FRANCISCO NUK EXPLORA OS LIMITES DA UTILIDADE INVOCANDO O SURREALISMO EM “A FORMA NÃO CUMPRE A FUNÇÃO”, NOVA EXPOSIÇÃO DO CCBB BH

MOSTRA REÚNE OBRAS CRIADAS PELO ESCULTOR, SENDO TRÊS DELAS INÉDITAS, E FICA EM CARTAZ DE 14/12 A 13/02

Até que ponto um mobiliário é útil? E de que forma o ser humano encara a utilidade e a inutilidade de si mesmo?  Esses são alguns dos questionamentos provocados pelas esculturas de Francisco Nuk, artista belo-horizontino que apresenta a exposição “A Forma Não Cumpre a Função” no Centro Cultural Banco do Brasil de Belo Horizonte – CCBB BH, entre os dias 14 de dezembro de 2022 e 13 de fevereiro de 2023, com entrada gratuita. A mostra, que já passou por Brasília, chega à capital mineira com seis obras e duas instalações, e ocupa as primeiras três galerias do térreo. As obras foram as maiores realizadas pelo artista até então e duas delas, assim como uma das instalações, são inéditas.

As esculturas são todas feitas em madeira e desafiam as formas convencionais com curvas inusitadas. Móveis supostamente comuns ganham ares de surrealismo e surpreendem o público.  A instalação inédita consiste em um dominó de cristaleiras em tamanho real, que se despejam em um espelho, criando uma ilusão de ótica onde tudo parece desabar. A segunda instalação que compõe a mostra traz 150 gavetas. Penduradas em colunas no teto da galeria, elas criam a sensação de arquivos suspensos. Guarda-roupas, cômodas e gaveteiros gigantes também foram recriados pelo artista e causam admiração pelos detalhes. 

O trabalho realizado pelo artista anda na linha tênue do utilitário e da peça escultural. Francisco Nuk explica que as primeiras ideias tinham como objetivo transformar um armário em uma escultura. Nesse sentido, entortá-lo significava quebrar sua utilidade convencional, uma vez que sua engenharia primária seria completamente abalada. Uma gaveta precisa estar no esquadro para funcionar. 

“Mas durante esse processo surgiu a solução de uma nova estrutura que possibilitaria abrir e fechar essa gaveta que até então estava destinada a ficar trancada para sempre. Esse novo cenário causou uma certa confusão interna já que, embora a gaveta fosse torta, ainda assim poderia utilizá-la, mas a via como uma peça escultural. Desta forma, encontrei o ponto de partida de minha pesquisa: explorar os limites da utilidade, invocando o surrealismo até chegar ao inútil, e observar como são essas mutações da utilidade. Durante esse processo, deparei-me com o fato de que me enxergava na obra, minha pessoa, meu cosmo. A peça criava uma personalidade própria, deixava de ser inanimado a animado, tornava-se viva. Assim a pesquisa se voltou à busca do lugar que a utilidade exerce dentro de nossa sociedade”, afirma Nuk.

A mostra instiga o público a pensar sobre utilidade junto ao escultor. Afinal, o que é utilidade e inutilidade para esse sistema? Somos úteis para quê? Para quem? Por quê? Quão importante é a ideia de utilidade na construção de um indivíduo? Quanto nos aproximamos de ser um armário, um objeto? O que guardamos dentro dele? Dentro de nós? “Esses questionamentos têm sido exercícios constantes desde o início da produção dessas obras e que, até hoje, não possuem respostas concretas”, ressalta o artista.

Sobre a chegada da mostra em Belo Horizonte, o artista, que nasceu na capital mineira, diz ser a realização de um sonho. “Eu vejo o Centro Cultural Banco do Brasil como o principal local expositor das artes plásticas em Belo Horizonte. Há bons anos vemos consistentemente exposições incríveis sendo oferecidas ao público e várias delas me marcaram e inspiraram muito. Portanto, pensar que estou em um espaço onde muitas obras e artistas que tanto admiro estiveram traz uma felicidade tremenda. Fora também pelo fato de poder enfim apresentar meu trabalho pessoalmente a meus conterrâneos, minha família e meus amigos próximos”, acrescenta.

A exposição “A Forma Não Cumpre a Função” é realizada pelo CCBB BH, com apoio da Casa Rosa do Bonfim, Fundação Bauminas e Stella Artois.

Sobre o artista

Francisco Nuk carrega consigo uma bagagem artística vinda de outras gerações. Desde pequeno, foi introduzido naturalmente e estimulado a estudar as diferentes manifestações artísticas: do barroco, característico de sua região de origem, até o contemporâneo, expressão produzida pelos pais. Na adolescência, teve seus primeiros contatos com a marcenaria fina através de cursos do ofício. Passou o começo de sua fase adulta viajando e estudando o mesmo ofício, fazendo extensos estudos sobre o material e aprendendo técnicas aplicadas. De volta ao Brasil, trabalhou no atelier de seu pai, produzindo suas obras e estruturando seu próprio atelier. Durante esse período, foi incitado à criatividade crítica e estimulado à produção do seu trabalho, que se manifesta a partir da mescla da sua origem e de experiências vividas.

No trabalho de Francisco Nuk, a utilidade e a serventia dos mobiliários são desmanchadas no momento em que o artista quebra sua rigidez, fazendo do absurdo um conceito perseguido. Tudo em sua obra abre para pistas deturpadas. As cristaleiras distorcidas não mais equilibram os cristais, as gavetas flutuam leves sem o peso dos segredos arquivados, a cômoda circular, cautelosamente esculpida, confunde os guardados.

Na repetição, no jogo da imaginação e na constância do ofício, Francisco elabora suas esculturas com a intimidade de um poeta. As madeiras, enamoradas, se rendem, dançam e se livram do fardo de servir. Agora são arte. Nada mais.

Circuito Liberdade   

O CCBB BH é integrante do Circuito Liberdade, complexo cultural sob gestão da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult), que reúne diversos espaços com as mais variadas formas de manifestação de arte e cultura em transversalidade com o turismo. Trabalhando em rede, as atividades dos equipamentos parceiros ao Circuito buscam desenvolvimento humano, cultural, turístico, social e econômico, com foco na economia criativa como mecanismo de geração de emprego e renda, além da democratização e ampliação do acesso da população às atividades propostas.  

SERVIÇO

Mostra “A Forma Não Cumpre A Função”

De 14 de dezembro de 2022 a 13 de fevereiro de 2023

Local: Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte (Praça da Liberdade, 450 – Funcionários).

Horários de visitação: de quarta a segunda, das 10h às 22h.

Ingressos gratuitos, retirados pelo site bb.com.br/cultura ou na bilheteria física do CCBB. Classificação Indicativa: Livre

Mais informações: 31 3431 9400 – www.bb.com.br/cultura 

E-mail: ccbbbh@bb.com.br  

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