Entrevista: Giane Gatti, jornalista, escritora e palestrante em sustentabilidade

Entrevista: Giane Gatti, jornalista, escritora e palestrante em sustentabilidade

1. Seu livro “Mude ou Mude-se para Marte” é descrito como um guia para uma vida mais sustentável. O que motivou você a escrever este livro e qual foi a sua principal inspiração?

Estudo sobre sustentabilidade desde 2015 e, sempre que conversava com amigos, conhecidos e parentes, das mais variadas classes sociais e níveis de escolaridade, percebia um desconhecimento de informações importante sobre esse tema. Entendi que seria útil escrever um livro que abordasse assuntos que impactam a vida das pessoas, como as mudanças climáticas, perda de biodiversidade, poluição, a crise mundial dos resíduos plásticos etc. Ter informação confiável é o primeiro passo para, futuramente, começar a fazer mudanças na nossa maneira de viver e de consumir.

2. Você menciona que o livro combina informações relevantes, reflexões, histórias pessoais e humor. Como você equilibrou esses elementos para criar um guia acessível e envolvente? 

Como sou formada em jornalismo, foi um desafio achar esse equilíbrio, sem que as informações dominassem a obra. No entanto, sabia que não adiantaria ter uma quantidade excessiva de dados que não seriam absorvidos pelos leitores. E entendo que reflexões são um passo importante no processo de criação de mudanças em nossas vidas. Vivemos em um mundo de redes sociais onde a vida das pessoas parece ser perfeita e feliz. Mas muitas vezes isso não corresponde à realidade. Sinto que há uma busca por inspiração genuína, verdadeira, e histórias pessoais nos conectam ao outro. E um pouco de humor, para trazer leveza a um tema, por vezes, árido. Acho que esse “quarteto” funcionou bem.

3. No livro, você fala sobre a importância de entender nosso impacto negativo diário. Pode nos dar alguns exemplos de mudanças simples que podemos fazer no dia a dia para reduzir esse impacto? 

Reduzir a poluição plástica, levando sempre uma sacola reutilizável e não aceitar sacos plásticos em mercados e farmácias; aumentar o consumo de grãos, legumes e verduras, diminuindo o consumo de carne vermelha; cuidar bem de suas roupas e acessórios para que durem mais, evitar comprar de forma impulsiva, consertar eletroeletrônicos e eletrodomésticos, sempre que possível, tomar banhos mais rápidos, ter uma horta, mesmo morando em apartamento, fazer corretamente a coleta seletiva dos resíduos que você gerou, juntar mais roupas para lavar, usando a lavadora em sua capacidade máxima. Andar com uma garrafa e evitar comprar água mineral na rua. Há muitas maneiras fáceis de serem implementadas no dia a dia. 

4. O capítulo “A revolução começa pela boca” trata da alimentação. Quais são os principais pontos que você deseja destacar sobre como nossas escolhas alimentares afetam o meio ambiente? 

A maneira como nos alimentamos pode ter grande impacto negativo ou positivo. Se você tem uma vida digna, deve fazer, ao menos, três refeições por dia, então saber de onde vem o alimento que compro, como é produzido, como ele chega até mim (emissão de gases de efeito estufa no transporte e na fabricação), que tipo de embalagens têm, se elas serão recicladas ou não, e colocar os resíduos alimentares (matéria orgânica) em composteira, para não acabarem em aterros sanitários ou lixões, são ações importantes. Alguns exemplos são: valorize os pequenos produtores, compre alimentos cultivados perto de você. Use os alimentos integralmente, incluindo folhas e talos. Há vários estudos que comprovam que reduzir o consumo de carne vermelha é melhor para a sua saúde e para o planeta (a pecuária intensiva, muitas vezes, está ligada ao desmatamento de áreas para pastagens e produção de grãos para alimentar o gado, uso de grande quantidade de agrotóxicos, que polui os solos e rios, o gado gera muitos gases de efeito estufa, como o metano, durante o processo de digestão do gado etc). Reduzir ou deixar de consumir produtos de origem animal também demonstra compaixão pelos animais.

5. Você aborda várias crises enfrentadas pela humanidade, como mudanças climáticas, perda de biodiversidade e poluição. Como essas crises estão interconectadas e o que você acha que pode ser feito para enfrentá-las de forma eficaz? 

As emissões de gases de efeito estufa geram aumento nos eventos extremos como enchentes, secas, ondas de calor, deslizamentos de terra etc, causando morte de pessoas, principalmente as mais vulneráveis, além de animais e a destruição da natureza. De acordo com estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences citado em artigo do The Guardian, nós, seres humanos, já erradicamos 83% dos mamíferos selvagens e metade das plantas. A poluição também está ligada ao uso de combustíveis fósseis, gerando mortes, doenças e prejuízo financeiro. Precisamos acabar com os subsídios aos combustíveis fósseis e às fazendas de produção de carne intensiva, além de reforçar a educação ambiental nas escolas, termos mais políticas públicas que tornem as cidades resilientes, maior apoio aos pequenos agricultores e às energias renováveis. A sociedade civil deve deve se conscientizar e cobrar dos órgãos públicos essas medidas.

