenvolvimento emocional.

6. Você mencionou que crianças pequenas ainda confundem fantasia e realidade. Como os pais e educadores podem ajudar nesse processo de aprendizado?

Essa confusão faz parte do desenvolvimento infantil. A fantasia é fundamental para o crescimento emocional e cognitivo. O papel do adulto é acolher essa fase com sensibilidade, ajudando a criança a perceber, aos poucos, a diferença entre o que é faz de conta e o que é real, sem interromper a brincadeira, mas oferecendo espaço para reflexão: “Isso aconteceu de verdade ou foi invenção da sua cabeça?”, são perguntas simples que ajudam muito.

7. Que estratégias você sugere para abordar o tema da honestidade com as crianças sem torná-lo algo punitivo?

A escuta é a principal ferramenta. Antes de corrigir, é preciso entender o que motivou a mentira. Às vezes, ela vem do medo de decepcionar ou de ser punido. Em vez de acusar, podemos acolher com perguntas e conversar sobre os sentimentos envolvidos. Histórias, como a do Matraca, funcionam muito bem porque permitem que a criança fale sobre o outro sem se sentir exposta.

8. A história também ensina sobre confiança. Como acredita que esse aspecto impacta o desenvolvimento infantil?

A confiança é a base de qualquer relação saudável, e ela começa na infância. Quando uma criança percebe que pode contar com o outro e que o outro também confia nela, ela se sente segura para criar e crescer. Histórias que abordam a quebra e a reconstrução da confiança ajudam a criança a entender que erros acontecem, mas também podem ser reparados.

9. Como foi a parceria com a ilustradora Carol Juste? As ilustrações ajudaram a fortalecer a mensagem do livro?

Foi uma parceria deliciosa! A Carol trouxe leveza, humor e emoção com os traços dela. O Matraca ganhou vida de um jeito encantador. As expressões dos personagens ajudam a criança a identificar sentimentos e situações. Muitas vezes, a imagem diz aquilo que o texto apenas sugere. É uma parceria que enriqueceu muito o projeto, a Carol já ilustrou muitos livros meus e o sucesso é sempre garantido.

10. O que considera essencial na criação de livros infantis que tenham um impacto positivo no aprendizado das crianças?

A primeira coisa é respeitar a inteligência emocional e criativa da criança. Um bom livro infantil não precisa ser didático para ensinar. Ele precisa ser verdadeiro, ter alma, provocar sensações. É preciso acreditar que a história fala diretamente com a criança, sem subestimar sua capacidade de compreender o mundo.

11. Você teve algum retorno de crianças ou professores sobre o livro que te marcou?

Sim, recebi um vídeo de uma criança que disse: “Eu também, às vezes, sou meio Matraca, mas tô tentando melhorar”. Achei tão bonito, tão honesto! Também ouvi de uma professora que está utilizando o livro para trabalhar o tema com alunos do 2º ano e teve uma roda de conversa super-rica. Essas devolutivas são o maior presente para mim.

12. Como será o lançamento na Piu Piu Escola? O que o público pode esperar do evento?

Vai ser uma grande festa da imaginação! Teremos contação de histórias, bate-papo com os pequenos, sessão de autógrafos e atividades lúdicas com base no livro. É uma oportunidade de aproximar as crianças da autora, da leitura e da magia que existe dentro das histórias. E, claro, o Matraca vai estar muito bem representado! E também farei uma palestra para os pais falando da importância de contar histórias como recurso terapêutico.

13. Além de O Papagaio Mentiroso, você já tem planos para novos livros ou projetos?

Sempre! Tenho algumas histórias prontas e outras nascendo. Gosto de estar em movimento, criando pontes entre o livro e o mundo real. Logo trarei as novidades que estão no forno.

14. Qual mensagem final você gostaria de deixar para pais, professores e leitores sobre a importância da leitura infantil?

A leitura é um presente que oferecemos à criança e que ela carrega para sempre. Ler junto, escutar uma história, conversar sobre ela… tudo isso cria vínculos, alimenta a imaginação e fortalece a expressão emocional. O livro é um espelho e uma janela: ajuda a criança a se reconhecer e a ver o outro com mais empatia. Contar histórias é um ato de amor, pois manda a mensagem para criança que o grande problema dela também tem solução.

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