A iniciativa é fruto de uma pesquisa fonográfica realizada há mais de dez anos, que une o frevo de rua do Recife aos sons, danças, cores e poesias da cultura popular da Zona da Mata Norte, sendo o responsável pela ideia a Escola e Orquestra de Frevo Zezé Corrêa, que é ligada à Sociedade Musical 15 de Novembro. Trabalho é assinado pela produtora musical Canavial Arte e Cultura
Após 100 anos do surgimento do frevo de rua, do frevo de bloco e do frevo-canção, o carnaval de Pernambuco, agora, terá o ‘Frevo Rural – ritmo que vem dos canaviais’. O mais novo gênero musical, editado para o formato EP e espetáculo de rua, é inspirado nas manifestações da cultura popular da região da zona canavieira. O projeto mescla os sons, poesia, danças e sinergia musical do maracatu rural, ciranda e, principalmente, o bloco rural. A nova produção fonográfica e montagem é uma iniciativa da Escola e Orquestra de Frevo Zezé Corrêa, que é ligada à Sociedade Musical 15 de Novembro, que há mais de 135 anos, atua no Distrito de Upatininga, Zona Rural da cidade de Aliança, na Zona da Mata Norte do Estado, como Ponto de Cultura e espaço centenário de preservação salvaguarda e memória da cultura pernambucana.
Diferentemente do frevo que surgiu, ainda no século passado, nas ruas do Recife e das ladeiras de Olinda, o ‘Frevo Rural’, bebe na fonte das origens das brincadeiras populares que surgiram nos antigos terreiros dos engenhos de cana de açúcar na época da folia de momo, a exemplo da tradição do bloco rural, também chamados de caravanas – que desfilava em meio aos canaviais apenas com a presença feminina. Para além dessa gênese cultural, o ‘Frevo Rural’ também tem em seu DNA a presença da sonoridade e performance do maracatu rural – Patrimônio Imaterial do Brasil.
O “Frevo Rural” trata-se de uma produção musical, inédita, de mais de dez anos, na qual reúne, inicialmente, duas músicas, que antes de embalar a folia do carnaval, vai estrear, este mês, na internet. São elas: ‘Plantis da Vida’, que fala da vida de mulheres e homens dentro do contexto social do açúcar. A letra aborda, ainda, o tema de propriedade privada, que remete as grandes plantações estabelecidas às custas da escravidão, da exploração do trabalho oriundos da economia da monocultura. Já a segunda música é o ‘Belo Carnaval” inspirada em um marinheiro, um capitão de navio, que após navegar desolado em meio ao mar, chega em um porto e faz um lindo carnaval, transformando aquele ambiente em uma atmosfera de alegria e festa. As duas músicas são composições do músico e percussionista, João Paulo Rosa, natural de Nazaré da Mata, na Zona da Mata Norte. Trabalho é assinado pela produtora musical Canavial Arte e Cultura.
A Orquestra Zezé Corrêa é constituída por 2 cantores, 5 passistas e 14 músicos, sendo o regente o maestro José Messias. A maioria dos integrantes são adolescentes e jovens, negros, filhos de agricultores, cortadores da cana de açúçar da localidade e da regiao, que convivém em meio a tradição da musica raiz da zona canaveira. Para além dos instrumentos de metais e percussão, o ‘Frevo Rural’ é executado por uma orquestra composta por trompetes, trombones, sax, bateria, baixo, apito, guitarras, caixa, surdo e ganzá. Sendo o diferencial, para atingir a sonoridade rural, o bombinho, que se soma a outro importante instrumento, o bacalhau. Juntos, eles provocam um suingue. E para fazer o arremate final, o mineiro, que dá a cadência. Outro ponto do ‘Frevo Rural’ que diverge em relação aos demais frevos, é sobre dança, que traz forte ligação com as brincadeiras populares da região, que remetem à memória dos passos e evolução do maracatu rural, coco de roda, ciranda, cavalo-marinho, entre outros ritmos.
Para fazer bonito neste carnaval, o grupo também preparou um figurino para lá de colorido. As vestimentas dos músicos, por exemplo, são inspiradas nas cores e nos traços dos grupos de cultura popular da região, tendo predominância em tecido florido, nos tons de azul, verde e amarelo. Uma maneira de representar o sol, o verde do canavial e toda a paisagem da geografia da Zona da Mata. Já as roupas dos passistas foram elaboradas como forma de representar os brincantes. Nelas, estão desenhadas formas geométricas que valorizam o bordado manual presentes, por exemplo, na gola do maracatu rural e nos estandartes das agremiações carnavalescas. As fitas coloridas, costuradas à mão e que adornam os figurinos, também são uma representação do colorido e da força cultural arco do cavalo-marinho, e da lança dos caboclos. Há, ainda, presença de flores bordadas, como elemento de trazer toda a beleza e tom feminino. Sem dúvidas, um trabalho de artes plásticas para encantar os olhos de quem assiste.
“O Frevo Rural é fruto de um trabalho de pesquisa, experimentações e documentações. Temos buscado fazer o resgate musical, sobretudo neste aspecto da música da Zona da Mata. E descobrimos que, aqui, temos um frevo que é desconhecido pela história e, claro, por muitos pesquisadores e amantes do frevo. E, neste carnaval, queremos ressignificar isso apresentando a Pernambuco, Brasil e o mundo um frevo que nasce com a doçura do açúcar e resistência da rapadura ”, afirma o produtor musical, Ederlan Fabio. “Sem dúvida esse nosso trabalho vai fazer história. Nosso desejo é que, após toda essa imersão, possamos propor para a Unesco a inserção do ‘Frevo Rural’ como ritmo Patrimônio Imaterial do Brasil. Fato é que há um longo caminho para isso, mas não nos custa sonhar e, quem sabe, realizá-lo “, finaliza.
O EP ‘Frevo Rural – ritmo que vem dos canaviais’ será lançado nesta semana nas principais plataformas digitais. Ainda dentro da agenda de estreias, a Escola e Orquestra de Frevo Zezé Corrêa, programa várias apresentações nos polos culturais do carnaval espalhados por várias cidades pernambucanas. Toda programação será apresentada, até o fim deste mês, nas redes sociais: Instagram/orquestrazezecorrea, Instagram/escola.zezecorrea e no www.facebook.com/OrquestradeFrevoZezeCorrea
Fotos: Ederlan Fábio