Entrevista: Keila Dier, palestrante e empresária

Entrevista: Keila Dier, palestrante e empresária

1. Keila, o título do livro já carrega uma convocação: “Seja inspiração”. De onde  veio esse impulso para escrever sobre liderança a partir de um lugar mais humano  e empático? 

R = Esse impulso veio ao longo dos 25 anos de experiência como líder e  empreendedora. Os desafios vividos foram me ensinando que liderar não é sobre  ter um cargo, mas é sobre impactar, influenciar e inspirar pessoas o tempo todo. E a maneira mais assertiva de inspirarmos alguém é através das nossas atitudes, do  nosso exemplo. Aquela história de “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”,  nunca funcionou. Muitos líderes ainda não perceberam que influenciamos  diretamente as pessoas ao nosso redor com as nossas ações, nosso jeito de falar,  de pensar, e essa influência pode inspirar de forma positiva ou negativa as  pessoas. Por isso o título, Seja Inspiração, convocando realmente os líderes a  contribuírem com um mundo melhor feito de pessoas melhores. Liderança = Líder  + Herança, qual herança você está deixando para as pessoas com as quais  convive? 

2. Você afirma que poucos realmente dominam a arte de liderar com inteligência e  estratégia. O que tem faltado nas lideranças atuais, especialmente no Brasil? 

R = Tem faltado focar mais nas pessoas, e não somente nos resultados. Quem  produz resultados nas organizações são as pessoas e estas precisam estar em  equilíbrio para que possam desenvolver um bom trabalho. Para que o líder possa  desenvolver este olhar é essencial que ele inicie um processo de  autoconhecimento profundo, entendendo suas emoções, crenças, padrões de  comportamento. O autoconhecimento traz clareza e um olhar diferente para nós e  para o outro; tem faltado coragem para demonstrar vulnerabilidade, ou seja, ainda  existe uma resistência em demonstrar nossas emoções, em demonstrar que  somos humanos, que cometemos erros, que não sabemos de tudo, e isso é o que  mais conecta na liderança; tem faltado assertividade na comunicação, saber ouvir  o outro na essência e entender que comunicação não é o que eu falo, mas o que o  outro entende.  

3. O livro propõe uma união entre autoconhecimento, inteligência emocional,  neurociência e comunicação. Como surgiu essa combinação de pilares e como  ela se aplica na prática? 

R = Essa combinação surgiu a mais de 10 anos, quando, após muito estudo e  vivência, eu compreendi que para liderar pessoas eu precisava entender de 

“pessoas”, começando por mim, e não entender apenas de números, de  processos, de tecnologia. E conforme fui aprofundando meus estudos fui  entendendo que habilidades como comunicação, empatia, inteligência emocional  não são dons inatos, mas competências que podem e devem ser desenvolvidas e  exercitadas para que possamos nos tornar líderes mais eficazes. E a neurociência 

vem como um poderoso pilar nesse processo, pois traz explicações valiosas de  como a mente opera sob pressão, como tomamos decisões, de que forma o  estresse afeta nossa produtividade e nosso comportamento, trazendo muitas  informações que nos auxiliam no exercício da liderança. 

4. Você é CEO, mãe, esposa, filha, analista comportamental e consteladora.  Como esses papéis distintos e complementares moldaram sua visão de  liderança? 

R = Cada um desses papeis que exerço foram e continuam sendo fundamentais  no exercício da minha liderança, pois cada um deles me trouxe e me traz uma  expansão de consciência, ou seja, me ajudaram a ampliar minha percepção sobre  mim mesma, sobre os outros e sobre o mundo. Me fizeram sair de uma caixinha,  do modo automático, e questionar padrões, crenças, comportamentos e modelos  limitados de agir e ver o mundo corporativo. Abri a minha mente, meu coração e os  olhos para viver de maneira mais inteligente, intencional e alinhada com meus  propósitos internos. Aprendi a questionar mais e julgar menos, escutar mais e  reagir menos, pensar antes de responder, me sentir responsável pelo que me  acontece deixando o vitimismo de lado e buscar muito mais crescimento pessoal,  emocional e espiritual, e como consequência veio o crescimento profissional. 

