Instituto Vladimir Herzog e Google Arts e Culture lançam exposição ‘Eu só disse o meu nome’ sobre o legado de Alexandre Vannucchi Leme
“Meu nome é Alexandre Vannucchi Leme, sou estudante de Geologia, me acusam de ser da ALN… eu só disse meu nome”.
O Instituto Vladimir Herzog, em parceria com o Google Arts e Culture, lança nesta terça-feira (21) a exposição virtual Alexandre Vannucchi Leme: eu só disse o meu nome, em memória aos 50 anos do assassinato do estudante por agentes da ditadura militar.
Com uma narrativa construída a partir de imagens, áudios e textos, a exposição aborda não apenas a morte do jovem, mas também aspectos de sua vida e do legado deixado por ele para a luta por direitos humanos. Ao todo, são 20 itens, entre fotos, cartas, trabalhos universitários e documentos pessoais, que constituem uma memorabilia de Alexandre Vannucchi.
“A exposição reacende o debate acerca da ausência de punição aos autores de graves violações de direitos humanos na ditadura militar. Alexandre foi vitimado por práticas extremamente cruéis que, durante o regime, compunham o código de conduta de parte dos agentes de segurança pública que mobilizavam a tortura e os maus tratos sob ao pretexto do combate ao comunismo. Esses perpetradores, até os dias de hoje, jamais sentaram no banco dos réus”, explica Gabrielle Abreu, historiadora e coordenadora da área de Memória, Verdade e Justiça do Instituto Vladimir Herzog.
De acordo com ela, a impunidade continua a ser marca registrada no Brasil e é necessário compromisso para romper com esta cultura, conferindo responsabilização e punição aos torturadores do passado e do presente. “Esse movimento é crucial para garantirmos a saúde da nossa democracia e a não repetição de violência como as que Alexandre sofreu”, diz.
Disponível em português, inglês e espanhol, a mostra pode ser acessada na plataforma do Google Arts & Culture e também no portal Memórias da Ditadura.
PARA QUE NUNCA SE ESQUEÇA
Filho de professores, Alexandre era natural de Sorocaba, interior de São Paulo, tinha apenas 22 anos e cursava o 4º ano de Geologia na Universidade de São Paulo quando foi preso em 16 de março de 1973, sob a acusação de integrar a Ação Libertadora Nacional (ALN). Levado para a sede do DOI-Codi na capital paulista, ele sofreu repetidas torturas ao longo de todo o dia e que, comandadas pelo então major Carlos Alberto Brilhante Ustra, se repetiram na manhã seguinte.
Por volta das 17h do dia 17, Alexandre foi encontrado sem vida por um carcereiro que havia ido buscá-lo para uma nova sessão de sevícias. Após retirarem seu corpo da cela e lavar o ambiente, os policiais do DOI-Codi informam aos outros presos políticos que o estudante havia se suicidado.
Os pais de Alexandre, contudo, só viriam a tomar conhecimento da morte do filho em 23 de março, quando os órgãos de segurança a divulgaram na imprensa. Àquela altura, uma nova versão já havia sido fabricada para justificar a morte: Alexandre teria morrido após ser atropelado enquanto tentava fugir de policiais. Seu corpo, coberto de cal para facilitar a decomposição e esconder as marcas das torturas, estava sepultado como indigente e sem caixão, em uma cova rasa no Cemitério de Perus.
Naquele mesmo dia, uma assembleia realizada no Instituto de Geociências da USP aprovou um decreto de luto e paralisação em protesto, a organização de uma comissão para apurar a morte de Alexandre e as prisões de outros estudantes, e a realização de uma missa de sétimo dia. A cerimônia foi celebrada pelo arcebispo dom Paulo Evaristo Arns no dia 30 de março, na Catedral da Sé. Primeiro grande protesto depois da instauração do Ato Institucional nº 5, em dezembro de 1968, o ato religioso reuniu mais de 3 mil pessoas, entre estudantes, artistas, dirigentes sindicais e outros militantes que se opunham à ditadura.
Segundo o jornalista Camilo Vannuchi, primo de segundo grau do estudante e coordenador da exposição, o caso Alexandre produziu recuos significativos no modus operandi da ditadura, uma vez que sua morte foi considerada um erro grave e um “tiro no pé” pela repressão, e ajudou a forjar a luta por verdade, justiça e reparação no país, sobretudo a partir da atuação dos pais do jovem, Egle e José, e dos advogados Mário Simas e José Carlos Dias.
A revolta com o assassinato de Alexandre também impulsionou o ressurgimento do movimento estudantil e, em 1976, o DCE-Livre da USP foi refundado e batizado em homenagem ao estudante. Hoje, seu nome também designa uma Escola Estadual de Primeiro Grau em Ibiúna, uma Escola Municipal de Educação Infantil em São Paulo e uma praça nas imediações da casa onde Alexandre residia em Sorocaba.
SERVIÇO
FICHA TÉCNICA:
Coordenação – Camilo Vannuchi
Curadoria – Carolina Vilaverde
Pesquisa – Carolina Vilaverde e Camilo Vannuchi
Montagem – Carolina Vilaverde
Textos – Camilo Vannuchi
Traduções – Aline Matos Gurgel
REALIZAÇÃO:
Instituto Vladimir Herzog
Presidente – Clarice Herzog
Presidente do Conselho Deliberativo – Ivo Herzog
Diretor Executivo – Rogério Sottili
Memória, Verdade e Justiça – Gabrielle Abreu (coord.), Mayara De Lara e Valquíria Ferreira
Comunicação – Lucas Barbosa (coord.), Bruna Pereira, Gabriela Teixeira e Natália Pesciotta
AGRADECIMENTOS:
Adriano Diogo, Alberto Alonso Lázaro, Beatriz Vannucchi Leme, Caio Túlio Costa, Carmen Prado, Cristina Vannucchi Leme, DCE Livre da USP Alexandre Vannucchi Leme / Gestão É Tudo Pra Ontem, Dirceu Pagotto Stein, João Paulo Teixeira, Juliana Nunes, Juca Varella, Pedro Antônio Chiquitti, Pedro Viegas e Roberto Nakamura.