Entrevista: Viviane Viana, escritora e jornalista
1. Como surgiu a ideia de escrever “O estranho caso da mochila que foi sozinha à escola”?
Vivi: O combinado com meu filho, que é bastante distraído e pouco organizado, é arrumar a mochila com antecedência, no geral, de um dia para o outro. O acordo costuma funcionar bem e ele deixa a mochila pronta na porta de saída de casa. Dessa forma, conseguimos resolver o problema recorrente de esquecimento de cadernos, livros e até mesmo do estojo. Eis que surgiu um novo desafio. Sempre que está na hora de sair, ficamos – a mochila e eu – na porta esperando por ele. O motivo? Sempre ele tem um. Numa ocasião, gritei lá de fora: “Francisco, um dia essa mochila irá para escola sem você”. Ele riu muito e achou o máximo a brincadeira. Pronto! Disparou em mim o sinal de alerta sobre o potencial da ideia para um novo livro infantil.
2. De que forma Moki, a mochila, ajuda a transmitir a mensagem sobre a importância da escola?
Vivi: Moki simplesmente vive o que a escola oferece, ou seja, uma aprendizagem instigante, que estimula a criatividade, a imaginação, a experimentação, e também as trocas com os pares, as relações com os colegas. Moki leva esse maravilhamento para casa. Ela não encampa nenhum discurso em prol da escola. Ela compartilha com a família sua experiência. Isso, no meu sentir, faz toda a diferença.
3. Por que você escolheu usar uma mochila para transmitir o recado e não os pais ou um aluno?
Vivi: Será que a escolha foi minha? (risos) Acho que a mochila, assim como fez com o menino Pedro, se impôs. Mas, cá entre nós, que Moki não nos ouça para não ficar ainda mais atrevida, desconfio de que não teria livro sem ela, pelo menos não este livro de que tratamos agora.
4. Qual é a importância da imaginação na sua obra e na educação infantil?
Vivi: Absoluta! Tudo o que está na nossa frente é resultado da imaginação de alguém. Por isso a célebre frase do cientista Albert Einstein sobre a limitação do conhecimento e a abrangência da imaginação. Estamos falando de um recurso poderosíssimo para crianças e também para os adultos, que muitas vezes minimizam seu papel e apostam todas as fichas na racionalidade, como se a imaginação fosse coisa boba, restrita ao universo infantil. A imaginação contribui para o desenvolvimento de habilidades sociais, emocionais, físicas, para o pensamento, a linguagem, a resolução de conflitos. A imaginação deve ser alimentada durante toda a vida.
5. Quais são os desafios que você encontrou ao escrever para crianças sobre temas tão importantes?
Vivi: Escrever para crianças é um desafio, independentemente do tema. Um desafio e uma responsabilidade, por inúmeras razões. É preciso tecer a trama com esmero; cuidar com cuidado e carinho da mensagem e a forma como a criança receberá a mensagem, passando pela linguagem adequada, até o encantamento com a narrativa e o despertar do desejo de ler (ou ouvir, a depender da idade) outras histórias, outros livros. Tem grandes escritores que fazem livros muito bonitos, poéticos, que conquistam às vezes os pais, mas que não agradam às crianças. Tem livros de literatura infantil que tendem para o didatismo, para a transmissão de conteúdo, que as crianças leem por obrigação nas escolas. Isso, aliás, é preocupante porque corre-se o risco de afastar a meninada dos livros, enquanto desejamos justamente o contrário.
6. E como os pais podem incentivar o hábito da leitura?
Vivi: O exemplo é muito importante. Estão aí os memes circulando nas redes sociais sobre pais que não desgrudam os olhos do celular e suas crianças também vidradas em telas. Além disso, é preciso criar espaços para a leitura, levar a criançada a bibliotecas, a livrarias, e ler para as crianças, ler com as crianças, sem nenhuma finalidade, digamos, de transmitir conhecimento formal.
7. Como “O estranho caso da mochila que foi sozinha à escola” se relaciona com seus outros trabalhos?
Vivi: Creio que ele, e também “Ah, se Graham Bell falasse!”, que trata do exagero no uso do celular, bem como “O menino que cabia no abraço” e o livro box “Tirando de letra”, esses dois últimos sobre o tema do autismo, têm um viés bem-humorado, que faz a meninada sorrir.
8. Pode nos falar sobre como será o lançamento na Bienal de São Paulo e suas expectativas para esse grande evento que é a feira do livro?
Vivi: No lançamento, no domingo, 8 de setembro, haverá contação de história e a presença de Moki, não de carne e osso, mas de tecido e linha. Espero ver o espaço cheio de crianças com olhinhos brilhando! Espero também que a Bienal seja um sucesso de público, que possamos transformar mais e mais crianças em leitores e que os indicadores de leitura cresçam e apontem um horizonte mais amplo e plural.