6. Você inclui dados e estatísticas impressionantes no livro, como o impacto do plástico e a questão dos agrotóxicos. Como você selecionou esses dados e como eles ajudam a reforçar a mensagem do livro? 

Venho estudando esses temas, lendo relatórios, pesquisas e entrevistas com especialistas. Priorizei no livro as informações mais relevantes e que impactam a vida das pessoas diretamente. Entendo que para adicionarmos novos hábitos sustentáveis no dia a dia, a informação é muito importante, mas não podemos deixá-la no nível racional. Temos que absorvê-la, levá-la ao coração, assimilá-la, para então, entender o benefício e ter a motivação para agir. 

7. O livro também apresenta cinco perfis de ações sustentáveis. Pode nos dar uma ideia de como esses perfis funcionam e como eles podem ajudar os leitores a se identificar e melhorar seus hábitos? 

Os perfis mais básicos são aqueles em que há algumas ações práticas, mas elas não são constantes nem na quantidade adequada. À medida que absorvemos as informações e decidimos agir, podemos escolher ações que vão gerar maior impacto positivo, abrangendo mais áreas da nossa vida, como o uso dos recursos: água, eletricidade; como nos alimentamos, comprar apenas quando necessário e de empresas e empreendedores que têm práticas sustentáveis, fazer a coleta seletiva para que as matérias-primas possam voltar à cadeia produtiva, dar uma maior vida útil aos aparelhos etc.

8. O prefácio do livro é escrito por Bianca Ramoneda e a orelha por Cris Pàz. Como foi a experiência de colaborar com essas pessoas e qual o impacto que seus depoimentos tiveram na recepção do seu trabalho? 

Fui muito afortunada de poder contar com o talento e a sensibilidade dessas mulheres tão especiais. A jornalista, escritora, atriz, roteirista e curadora de eventos Bianca Ramoneda captou perfeitamente a essência, a mensagem do livro. E a escritora e palestrante Cris Pàz teve o desafio de, em um pequeno espaço, entender o convite que a obra faz a todos, para que haja uma mudança de consciência e uma reconexão comigo mesmo e com a natureza. Várias pessoas que compraram o livro vieram falar comigo sobre como foi bacana ter as duas nesse projeto, dando luz à mensagem do livro.

9. Você fala sobre a necessidade de escolhas mais conscientes e de se reconectar com a nossa essência e com a natureza. Como você pratica isso na sua própria vida e que desafios encontrou nesse processo? 

É preciso entender que é um processo. Dificilmente alguém vai, de um dia para o outro, reduzir o consumo de carne, comprar menos, fazer a coleta seletiva etc. Vamos gradativamente percebendo a importância, escolhendo em qual área vou começar a agir: alimentação, compras em geral, como me locomovo? Foi assim que eu fiz. Aos poucos, assimilando as informações, levando ao coração, encontrando a motivação e entendendo os benefícios de fazer aquilo. De uma maneira constante e leve. Sem ser alguma coisa obrigada. E com o tempo, aquela ação se torna natural. 

10. Com uma carreira longa na mídia e experiência em sustentabilidade, como você vê a evolução da consciência ambiental e quais são os principais desafios que ainda enfrentamos na promoção de hábitos sustentáveis? 

Vejo com preocupação, pois andamos a passos muito lentos. Os efeitos das mudanças climáticas já são catastróficos, causando mortes, sofrimento, doenças, pobreza, perdas financeiras, destruição da natureza… Precisamos de políticas públicas mais efetivas, a sociedade em geral deve exigir por isso. As cidades devem ser mais resilientes, se preparando para os eventos extremos. Precisamos mudar nossos sistemas alimentares, incentivando uma alimentação mais saudável e com menos efeito negativo na natureza. É hora de aprender a viver com menos, sendo mais feliz. Parece contraditório, mas não é. Há um chamado profundo em nós para agirmos mais rapidamente, mas precisamos nos livrar das desculpas, crenças errôneas e barreiras que criamos para não sairmos da zona de conforto.

11. Quais são suas expectativas para o impacto que “Mude ou Mude-se para Marte” pode ter em seus leitores e na discussão sobre sustentabilidade? 

Meu desejo é que uma palavra, uma reflexão, uma informação toque o coração do leitor e ele decida fazer algo diferente. De uma maneira leve, sem complicação, a partir do coração, a partir do amor por parentes e amigos, a partir do amor pela natureza e por essa Casa Maravilhosa que ganhamos de presente, o planeta Terra. Levar uma vida sustentável é mais fácil e prazeroso do que as pessoas imaginam.

12. Além deste livro, você tem outros projetos ou iniciativas futuras que pretende desenvolver para continuar promovendo a sustentabilidade e a conscientização ambiental? 

Sim. Uma das coisas que mais gosto de fazer é dar palestras e participar de eventos para falar sobre como viver de uma maneira mais simples, mais conectada com as necessidades do momento, inspirando o máximo de pessoas a irmos juntos essa jornada sustentável. Tem outro projeto que ainda é segredo, mas será muito bacana. Me sigam no instagram que vou contar mais, além de sempre estar publicando conteúdos sobre como ter uma vida mais sustentável. 

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