https://abacus-market-onion.top Entrevista: riegulate, cantor e compositor - Marramaque

Entrevista: riegulate, cantor e compositor

  1. O novo álbum “Whatever, Together” tem uma vibe de nostalgia e experimentação em synths. O que o inspirou a trazer esse toque nostálgico e como isso se reflete nas suas composições?

Sobre a vibe nostálgica de Whatever, Together… A inspiração vem de uma mistura de sentimentos e influências que venho absorvendo ao longo dos anos, já quando utilizo fitas vhs e tal nas minhas as artes visuais. A nostalgia aparece através de sons que remetem aos anos 80 e 90, períodos que moldaram muito do que sou musicalmente. O uso de sintetizadores, especialmente aqueles com um toque retrô, serve como uma ferramenta para relembrar o passado e ao mesmo tempo reinventá-lo. A ideia é capturar uma sensação de tempo perdido, mas também de explorar novas possibilidades sonoras, criando algo ao mesmo tempo familiar e “novo” com texturas palpáveis.

  1. Você menciona que o nome “Whatever, Together” tem uma extensão cínica “Whatever, Forever”. Pode nos contar mais sobre como essas duas facetas coexistem no álbum e no seu processo criativo?

Essas duas facetas coexistem como uma espécie de diálogo entre otimismo e cinismo, que muitas vezes estão presentes na vida cotidiana… Sentimentos ambivalentes. “Whatever, Together” reflete uma atitude de aceitação e comunidade, quase como “estamos juntos nessa, apesar de tudo”. Já “Whatever, Forever” é uma extensão mais sarcástica, que reconhece o lado mais descompromissado, onde as coisas continuam, indiferente ao que fazemos. Uma vida meio sem sentido, mas é a gente que coloca significado. Essas duas abordagens se misturam no álbum, tanto liricamente quanto musicalmente, trazendo momentos mais leves, mas também reflexões profundas. Acho que também minha visão das coisas mudaram um pouco.

  1. Uma das faixas do álbum, “Winter Chill”, traz o uso de vocoder, uma ferramenta que parece estar presente em boa parte do seu trabalho. O que te atrai no uso dessa técnica e como você a usa para expressar suas ideias musicais?

O vocoder é fascinante porque transforma a voz humana em algo mais mecânico, quase alienígena, o que me atrai bastante. Ele permite brincar com a percepção da emoção, criando camadas entre o natural e o artificial. Consigo entrar num personagem mais fácil e não preciso ouvir minha própria voz o tempo todo, que as vezes é um saco hahaha. No caso de “Winter Chill”, o vocoder ajuda a criar um clima frio e distante, perfeito para a mensagem da faixa. Gosto de como essa técnica desumaniza a voz, mas ainda assim permite que as emoções fluam de maneira diferente, como uma metáfora para o isolamento ou a introspecção.

  1. Você incluiu uma versão de “Caribbean Queen”, um clássico dos anos 80, no álbum. O que essa faixa significa para você, e como foi o processo de reinterpretá-la?

Essa faixa sempre foi um clássico para mim. Foi um processo de desconstrução, pegando os elementos principais e dando a eles uma nova roupagem, mais eletrônica e experimental. Da mesma forma que daft punk faz com os clássicos do disco music…

  1. Você participou do desafio #30dias30beats em 2023 e 2024, que resultou na criação de muitas das faixas do álbum. Como esse desafio influenciou a direção musical de “Whatever, Together”?

O #30dias30beats me obrigou a ser mais produtivo e a me desafiar criativamente. Pensar criativamente todo dia durante 30 dias.. Resolver “o problema” da criação do som e do vídeo, sem medo. Muitas das faixas do álbum surgiram dessa pressão para criar todos os dias, o que me levou a explorar diferentes sonoridades e estilos sem muita autocensura. Isso deu ao álbum uma diversidade interessante, e o processo foi crucial para encontrar novas direções musicais que eu talvez não explorasse de outra forma. Algumas faixas do EP são mais antigas, que coloquei juntas pela sonoridade ou mensagem.

  1. Há uma música no álbum que foi escrita em 2009, mas só agora foi gravada. Por que essa faixa foi guardada por tanto tempo e como foi finalmente dar vida a ela?

Essa música ficou guardada por tanto tempo porque, na época, não senti que tinha as ferramentas ou a visão completa para fazê-la soar como deveria. Queria gravar com a banda na época, mas nunca deu certo. Dae, em vez de guardar e esperar pelo momento perfeito, gravei só mesmo. Acredito que ela ainda pode sofrer transformações. Só pq foi lançado não quer dizer que não posso regravar ou remixar no futuro. Importante é estar no mundo.

  1. Você já mora no Brasil desde 2005 e adotou João Pessoa como sua casa. Como a vivência na Paraíba e no Brasil influenciou sua música e arte?

Viver em João Pessoa e no Brasil desde 2005 me trouxe uma perspectiva completamente nova. A cultura local, a música nordestina, e o próprio ritmo de vida daqui impactam diretamente minha criação. A riqueza musical brasileira, especialmente no Nordeste – e em especial João Pessoa – litoral, me fez incorporar elementos regionais e experimentar mais com ritmos e texturas que não estavam no meu repertório antes de morar aqui. Essa mistura cultural é uma parte vital do que sou hoje como artista. Tem muitos compositores e músicos incríveis aqui, ferve de cultura aqui. Nao é bem valorizada pelas pessoas mas pra mim é a maior força que tem.

  1. Além da música, você trabalha com videoarte, VJing e instalações interativas. Como essas outras formas de arte se conectam ao seu trabalho musical e ao seu processo criativo como um todo?

Essas formas de arte estão todas interligadas no meu processo criativo. A música, para mim, é visual, e as artes visuais são sonoras. Quando estou compondo uma música, muitas vezes imagino os visuais que a acompanham, e vice-versa. No VJing e nas instalações interativas, posso explorar essa sinestesia ao máximo, criando experiências imersivas onde som e imagem coexistem em um mesmo espaço, se alimentando mutuamente. E tipo…. Tudo são apenas narrativas, histórias… O lance é traduzir.

  1. Sua formação em psicologia parece adicionar uma camada de profundidade à sua arte. De que forma o conhecimento da mente humana influencia sua maneira de criar e se expressar artisticamente?

Minha formação em psicologia definitivamente molda minha arte. A psicologia também me ajuda a entender as emoções e os comportamentos, o que influencia muito o jeito que crio atmosferas e narro histórias através da música e das artes visuais. Criatividade é sensibilidade e auto conhecimento e inteligência emocional obter e intra pessoal. As mesmas coisas que são trabalhadas na psicologia. Não cheguei a atuar 100% como psicólogo mas me acompanha todos os dias.

  1. Quais são suas expectativas com “Whatever, Together”? Há algum novo projeto ou colaboração futura que você gostaria de compartilhar com seus fãs?

Minhas expectativas com o álbum são de que ele possa ressoar com quem o ouvir, especialmente em relação a essa mistura de nostalgia e inovação. Sempre acho incrível quando alguém de completo outro contexto consegue se conectar. Quanto ao futuro, há vários projetos em andamento, tanto em música quanto em videoarte. Estou explorando mais colaborações, formas de expressão. Quero tb focar em fazer visuais mais precisos pra esse trabalho, em total sincronia com a a música. Além disso, continuo trabalhando em instalações interativas e planejando mais performances de VJing.