Entrevista: Daniel Spinelli, autor do livro “A Potência da Liderança Consciente”

1. Senhor Spinelli, sua jornada inspiradora nos Himalaias indianos foi o ponto de partida para este livro fascinante. Como você descreveria a transformação que ocorreu durante esse período sabático e como isso influenciou a criação de “A Potência da Liderança Consciente”?

A minha jornada nos Himalaias indianos me colocou em contato com uma essência mais profunda, toda a experiência que eu tenho de 30 anos como líder e mais de 20 investindo na área de desenvolvimento humano. Foi lá que eu pude perceber que tudo isso poderia ser somado à minha dedicação também ao estudo da mente humana, às minhas práticas contemplativas e transformar tudo isso em algo que pudesse gerar um benefício para a sociedade, que nesse momento eu acredito que é uma contribuição direta na evolução dos modelos de liderança predominantes.

2. A obra destaca a importância da liderança consciente em um mundo empresarial em constante mudança. Pode nos dar exemplos práticos de como os líderes podem aplicar essa consciência em suas organizações?

Nós como líderes temos tendência a replicar modelos anteriores e muitas vezes deixar que a influência da pressão por resultados nos atrapalhe no aspecto das relações humanas. E, cada vez mais, com base nas transformações que o mundo está passando o que vai fazer diferença é a capacidade das conexões humanas, porque no fundo não estamos falando de negócios, nem de empresas, estamos falando das pessoa por trás de cada negócio, de cada número, de cada indicador, porque por trás de cada organização existem seres humanos e, nessa aceleração frenética que o mundo está vivendo, muitas vezes nos esquecemos disso. Trazer consciência para liderança é entender que este não é só mais um tabu importante a ser tratado, mas também que existem ferramentas e métodos que precisamos praticar para elevar o nível da consciência.. Existem capacidades que nós precisamos desenvolver para navegar com mais humanidade, com mais consciência nesse mundo.

3. Sabemos que a equidade de gênero desempenhou um papel significativo na criação deste livro. Como a igualdade de gênero se relaciona com a liderança consciente e por que isso é tão fundamental?

Para nós foi super importante trazer o valor da equidade de gênero para o projeto do livro. Isso se deu através das citações, dos exemplos, do time de pesquisa e da própria linguagem utilizada no livro, procurando marcar ao mínimo possível o gênero masculino, como é o que estamos acostumados a fazer quando falamos de liderança. Então, liderança consciente significa que devemos ampliar o olhar para além dos nossos interesses individuais e começar a perceber que o mundo, para se desenvolver em termos de consciência, demanda uma percepção maior, que podemos atuar, ainda que seja uma pequena contribuição, podemos alimentar esse lado da evolução da consciência através das nossas práticas de liderança. Essa é uma das mensagens do livro.

4. Muitos líderes podem estar se perguntando como desenvolver habilidades de liderança mais humanas. Quais são os primeiros passos que um líder pode tomar para trilhar esse caminho?

Normalmente, quando as pessoas lideram, elas querem desenvolver a habilidade de liderar pessoas e se esquecem que existe um passo anterior a este, fundamental, que apresentamos no livro como sendo a primeira dimensão que é a autoliderança. É a capacidade de se conhecer melhor, perceber melhor as emoções, saber gerenciar seus pensamentos, emoções, tornar-se capaz de ter mais protagonismo interno. Antes de mais nada, nós como líderes queremos inspirar protagonismo nas pessoas, mas muitas vezes estamos nos vitimizando ou terceirizando a responsabilidade que é nossa. Então, precisamos buscar fortalecer, criar uma liderança mais presente e consciente. Simplificando, o primeiro passo é o autoconhecimento, autopercepção, auto gestão emocional, ou seja, autoliderança. 

5. Uma das promessas do seu livro é mudar o resultado de líderes, colaboradores e empresas como um todo. Como essa abordagem pode impactar positivamente a produtividade e o bem-estar nas organizações?

Este é um estigma que tratamos no livro, que prega que para a pessoa ter e gerar resultados, precisa ser uma pessoa má, excessivamente cobradora, o tradicional modelo de comando e controle, alguém de quem as pessoas têm medo. E mostramos com base em pesquisa que, na verdade, esse modelo de liderança está ficando obsoleto, porque as pessoas têm cada vez mais opções, elas podem empreender, circular em outras empresas. Vemos inúmeras empresas hoje que estão crescendo e precisando de  novos talentos, sem conseguir fechar vagas. Porque as pessoas têm mais opções e, estão dispostas a dar resultado e engajar, mas buscam por empresas  que tenham práticas conscientes, que tenham uma liderança mais humana, um ambiente de trabalho próspero, positivo, que promova o bem-estar e, ao mesmo tempo, incentive o aprendizado. Esse é o desafio hoje. Nosso objetivo com o livro é mostrar que existe um caminho para promover esse equilíbrio. 

