Michael Ruse investiga as origens do ódio humano

Em obra póstuma, filósofo analisa a violência como construção histórica e não como instinto biológico
O filósofo da ciência Michael Ruse (1940–2024) nos entrega, em seu último trabalho, uma análise provocadora e esclarecedora sobre a raiz dos conflitos humanos. Lançado no Brasil com o título Por que odiamos: entendendo as raízes dos conflitos humanos, o livro combina biologia evolutiva, história, filosofia e literatura para explorar a dualidade da condição humana — capazes de empatia e compaixão, mas também de crueldade e intolerância.
Longe de justificar a violência como uma herança biológica inevitável, Ruse defende que guerras, preconceitos e ódios sociais são frutos de construções históricas e culturais. Inspirado tanto por pensadores clássicos como Rousseau e Hobbes quanto por marcos como o Holocausto e o movimento Black Lives Matter, ele constrói um panorama denso e acessível sobre os mecanismos que alimentam o ódio coletivo.
Da biologia à moral
Adotando uma abordagem darwinista, Ruse recorre a descobertas da arqueologia, psicologia e antropologia para desnaturalizar a violência. Ao mesmo tempo, lança mão da literatura e de sua vivência pessoal — como quaker pacifista e sobrevivente moral da Segunda Guerra Mundial — para refletir sobre a responsabilidade coletiva diante dos horrores da intolerância.
Com estilo direto e humor sutil, o autor examina manifestações do ódio como racismo, misoginia e antissemitismo, sem perder de vista a pergunta central: se somos seres sociais por natureza, por que ainda odiamos tanto?