Entrevista: Banda Gone

Entrevista: Banda Gone

1. O álbum O Medo Que Está em Mim parte de um lugar muito íntimo. Como foi  o processo de transformar dores pessoais em composições que dialogam com  o público de forma tão universal? Todas as músicas foram compostas por  Douglas Cavalcanti, e inicialmente foi um processo “doloroso”, tendo em vista que  iniciei as composições em uma fase da vida onde tudo estava dando errado e não  conseguia dialogar sobre meus problemas com ninguém, toda minha insegurança  e ansiedade eu despejava nas músicas. Era como se fosse um diário, um desabafo  íntimo e ao mesmo tempo um suspiro de alívio por achar uma forma de  compartilhar meus problemas. Nunca imaginei que algum dia alguém iria dar  importância ao meu sentimento em forma de música, e hoje me deparo com o  álbum ganhando um destaque natural, e muita gente falando da importância do  tema e de como as músicas fazem parte de muitos momentos que eles já passaram  na vida. 

2. Douglas, você menciona que a criação do disco também foi um processo de  cura. Houve alguma música em especial que representou um ponto de virada  emocional para você durante esse percurso? A música “Eu Vou Te Dizer” foi o  grande marco onde eu ainda me encontrava perdido, desacreditado, mas decidi  acreditar em mim mesmo, comecei a achar a cura através das ações que eu  comecei a fazer pra ter um dia melhor. Foi quando olhei no espelho e falei a mim  mesmo que eu posso ser o que eu quiser. 

3. Como a banda enxerga a relação entre arte e saúde mental? Vocês acreditam  que a música pode funcionar como uma ferramenta terapêutica?

A música tem  um poder fantástico de comunicação direta com o público. Muitas vezes,  principalmente quando nos encontramos num estado de tristeza, uma das  primeiras coisas que fazemos é escutar músicas tristes que encaixem com o  momento e com o que estamos sentindo naquela hora, isso de certa forma é um  jeito de desabafar tudo que sentimos. Também podemos enxergar que muita  música “animada” pode inspirar e mudar o cotidiano das pessoas. É incrível como  cada de tipo de música pode influenciar a saúde mental de cada ser humano.  

4. O álbum tem uma narrativa quase cinematográfica — começa com angústia,  mas termina com superação. Foi uma construção consciente? Como decidiram  a ordem das faixas? Foi totalmente consciente, é um álbum que à primeira vista,  seria solo de Douglas, mas fez mais sentido lançar pela banda. Retrata toda uma  trajetória genérica de muita coisa que estava sentindo, principalmente por perda de  familiares, como fui superando e ao fim de tudo, sempre me dizendo que eu poderia  superar qualquer coisa, e poderia ser quem eu quisesse. A ordem das faixas foi  decidida seguindo a lógica que tanto os nomes, quanto a logística da ordem  fizessem sentido, começando com a angústia e desespero, e ao final de tudo, a 

superação sendo remetida nas músicas, tanto leves quanto pesadas. Tentamos  jogar pro mundo a ideia que toda dor tem um fim, só basta acreditar que você pode  vencer. 

5. A sonoridade do disco mistura referências do rock nacional com a identidade  própria do pop rock pernambucano. Quais foram as principais influências  musicais nesse trabalho?

Tivemos fortes influências de bandas internacionais,  como Eyes Set To Kill, Creed, 3 Doors Down,e as bandas nacionais: Rosa de Saron,  Fresno, Esteban Tavares, NxZero. Tivemos forte influências de bandas emos do  cenário nacional, principalmente por enxergar que é uma turma que sempre foi  muito criticada, mas nota-se que eles colocam o coração nas músicas. Dá pra  sentir todo o feeling das composições, tudo deles parece ser muito verdadeiro.  

6. Vocês têm uma trajetória de quase dez anos e passaram por vários palcos e  premiações. Como avaliam essa caminhada até o lançamento do primeiro  álbum de estúdio?

Foi uma trajetória linda e inédita na Zona da Mata. Somos a  banda de Rock da Zona da Mata com mais longevidade na história, e com mais  lançamentos também. Ao mesmo tempo, não podemos dizer que só aconteceram  coisas boas. O cenário musical da região e do Estado não contribui, essa chegada  repentina dos meios digitais, essa “obrigação” de ter que colocar a cara nas redes  sociais nunca foi nosso forte, fomos totalmente impactados com esse boom do  instagram se tornando a maior referência de comunicação para todo mundo que  consome música. Quem é desse meio, sabe muito bem o quanto é necessário estar  sempre se reinventando, sempre criando conteúdo. O artista hoje em dia precisa  ser, além de um bom músico, necessita ser produtor, compositor, marketeiro, ator,  empresário… Tem que se virar nos 30. Seguimos firmes e fortes nessa jornada, sem  dar muita atenção ao algoritmo das redes sociais, e fazendo nossas músicas.  Temos um público consolidado, e tem bastante gente que gosta de escutar nossas  músicas. Então se temos valor pra alguém, todo o trabalho já valeu à pena. 

7. A participação do guitarrista Diogo Mafra certamente agregou muito valor.  Como surgiu esse convite e como foi a troca artística com ele?

Douglas  conheceu Diogo Mafra na internet, onde foi aluno do mesmo em um curso online.  Douglas ganhou destaque e Diogo Mafra o convidou para participar de uma live no  Instagram, no intuito de fornecer conhecimentos de composição e inspiração para  outros artistas. Após a criação desse forte vínculo de respeito e amizade, Douglas  fez o convite pro Diogo e o mesmo aceitou na hora, pra fazer o solo da música Abro os Olhos. A música precisava de uma cara diferente, e assim foi pensado e feito o  convite a ele, e deu no que deu. É a música mais escutada da banda  disparadamente no Youtube.

8. O álbum foi viabilizado com incentivo da Lei Aldir Blanc. Como tem sido essa  experiência de produção cultural com apoio público, especialmente no cenário  independente nordestino?

Já é o terceiro projeto que a banda aprova em editais  culturais, somatizando nível municipal e estadual. Vimos que através da produção  cultural conseguiríamos custear toda a produção musical. É uma situação que  sempre estaremos na ativa, buscando recursos financeiros pra banda se manter na  ativa. A produção cultural é a chave pra execução dos projetos dos artistas  independentes nessa nova era. 

9. Para quem está ouvindo O Medo Que Está em Mim pela primeira vez: que tipo  de escuta vocês gostariam de provocar?

De que todos são capazes de chegar em  qualquer lugar e conquistar tudo que almeja. Que dias ruins virão, mas sempre  haverá a oportunidade de acordar no outro dia e tentar tudo outra vez. Nunca  desistir e sempre persistir. 

10. Quais os próximos passos da banda após o lançamento do álbum? Há  planos para videoclipes, turnê, sessões acústicas, etc.?

Pretendemos fazer a  gravação de videoclipes para divulgar ainda mais o trabalho do álbum. Atualmente,  já estamos em estúdio produzindo e ensaiando uma surpresa especial em  comemoração aos 10 anos de banda, que se concretiza no dia 21 de novembro.  Temos a pretensão de um lançamento de um álbum acústico tocando 90% das  músicas nesse formato, e lançar um disco inédito em 2026, onde as músicas já  estão sendo construídas.

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