6. Você mencionou a importância de uma visão sistêmica de interdependência na liderança consciente. Como os líderes podem desenvolver essa perspectiva em um mundo cada vez mais globalizado?

Precisamos começar a praticar essa visão sistêmica de interdependência dentro de “casa”, do nosso trabalho. Uma das principais fontes de desperdício de recursos nas empresas é a dificuldade de comunicação entre áreas. No livro, mostramos como, através de uma abordagem mais empática, líderes podem construir pontes e derrubar essas barreiras que normalmente existem entre as áreas de uma organização. Quando falamos de um mundo globalizado, olhando para o entorno da organização, acabamos replicando este mesmo modelo. Então, a primeira coisa a fazer é analisar internamente a própria organização.

7. Sua obra também tem um viés social, visando apoiar líderes de frentes sociais e humanitárias, bem como jovens em situações de vulnerabilidade. Como você espera que essa abordagem gera um impacto positivo nas comunidades e nas organizações?

Temos algumas empresas, parceiros, inclusive pessoas físicas, que estão comprando livros para serem doados para as frentes sociais que estamos alcançando através do projeto. Então, como o livro apresenta uma metodologia para a evolução da qualidade de uma liderança, então será muito importante que essa metodologia esteja acessível para líderes de frentes sociais humanitárias e para jovens saindo da situação de vulnerabilidade e entrando no mercado de trabalho. Nós não queremos que seja um diferencial para poucas pessoas terem acesso, mas sim, que essa metodologia esteja ao alcance de quem quiser. Esse é o princípio da frente social.

8. Para os líderes que desejam aprofundar seu entendimento sobre liderança consciente, qual é o papel da Masterclass “O Futuro do Trabalho” que acompanha a compra antecipada do livro?

O papel da Masterclass é trazer uma introdução ao tema, ter um momento de conversa com o autor e com o time de pesquisa, nós estaremos presentes, como forma de sensibilizar sensibilizar as pessoas, falar um pouquinho dos bastidores da produção desse livro, que é super interessante, além de estimular as pessoas para que não só leiam o livro, mas também levem para a prática, porque o livro poderia ser considerado um curso de liderança, ele tem QR codes que levam para instrumentos de aprendizagem, para formulários, para as pessoas preencherem e poderem aplicar na sua realidade.

9. Como sua experiência na região dos Himalaias da Índia, estudando com grandes mestres das tradições contemplativas, moldou sua visão sobre liderança consciente e o trabalho com líderes?

A minha experiência na região dos Himalaias aprofundou uma visão que eu já vinha construindo realizando as práticas contemplativas há 13 anos. A meditação, para mim, é uma prática diária a muitos anos, eu realizo muitos retiros de estudo, silêncio, leituras relacionadas à tradições contemplativas. É uma caminhada inspiradora  e recomendo que as pessoas experimentem isso.

Acredito que a influência das práticas contemplativas junto ao aprofundamento que pude ter nos Himalaias, me lembrou que precisamos trazer mais consciência para aquilo que estamos fazendo no nosso dia a dia, precisamos lembrar que tudo que fazemos diariamente, constrói um legado existencial. Podemos através disso desenvolver uma visão mais elevada do que aquela materialista que normalmente pauta a forma como muitos de nós levamos a vida e inclusive, a forma como  lideramos.  

10. No final das contas, qual legado você espera deixar com “A Potência da Liderança Consciente” e como você vê o futuro da liderança nas organizações?

O legado que eu espero deixar é uma revisão das práticas de liderança, para práticas mais conscientes, mais humanas. Estamos vivendo um momento crítico de transformação na sociedade, vindo do pós-pandemia, que fez com que muitas pessoas precisassem revisitar seus valores, suas prioridades de vida, e isso está gerando impactado nas novas  gerações que estão entrando no mercado de trabalho, gerações que não têm mais tanto aquela preocupação com estabilidade. Essa nova geração quer, cada vez mais, coisas que tenham propósito, significado, querem sentir-se consideradas e que fazem parte de algo. As novas tecnologias também têm criado muitas oportunidades para todas as pessoas, a facilidade hoje de empreender, ainda que  a taxa de mortalidade das novas empresas seja alta, está cada vez mais fácil empreender. Isso muda todo o cenário, é transformador. Liderar nesse novo mundo é diferente do que vínhamos praticando como liderança até agora. Lideranças de comando e controle, que utilizam o medo das pessoas, ficará cada vez mais fraca e a liderança forte do futuro é aquela que é capaz de construir significado junto com as pessoas, criar culturas de aprendizagem, desafiar as pessoas a evoluírem não só profissional, mas pessoalmente, em conjunto. Inspirando pelo lado pessoal, pela integridade, pelos valores. Essa é a forma como eu vejo o legado que podemos deixar com essa provocação que trazemos no livro, com a metodologia que o livro traz.