5. Em um mundo cada vez mais automatizado, como cultivar a compaixão e a  autenticidade dentro das empresas sem comprometer os resultados? Ou melhor:  como torná-las forças geradoras de resultado? 

R = Essa responsabilidade e dever é nosso, cultivar compaixão dentro das  empresas vai depender diretamente da nossa atitude como ser humano, pois  antes de sermos líderes, somos seres humanos. É preciso entender que ter  compaixão não é “ser bonzinho”, é sobre ter inteligência relacional, conseguir se  conectar com o outro, e que os resultados são consequência de um ambiente  saudável, seguro e colaborativo. 

6. Você pode compartilhar um caso real em que aplicar essa abordagem  humanizada transformou a dinâmica de um time ou de uma empresa? 

R = Posso dar o exemplo de uma das nossas empresas, onde o índice de  rotatividade diminuiu significativamente há alguns anos quando começamos a fazer feedbacks “one a one” duas vezes ao ano, ouvindo cada colaborador na sua  individualidade, seguindo regras macros, mas adaptando algumas necessidades  individuais.

7. O livro oferece caminhos para resolver conflitos e fortalecer conexões. Que  conselho daria a um líder que hoje enfrenta uma equipe desmotivada e  sobrecarregada? 

R = Leia o livro e coloque em prática cada pilar, sabendo que não existem atalhos, existem escolhas e muitos desafios. Mas, enquanto não ler o livro, seguem  algumas dicas: converse individualmente com os membros da equipe, crie um  espaço seguro para isso; não finja que está tudo bem, seja realista; se questione  sobre o seu jeito de liderar e sobre sua motivação; tente comemorar pequenas  vitórias com a equipe; procure ser transparente com a equipe; peça ideias e  sugestões para as pessoas, envolva-os no processo. 

8. Em termos de legado, o que você deseja que este livro provoque em líderes em  formação ou em transição de carreira? 

R = O que eu desejo é gerar uma reflexão profunda em todas as pessoas que tiverem  a oportunidade de ler o livro, uma reflexão sobre o seu papel e sua missão primeiro  como ser humano, e depois como líder. Pois, o que aprendi ao longo da minha  jornada, é que liderança não é apenas sobre metas atingidas, resultados  financeiros, prêmio conquistados, é sobre herança, ou seja, o impacto que  deixamos nas pessoas ao nosso redor. Faça uma reflexão: se você fosse embora  hoje da empresa ou da equipe que lidera, o que ficaria? Que valores, sentimentos,  exemplos estariam enraizados nas pessoas graças ao seu trabalho? 

9. Além do livro recém-lançado, quais são os próximos passos da sua jornada  como autora, palestrante e especialista em desenvolvimento humano? Há novos  projetos a caminho? 

R = Sim, muitos projetos, a vida é dinâmica e não estática, é movimento, evolução,  inovação. Vou focar nas palestras e em novos livros, e na expansão das nossas  empresas. Estamos criando um grande Ecossistema, para poder contribuir cada  vez mais com as pessoas e organizações no mundo. 

10. Por fim, que mensagem deixaria para quem está prestes a assumir um cargo  de liderança e ainda se sente inseguro quanto ao impacto que pode causar? 

R = Liderar não é sobre saber tudo, nem sobre ter todas as respostas, é sobre ser  humilde e ter respeito pelo outro, sobre estar disposto a ouvir com atenção, a  aprender, a saber que vai errar, a se ajustar, a ser vulnerável, e principalmente  sobre cuidar e inspirar pessoas. Nunca estaremos 100% preparados e seguros,  pois a segurança vai sendo desenvolvida no caminho, ao longo da jornada, que só  termina no último suspiro. Portanto, se foi convidado a sentar nesta cadeira,  confie e acredite no seu potencial, e permita-se crescer e evoluir, pois esta é a  razão de ainda estarmos aqui.

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