1. Como tem sido a expectativa para o lançamento de Um Adeus no Cais do Sodré em Lisboa, na Livraria da Travessa?
Expectativa muito boa, é o meu segundo livro que lanço em Portugal
O Sob o Olhar do Guardião foi lançado na feira de livros de Óbidos em 2019 com os livros esgotados, onde inclusive participei da minha primeira mesa redonda com escritores brasileiros e portugueses na Casa José Saramago.
2. Qual é o significado de lançar este romance em Portugal, considerando a forte conexão histórica da obra com o país?
E a terra dos meus ancestrais, o livro é um romance onde misturo ficção com realidade, alem do que, a história é baseada na vida do meu bisavô .
3. Você poderia nos contar um pouco sobre a roda de conversa? Que temas planeja abordar e o que o público pode esperar desse encontro?
Eu fui convidado a participar de uma palestra para um clube do livro de Cascais, minha primeira vez nesta situação, espero perguntas para desenvolver os temas.
Planejo abordar um pouco da minha história como escritor e o porque escolhi esse tema.
4. O que o motivou a escrever uma saga que conecta Portugal e Brasil no contexto do final do século XIX e início do XX?
Contar a história de um homem extraordinário muito a frente do seu tempo, e conforme falei anteriormente, conta um pouco da história do meu bisavô, além de uma oportunidade de falar sobre um Rio de Janeiro maravilhoso que estava se descobrindo.
5. Como foi o processo de pesquisa histórica e genealógica para trazer tantos detalhes e cenários vívidos para a obra?
Quanto a pesquisa histórica foram semanas na Biblioteca Nacional, pesquisas na internet, conversa com professor de história da UFRJ, Milton Teixeira, para confirmações de fatos da época, e conversas com os poucos parentes ainda vivos do personagem principal. Sem esquecer da trilogia dos livros do Laurentino Gomes sobre escravidão. Quando soube que meu bisavô fora criado numa senzala adotado por uma negra escrava achei que essa história merecia ser contada. Meu bisavô tomou um tiro por defender uma mulher negra certa vez, isso merece um registro histórico pois era uma época pós abolição da escravatura com um racismo ainda muito entranhado na sociedade.
6. A narrativa aborda temas como escravização, ganância e violência, mas também generosidade e esperança. Qual foi o maior desafio ao equilibrar essas diferentes tonalidades no enredo?
Como falamos de fatos verídicos , a história fica mais fácil de ser contada. Uma história, quando escrevemos, em determinado momento ela ganha vida própria, daí as coisas acontecem naturalmente em nossa imaginação. Para mim, o ato de escrever, além de ser um ato de amor, de compartilhar emoções, tem o propósito de informar com diversão, de sentirmos, de viajarmos sem sair do sofá. Daí equilibrarmos todos esses ingredientes num caldeirão de emoções , transformando páginas em branco, em um arcos-íris de emoções , é a função do narrador, respeitando a história.
7. Como a trajetória de Pedro do Ferreira reflete questões universais sobre família, ancestralidade e superação?
Três coisas na vida são muito importantes, principalmente em momentos difíceis, resiliência, persistência, e obstinação. Ou seja, não tem tempo ruim, tem um compromisso em fazer dar certo. Quanto ao conceito família, trata-se da perda, da saudade, da transformação, e da busca insana em fazer as coisas acontecerem e dar certo, em outras palavras, sucesso.
8. A obra apresenta uma rica ambientação do Rio de Janeiro do período, com referências a figuras históricas como Olavo Bilac e João do Rio. Como foi o processo de construir esse cenário tão detalhado?
Fruto de muita pesquisa, muita. Com disse um amigo escritor um dia, escrever é reescrever, e saber sobre aquilo que se propõe a contar, tem que pesquisar e ter a capacidade de duvidar de você mesmo. Não sobre si ou sua capacidade, mas sobre aquilo que quer escrever. Com relação a falar sobre o Rio antigo do Sec 19 e 20 é um deleite. Um prazer imenso, pois essa cidade fervilhava desde o tempo que se transformou em capital do Brasil. Sua cultura, sua magia, seu esplendor cativava quem aqui chegava, e o Rio de Janeiro continua lindo.
9. Este é o seu terceiro romance, após O Turco e Sob o Olhar do Guardião. Em que aspecto Um Adeus no Cais do Sodré representa uma evolução no seu estilo ou abordagem narrativa?
Com certeza você evolui com o passar do tempo, coisa que fiz no passado, não repetiria hoje em dia. Como disse, uma história tem vida própria, e não se interfere nisso, você surfa com isso. Minha intenção quanto escritor é levar diversão e informação, é o que acontece quando se mistura ficção com realidade.
10. Você transita entre temas históricos e ficcionais. O que mais lhe atrai nesse tipo de escrita?
A capacidade de viajar, de criar, de transformar vidas, de histórias que precisam serem contadas, mas que por uma razão ou outra, ficaram esquecidas no tempo.
11. Seu trabalho anterior também envolveu dilemas éticos e morais. Como esses elementos aparecem no novo livro?
Tem haver com o momento atual que vivemos, onde a moral é pessoal, a ética é relativa, assim como a democracia para alguns.
12. Sendo bisneto do protagonista, como foi reviver e reinventar partes da história familiar neste romance?
Maravilhoso, o meu bisavô era uma figura carismática, intrigante e extremamente ético. Um homem que honrava o fio do bigode, como se dizia, jamais bebeu ou fumou um cigarro, nunca teve amantes, um homem leal com grande senso de justiça, pena que não o conheci.
13. O que você espera que os leitores levem consigo após terminarem a leitura de Um Adeus no Cais do Sodré?
Apenas um boa diversão, dizem que o cinema é a melhor diversão, esquecem que alguém escreveu aquilo ali. Sobre os exemplos de bem e do mal, que tirem suas próprias conclusões, mas como disse Jorge Ben, se malandro soubesse como é bom ser honesto, seria honesto só por malandragem.
14. Você já tem planos ou ideias para futuros projetos literários? Continuará explorando histórias com base histórica ou pretende se aventurar por outros gêneros?
Sim, já tenho mais de 70 paginas do meu novo livro, uma história passada nos anos de chumbo no Brasil, época em que aconteceram diversas transformações sociais, um época que vivi, e fui testemunha ocular destas transformações, uma outra história que precisa ser contada.