Jean-François Kervégan discute a racionalidade normativa em Kant e dialoga com Hegel

Jean-François Kervégan discute a racionalidade normativa em Kant e dialoga com Hegel

A normatividade — o estudo das regras e princípios que orientam a conduta humana — ocupa um lugar central na filosofia prática moderna. Nesse campo, o pensamento de Immanuel Kant é um dos referenciais fundamentais, especialmente pela forma como ele articula liberdade, ética e direito. Em seu livro A razão das normas: ensaio sobre Kant, recém-lançado pela Editora Unesp, o filósofo francês Jean-François Kervégan oferece uma análise detalhada da teoria kantiana da normatividade, explorando também como o diálogo com Hegel pode esclarecer seus fundamentos éticos e jurídicos.


Kant e a razão das normas

Para Kant, o uso prático da razão não se limita à criação de regras que orientam a ação. Ele busca um critério universalizante que permita reconhecer a validade moral dos juízos. Esse procedimento encontra sua expressão máxima no imperativo categórico, que funciona como uma espécie de “regra de reconhecimento” das proposições morais.

Kervégan destaca que, em Kant, há uma conexão necessária entre liberdade, racionalidade e normatividade. Essa tríade fundamenta sua filosofia prática e estabelece que a autonomia do sujeito é inseparável da obrigação moral.


Diálogo com a tradição contemporânea

A análise de Kervégan aproxima o pensamento kantiano de debates mais recentes sobre racionalismo ético. Ele menciona nomes como Karl-Otto Apel, Jürgen Habermas, H.L.A. Hart e Hans Kelsen, mostrando como a herança kantiana ainda inspira discussões sobre ética discursiva, filosofia do direito e teoria da justiça.

Um dos pontos centrais é a rejeição de Kant à autonomia conceitual do direito positivo em relação ao direito racional. Para o filósofo alemão, o direito não pode se reduzir a uma construção normativa independente da moralidade.


A contribuição hegeliana

Um dos aspectos inovadores do livro está na leitura hegeliana que Kervégan emprega para iluminar áreas obscuras da Metafísica dos Costumes de Kant. Ele sugere que, na recepção posterior, a teoria kantiana da normatividade caminha em direção a uma racionalidade que se manifesta nas práticas sociais, nos hábitos e nas instituições.

Essa perspectiva antecipa o conceito hegeliano de Sittlichkeit (eticidade), que descreve a moral incorporada nas formas de vida e estruturas sociais. Ao unir Kant e Hegel, Kervégan propõe uma interpretação fecunda para compreender a normatividade moral e jurídica em contextos contemporâneos.


Sobre o autor

Jean-François Kervégan é um dos mais respeitados especialistas em Hegel e no idealismo alemão. Professor da Universidade Paris 1 Panthéon-Sorbonne e membro do Institut Universitaire de France, ele também é referência em filosofia do direito e filosofia política. Sua obra busca constantemente articular tradição clássica e debates atuais.


Ficha técnica

  • Título: A razão das normas: ensaio sobre Kant
  • Autor: Jean-François Kervégan
  • Tradução: João Carlos Brum Torres, Nikolay Steffens
  • Número de páginas: 208
  • Formato: 13,7 x 21 cm
  • Preço: R$ 72
  • ISBN: 978-65-5711-285-4
  • Editora: Unesp

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