Entrevista: Igor B., cantor e compositor

Entrevista: Igor B., cantor e compositor

1. Igor, como foi o processo de criação de “Não Posso Parar”? O que te inspirou durante a produção desse terceiro álbum?

Eu meio que faço uma curadoria das minhas composições e percebi que estas que foram incluídas no álbum tinham algo em comum em termos de ideias ou de sonoridades possíveis. Algumas são letras mais antigas e outras mais recentes, mas percebi que tinha muita coisa que remetia ao amor, ou à dor ou à redenção. A coisa foi mais ou menos assim: virei pro Paulinho Moreno (Produtor) e falei que tinha aquelas composições e que queria fazer algo que tivesse peso e balanço, com beats graves, baixo, bateria, guitarras marcantes e adição de outros elementos. Gravei as vozes guia e começamos a trabalhar. Ele produzia algo e eu falava “é isso” ou “não é bem por aí”, “que acha de irmos assim ou assado?”… Foi um processo muito bacana, espontâneo e natural de colaboração entre nós e gostei muito do resultado final. Acho que apesar de serem muitas influências e muitas intenções o resultado alcançou esse equilíbrio.

2. Você transita por diversos gêneros musicais, como o Hip-Hop, Indie Rock, Rnb, Samba e Afrobeats. Como você equilibra essas influências na sua música?

Tento equilibrar deixando o trabalho ser guiado pelos sentimentos, pelo fio condutor maior que a minha forma de compor e de me expressar. Assim, penso que mesmo as vezes parecendo um leque muito grande e difícil de ser conciliado, termina sendo algo natural e espontâneo. Algo que nasce da minha própria verdade e da minha escrita.
 

3. A faixa “Seu Abrigo” é mencionada como a sua favorita do álbum. O que a torna tão especial para você?

Por que pra mim é uma canção que diz muita coisa sem precisar de muitas palavras. Ela foi escrita num momento muito verdadeiro de amor profundo e acho que é uma das expressões mais puras do que entendo como romantismo. E o Paulinho soube muito bem explorar isso na sonoridade e nas dinâmicas do arranjo. Acho que o resultado ficou simplesmente lindo e até hoje às vezes choro quando escuto.
 

4. O amor, a dor e a redenção são temas centrais nas suas composições. Qual foi o maior desafio ao explorar esses pilares nas canções do álbum?

Na verdade as composições já existiam e esse era o fio condutor entre elas. Então na verdade a obra não nasceu dessa ideia, mas essa ideia ficou evidente para nós a partir da própria obra. O desafio maior então era musical mesmo… Trazer o peso e o balanço de formas que fossem possíveis e preservasse o link entre essas canções musicalmente também. 

5. Em “Não Posso Parar”, você afirmou que entende o álbum como Rock, mesmo misturando outros estilos. Como você vê essa definição no cenário musical atual?

Difícil essa… rsrs… No cenário musical atual vejo o rock muito estereotipado em vertentes específicas ou muitos descaracterizados. Esse álbum se posiciona mais ali como um rock romântico brasileiro, sabe? Nada estereotipado, nem descaracterizado, mas trazendo algumas coisas que fizeram o rock brasileiro ser o que foi com bandas como Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, Titãs, etc, desde a década de oitenta: guitarras e boas composições que trazem alguma conteúdo, sentimento ou reflexão…
 

6. Você mencionou que gosta de misturar elementos vintage e modernos nas suas músicas. De onde vem essa estética e como você acha que ela contribui para o seu som único?
Essa estética vem do que eu escuto e eu me considero um garimpeiro musical porque escuto coisas mais fora do mainstream… mais lado B mesmo… E escuto coisas novas, muito novas e coisas antigas também… Escuto bandas novas como Jawny, Twenty One Pilots, Still Woozy, Oliver Tree, mas ouço coisas dos anos setenta que vão desde Fagner, Zé Ramalho, Caetano, Gil e tropicália em geral, Chico Buarque, The meters, etc… é muita coisa… Então tem hora que eu quero uma guitarrinha anos setenta com um synth ultra moderno e tá tudo bem… rs… Acho que nesse álbum isso aparece um pouco, mas acho que aparece mais essa intenção quando eu mesmo produzo e tem coisas que virão na sequência que vão evidenciar mais isso no meu trabalho. 

