Manuscritos inéditos de Adam Smith revelam reflexões sobre leis, governo e progresso humano
Publicação da Editora Unesp traz pela primeira vez em português as Lições de jurisprudência, curso que ilumina a base moral e política do pensamento do autor de A riqueza das nações
Pouco conhecido fora dos círculos acadêmicos, o volume Lições de jurisprudência, lançado pela Editora Unesp, chega ao público brasileiro revelando um lado menos explorado de Adam Smith — o filósofo escocês que transformou o entendimento sobre moral, economia e sociedade no século XVIII. A obra reúne anotações inéditas em português de cursos ministrados por Smith na Universidade de Glasgow, por volta de 1760, e oferece um panorama raro sobre suas ideias a respeito de justiça, leis e governo.
Mais do que um curso de direito, o livro apresenta um Smith interessado em compreender como as leis se moldam às transformações históricas e sociais. O pensador projetava estender seu sistema filosófico — já exposto em Teoria dos sentimentos morais e A riqueza das nações — ao campo da jurisprudência, propondo uma reflexão sobre os princípios que sustentam a organização da vida civil.
Ciente de sua saúde frágil, Smith determinou que a maior parte de seus manuscritos fosse destruída após sua morte, o que fez com que muitos escritos se perdessem — inclusive, possivelmente, o material de um livro inacabado sobre “os princípios gerais da lei e do governo”. As Lições de jurisprudência começaram a ganhar corpo apenas no final do século XIX, quando foram descobertos registros feitos por alunos que frequentaram suas aulas.
Entre leis, moral e progresso
As reflexões reunidas na obra percorrem temas como a constituição dos governos, os direitos conjugais, a propriedade privada, a escravidão, a divisão do trabalho e a evolução das sociedades. Em cada questão, Smith propõe uma concepção de justiça vinculada à ideia de progresso humano e civilizatório.
“As aulas não se restringem a expor eventuais posições do filósofo em relação a temas candentes em sua época (a escravidão, os direitos da mulher etc.), elas o fazem de maneira a revelar o método e a abordagem de Smith — aqui, como em toda a sua obra, um grande filósofo moral”, observa a historiadora Júlia Marchevsky na orelha do livro.
Na apresentação, a tradutora Eveline Hauck destaca o papel central dessas lições na compreensão do pensamento smithiano: “As Lições de jurisprudência ocupam uma posição mediadora importante não apenas por apresentarem, de forma inédita, os contornos de sua concepção sobre justiça e governo, mas também por oferecerem elementos para se analisar o desenvolvimento de suas ideias econômicas e avaliar a influência que a fisiocracia exerceu sobre sua obra.”
Dialogando com pensadores como David Hume e Montesquieu, Smith reflete sobre as estruturas jurídico-políticas do século XVIII e redefine as tradições do liberalismo político e do jusnaturalismo. Suas observações sobre a relação entre leis, economia e evolução social permanecem notavelmente atuais nos debates sobre equidade, Estado e direitos fundamentais.
📘 Ficha técnica
Título: Lições de jurisprudência: 1766
Autor: Adam Smith
Tradução: Pedro Paulo Pimenta, Eveline Hauck
Apresentação: Eveline Hauck
Número de páginas: 342
Formato: 13,7 x 21 cm
Preço: R$ 108
ISBN: 978-65-5711-288-5
Editora: Unesp
