Entrevista: Cora Menestrelli, escritora

Entrevista: Cora Menestrelli, escritora

1. Cora, “Axioma” é seu primeiro livro publicado pela Editora Planeta. Como foi a transição da autopublicação para uma grande editora? Quais foram os desafios e benefícios desse processo?

Apesar de “Axioma” ter sido o primeiro livro em uma grande editora, em 2022 a Qualis Editora – uma editora de médio porte que tem como foco a publicação de livros nacionais – publicou “Como (não) ter um encontro” na Bienal de São Paulo, então serviu para que eu pudesse conhecer um pouco de todo o processo de tornar um livro realidade dentro de uma editora. A maior diferença é, com certeza, que todos os processos saem das minhas costas, tanto de trabalho como também financeiramente. Não é nem um pouco fácil publicar um livro sozinho e você precisa contratar profissionais do livro da mesma forma, mas é sempre um desafio. No início da minha carreira, eu tinha que escolher entre ter uma capa bonita que chamasse a atenção do público ou uma revisão, e sei que isso é uma realidade para vários autores. Ao mesmo tempo em que isso é a melhor parte, também é a parte que mais me dá um estranhamento, hahah! Mesmo lidando com uma equipe confiável e capacitada, sempre parece que eu posso estar esquecendo de algo. Ainda assim, é o tipo de estranhamento interno que eu adoro passar.

2. Soubemos que “Axioma” explora o relacionamento entre uma ginasta e um skatista durante as Olimpíadas. Pode nos contar o que a inspirou a escolher esse cenário esportivo para sua história?

Lembro que eu estava acompanhando as Olimpíadas de Tóquio e comecei a me perguntar como seria um romance nesse ambiente. Todos os meus livros incluem esportes de alguma forma, então é bem natural no meu processo que comece dessa forma. Eu queria um romance entre opostos em um ambiente onde há a união do esportes, e assim nasceu o romance entre Jade e Vinícius. A primeira publicação foi de forma independente, como uma novela, e eu escrevi tudo em seis ou sete dias.

3. Jade Riva e Vinícius Carvalho são os protagonistas de “Axioma”. Como você desenvolveu esses personagens e suas jornadas pessoais?

Pode parecer clichê, mas eu tinha acabado de passar por uma decepção amorosa. Em um desabafo sobre isso com algumas amigas, uma delas me disse algo que ainda hoje é um dos principais diálogos do livro, de um momento onde Jade está conversando com um amigo. Eu sempre coloco muito dos meus sentimentos atuais nos meus livros, então não foi nem um pouco diferente com esse. Mesmo reescrevendo um ano depois, com uma mente completamente diferente, eu queria manter todo o desenvolvimento de permitir tentar conhecer o amor, mesmo que você tenha passado por alguma decepção antes. Axioma é o meu livro mais especial, porque foi o primeiro em que eu me permiti mostrar inseguranças que eu não pensava em mostrar em outros livros na época em que o escrevi.

4. O “Coraverso” é um universo literário que conecta personagens de várias de suas obras autorais. Como isso se aplica em “Axioma”? Podemos esperar conexões com outros personagens de seus livros?

 Sim! Nesse livro, também temos personagens de “Metanoia”, mesmo que não sejam os protagonistas deles, e uma leve referência a “Sinestesia” que só quem leu vai acabar pescando. Acho que essa é a melhor parte desse universo. Todos os personagens são uma família, mesmo que não sejam do mesmo sangue. Quero que o Coraverso seja uma casa para os leitores, onde eles podem encontrar esses personagens que amam mesmo depois do fim de seus respectivos livros.

5. A pressão das competições olímpicas e a agitada rotina da vila olímpica são elementos-chave em “Axioma”. Como você pesquisou e representou esses aspectos realistas do esporte de forma autêntica?

Essa foi uma das partes mais difíceis e, ao mesmo tempo, mais legais. Eu assisti vários filmes e documentários esportivos que mostrassem a pressão dos atletas em grandes competições, além de conteúdos de atletas no YouTube também. Lembro que assisti a Zusjes de Witte, que são irmãs que correram nas Olimpíadas, e também o Tom Daley, que é um saltador britânico. De vlogs mostrando os alojamentos até fotos de onde não era permitido que gravassem, qualquer coisa que me ajudasse a visualizar o ambiente interno dos atletas era o suficiente. No que eu não conseguia informações, tentei complementar com o que era possível saber de outros tipos de competições. No geral, esse não é um nicho onde é criado tanto conteúdo mostrando a rotina, muito menos no Brasil.

6. Se Jade e Vinícius fossem personagens de um filme, qual seria a trilha sonora perfeita para o romance deles?

Clichê, mas Delicate da Taylor Swift. Ou Invisible String. Lembro que, na época em que escrevi a primeira versão, 18 do One Direction me inspirou muito. É difícil escolher só uma!

7. Se você pudesse escolher uma celebridade para interpretar Jade e Vinícius em uma adaptação cinematográfica de “Axioma”, quem você escolheria?

Nossa, aí é uma pergunta que me pega muito. Eu nunca consigo visualizar os meus personagens em atores, sempre montei suas aparências baseadas em várias fotos de pessoas diferentes que encontro no Pinterest, hahahah. Em uma adaptação, eu definitivamente não faria parte do processo de escolher um elenco

8. Qual é a comida favorita de Jade e Vinícius? Os leitores podem esperar alguma cena memorável envolvendo comida no livro?

Jade gosta de doces. Não esses doces comuns, mas os docinhos enfeitados em formato de bichinhos que você encontra nessas cafeterias superfaturadas da Avenida Paulista. Inclusive, a primeira interação dela com Vinícius é depois de passar em uma cafeteria temática da Hello Kitty em Tóquio. O Vinícius é simples, uma comida caseira é a melhor comida que qualquer pessoa pode querer.

9. O romance entre Jade e Vinícius tem sido elogiado por alguns como uma representação autêntica do amor, mas também recebeu críticas. Como você lida com as opiniões divergentes sobre seu trabalho?

Eu sempre soube muito bem separar as críticas entre aquelas que são maldosas ou que são construtivas. Como comecei a escrever há muito tempo, lá no Wattpad, e acho que essa interação com o público desde sempre me blindou contra qualquer coisa mais negativa. Hoje em dia, vejo críticas como uma possibilidade de melhorar a minha escrita. Na maioria das vezes, até concordo com algumas delas, mas consigo “pescar” o que vale levar para futuros trabalhos ou não. Nunca pensei em parar de escrever por conta de uma crítica.

10. “Axioma” aborda temas sensíveis, como superação e segundas chances no amor. Você acha que a literatura tem um papel importante em transmitir mensagens de esperança e resiliência para os leitores?

Com certeza! Não acho que livros precisem ser aulas sobre temas importantes, que precisem de uma moral no final que muda a sua percepção sobre algo. Mas penso que se você escolheu abordar um tema, ele deve ser desenvolvido com responsabilidade. Seja da homofobia até a vivência em um relacionamento tóxico, entre outros. Em “Axioma”, eu queria mudar um pouco a visão de que pessoas que passaram por relacionamentos ruins sempre vão ter esse trauma enraizado e marcante em suas vidas. Não é assim. Não é fácil, também, mas não é impossível. Com terapia e sensibilidade, é possível viver um amor bonito depois de se decepcionar com alguém.

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