7. Qual foi a importância da colaboração com artistas como Carlos Psicofunk e Drica Cunha neste álbum? Como essas parcerias influenciaram o resultado final?

Irmão Carlos é um parceiro de muito tempo que eu conheço desde quando comecei a dar meus primeiros passos na música. Tínhamos banda na mesma época e tocamos em alguns lugares em comum. Então poder contar com ele foi uma grande alegria. E ele chegou agregando muito, complementando a composição e trazendo a sua voz e o seu suingue que eu acho que enriqueceram o resultado final da música Menina Bamba. Já a Drica eu conheci através do Paulinho Moreno (produtor). Ela é esposa dele e quando eles sugeriram de inserir ela recitando trechos dos poemas de Clarice Lispector eu me empolguei porque foi algo que agregou à canção e trouxe aquele clima de final porque já era a última música do álbum… Ficou lindo. Ela canta muito e eu sou muito grato pela humildade dela em apenas recitar. 

8. Brasília tem uma cena musical diversa e vibrante. Como viver na capital influenciou a sua produção artística em comparação com as suas raízes baianas?

Brasília sempre foi um dos berços do rock e hoje é um dos berços de DJs e de música eletrônica. Acho que minha música é muito rítmica e isso é algo que vem da Bahia, transitando pelo hip-hop, pela black music, afrobeats, etc. Então estar aqui me fez perceber que elementos da música eletrônica poderiam contribuir com essas sonoridades. Além disso, aumenta a possibilidade de abrir outras portas para receber esse som. Isso é importante porque qualquer pessoa que faz música gostaria que a sua música pudesse alcançar o máximo de pessoas possível… 

9. O álbum apresenta uma fusão de elementos eletrônicos e orgânicos. Como você decide quando usar sintetizadores e samplers em suas faixas?

Olha é mais ouvido mesmo… Pega a base, experimenta coisas e o ouvido vai dizendo que acha que funciona ou não. E às vezes uma coisa vai levando a outra… Às vezes nada funciona e fica por isso mesmo. rs 

10. “VAI ROSALIE” fecha o álbum com um poema de Clarice Lispector. O que te levou a incluir esse trecho e como você enxerga a relação entre música e literatura no seu trabalho?

Acho que assim como a musica a literatura é um grande vetor de expansão da imaginação, da criatividade, de vivenciar sentimentos, etc. Assim como o cinema também. Mas a literatura tem uma razão mais importante ainda por que eu quando comecei a escrever eram poesias. Depois que percebi que algumas poderiam ser canções. Apesar de hoje eu ser intérprete e também produtor, tudo para mim começou através da escrita e da composição. Fora que poesia é algo que me toca profundamente e as da Clarice então nem se fala… 

11. Desde o lançamento do seu primeiro álbum em 2022 até agora, como você percebe sua evolução como artista?

Acho que estou começando a entender o que compõe a minha identidade, o meu universo, e como transformar isso mais claramente em algo na minha música. Isso significa mais cuidado com as composições e com as produções. Mais intenções, mais buscas por resultados sonoros específicos. Acho que esse é um processo natural do amadurecimento musical. Como cantor também me sinto mais maduro e topando experimentar líricas mais diversas, um pouco mais melódicas. E tudo isso abre outras inúmeras possibilidades de evolução. É aquela busca constante que nos move a continuar produzindo e tentando aprender e entregar mais um pouco a cada projeto. 

12. Quais são os próximos passos para Igor B. após o lançamento de “Não Posso Parar”? Podemos esperar novos projetos em breve?

Só de composições prontas algumas até já como músicas pré-produzidas eu tenho algumas dezenas. Então o que posso garantir é que não vou morrer com nada disso na gaveta. rsrs… Então vem mais singles, vem mais álbuns, vem um ao vivo, vem um acústico… tá tudo nos planos… Ainda tenho muita coisa pra experimentar e essa é a minha jornada mesmo… Para os próximos passos de curto prazo o foco é mesmo, trabalhar esse álbum que saiu. Quem sabe um show com banda tocando as canções do álbum e mais algumas. Por enquanto é uma possibilidade, mas breve eu devo ter mais novidades.

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