“Facão Afiado – Ao Vivo em São Paulo” é o primeiro registro ao vivo da banda. O que vocês esperavam capturar neste álbum em comparação com o estúdio, e como a gravação ao vivo reflete a verdadeira energia da banda? A gente sempre teve vontade de fazer um “live álbum”, pois tocamos pouco ao vivo. Nos ensaios, a vibração e a intensidade sonora são excelentes, o que fez com que esse desejo fosse compartilhado por todos na banda.
O álbum traz um repertório com músicas de quase uma década de carreira. Como vocês selecionaram as faixas para esse show e por que escolheram essas músicas em particular? São músicas que sempre ensaiamos e que, quando tocamos ao vivo, recebem uma ótima resposta do público. Algumas pessoas até perguntam se determinadas músicas serão executadas, e isso coincide com nossa vontade. Isso é muito gratificante.
As letras da banda sempre foram marcadas por uma crítica social incisiva. Em “Facão Afiado”, vemos temas como corrupção e violência. Como a banda se inspira no cotidiano para criar essas mensagens tão contundentes? É fácil se inspirar: basta ligar a TV (a pior experiência), andar na rua e sentir na própria pele as dificuldades de sobreviver nos dias de hoje.
A mudança na formação da banda, com a entrada de Bruno Conrado (ex-Vulcano), trouxe uma nova dinâmica. Como isso afetou o som e a energia do grupo? O que ele trouxe de novo para a banda? Ah, sim! Ele trouxe uma nova dinâmica para a bateria, pois é muito versátil e entende o que a música precisa. Paulo Mariz é um baterista excepcional e um grande amigo, mas o Bruno, com uma pegada diferente, acredito que deu uma nova energia a essa parte.
“Cala A Boca Globo” e “O Monstro” são destaques no álbum, abordando questões políticas e sociais de forma bem direta. Como vocês veem a responsabilidade da música na sociedade atual? Temos uma grande responsabilidade ao abordar fatos do nosso cotidiano e fazer com que as pessoas prestem atenção no que realmente está acontecendo. Por isso escolhemos o português para o nosso Heavy Metal, mesmo sendo um idioma desafiador para encaixar versos e refrões sem soar piegas, entende?
Como foi tocar no festival Thrash disConcert II, em São Paulo, e como a plateia reagiu ao setlist que vocês prepararam? Há alguma reação em particular que se destacou para vocês? Foi muito bom, assim como da primeira vez. A qualidade dos equipamentos e dos profissionais do RedStar Studios, além da organização do nosso amigo Johnny Z, nos deu segurança para decidir que seria ali que gravaríamos nosso álbum ao vivo. Tivemos ainda a participação de uma banda que curtimos muito, o Faces of Death (grandes camaradas). A resposta do público presente foi excepcional. Destaco que, quando percebemos que ninguém sai do lugar e todos vibram ao final de cada música, temos a sensação de que estamos indo bem! (risos)
O álbum captura o poder do thrash e hardcore. Como vocês veem a cena de metal e hardcore no Brasil atualmente? Qual o papel da Tosco nesse movimento? Olha, é uma verdadeira montanha-russa. Vou a muitos shows, tanto nacionais quanto internacionais. Em alguns, há uma galera legal apoiando, em outros, nem tanto. Antigamente, víamos um cartaz xerocado com nomes de bandas autorais que não conhecíamos, mas fazíamos questão de ir conferir. Não temos grande participação na cena, não por nossa vontade, mas porque não há muitas oportunidades para tocarmos em diversos lugares, então o público acaba não nos conhecendo. E tudo bem, seguimos fazendo nosso som e já estamos compondo o quarto álbum.
Vocês mencionaram que estão trabalhando em material inédito. O que os fãs podem esperar desse novo trabalho? A sonoridade e as mensagens das novas faixas seguirão o mesmo caminho de crítica social? Sim, ele está 90% pronto, com título, nome das músicas e ideia da capa já definidos entre nós. A pegada continua a mesma, mas o Ricardo Lima sempre adiciona novidades (para o nosso som) às composições. Não há mais nada a ser inventado no metal pesado, mas acredito que uma boa mistura das influências pode resultar em um trabalho atrativo e de qualidade. Quanto às letras, sigo escrevendo com um cunho social, pois é uma fonte inesgotável de inspiração. Sou muito objetivo nessa parte; não acredito em revolta apenas por revolta. Prefiro citar os fatos do cotidiano de forma explícita, refletindo nosso pensamento crítico.
“Facão Afiado” é um trabalho muito pesado e cheio de revolta. Como é o processo de composição de uma música como essa? Como vocês traduzem essa energia bruta para os palcos? Sim! As letras, escritas por mim e novamente em português, refletem meu sentimento de urgência em fazer com que o espectador(a) entenda a mensagem. E os tios que tocam junto embarcam nessa comigo! (risos)
O álbum ainda não foi lançado fisicamente. Como está a busca por parcerias para o lançamento físico? Quais são as expectativas da banda em relação a esse lançamento? Não lançaremos esse álbum fisicamente sem parcerias. Além do custo, que nem é o maior problema, a questão é que tocamos pouco ao vivo, o que dificultaria a venda dos CDs. Ficar com caixas de discos guardadas em casa não faz sentido. Mesmo com divulgação, vendas em lojas parceiras e pela internet, seria um desafio.
A banda tem se destacado pela sua energia ao vivo e a entrega nos palcos. Como vocês se preparam para um show e o que consideram essencial para uma apresentação memorável? A gente se concentra no que precisa ser feito. Evidentemente, um erro aqui e outro ali acontecem, e estão registrados no álbum ao vivo. Quem conhece nosso som vai perceber! (risos) Ah, café ajuda bastante… e umas cervejas depois também! (risos)
Para finalizar, qual é a visão de vocês sobre o futuro da banda? O que ainda falta para a Tosco alcançar e o que os fãs podem esperar nos próximos anos? Na real, não pensamos muito nisso. O desejo de tocar e compor novas músicas ainda está vivo. Se um dia isso deixar de ser prazeroso, então pensaremos se vale a pena continuar. Aqui no Brasil, ter uma banda de metal autoral é um grande desafio. Precisamos lidar com muitos obstáculos para seguir em frente, mas ainda gostamos do que fazemos. Obrigado pela oportunidade de conceder esta entrevista. Ouça, assista… enfim, seja tosco! (risos)