Entrevista: Coletiva Musical Coligação Z.E.M, projeto musical

Respostas por: Nobru CZ,  fundador e integrante da Coligação Z.E.M.

1. “Sobressalto” marca uma nova fase na trajetória da Coligação Z.E.M., trazendo uma celebração à diversidade e às vozes dissidentes. Como foi o processo de criação desse álbum e de que maneira ele reflete o crescimento do coletivo ao longo dos últimos seis anos?

O processo de criação dessa obra foi um verdadeiro desafio. Começamos a elaborar o álbum durante o período mais agudo da pandemia de Covid 19, os encontros eram restritos e muita coisa foi feita de forma online. A cada baixa que acontecia no número de casos e com o começo da vacinação os encontros foram se tornando presenciais, foi a partir disso que a obra começou a tomar corpo e as sessões de estúdio puderam ser consolidadas. O crescimento da Coligação Z.E.M se dá a partir do encontro do mesmo, fazendo jus a sigla Z.E.M (Zona de Encontro Musical). A evolução não só musical mais de vida vem das pessoas que compõem e se propõe a troca de saberes e vivências dentro da CZ. Atualmente posso afirmar que mais de 50 pessoas já colaboraram e colaboram com  essa manifestação musical chamada Coligação Z.E.M.

2. O álbum aborda questões complexas como gênero, raça e classe social. Como vocês enxergam o papel da música urbana na amplificação dessas discussões e na promoção de mudanças sociais?

O som da Coligação Z.E.M retrata o ambiente caótico de São Paulo e até de outras megalópoles, onde a diversidade social é gritante. Acredito na arte como uma das principais ferramentas de sensibilização e mobilização para levantar pautas emergentes, potencializar corpos dissidentes e buscar soluções para a manutenção da vida em sua totalidade.

3. A participação da escritora Naty Domingos em faixas como “Sobressalto” e “O Peso das Acolá” traz relatos impactantes sobre privação de liberdade. Como foi a colaboração com ela, e o que vocês esperam que o público leve dessas histórias?

A Naty Domingos é uma potência! Escritora, que descreve fatos, memórias e  vivências de uma forma que te leva pra dentro dos seus relatos. O que ela traz são fatos que ela viveu e vive na pele, por isso carrega uma verdade absoluta. O encontro com ela foi feito através da Thata Oliveros, que integra a Cooperativa Libertas.  Colaborar com a Naty é uma honra e um aprendizado constante, ela é uma professora no mais alto grau. De coração espero que as pessoas conheçam o trabalho da Naty, comprem o zine dela “Contos de Uma Mulher Liberta” e potencialize o trabalho da cooperativa. A sociedade precisa refletir e conhecer de perto os maus tratos que acontecem no sistema carcerário, afinal pessoas não são números, são pessoas.

4. Vocês mencionam que enfrentaram muitos desafios durante a gravação de “Sobressalto”. Poderiam compartilhar alguns desses desafios e como eles influenciaram o resultado final do álbum?

Creio que o distanciamento que vivemos e as incertezas se todos chegaríamos vivos até esse lançamento por conta da pandemia foram os principais desafios. Além é claro, da falta de recursos financeiros para viabilizar essa obra. Fizemos um trabalho na raça com o apoio da plataforma de difusão cultural Selo Fértil.

5. A Coligação Z.E.M. é conhecida por reunir artistas de diferentes universos musicais. Como vocês selecionam esses colaboradores e qual foi a dinâmica de trabalho com artistas como Felipe Flip, Gabrelu, JuPat, Camila Trindade e membros da Nômade Orquestra e Nazireu Rupestre?

Tudo surge a partir do encontro. As conexões são feitas a partir dos movimentos de rua. Quem chega junto são pessoas que se identificam com a proposta de colaborar e ajudar a escrever as páginas desse manifesto. A dedicação, comprometimento, entrega, respeito e amor para com esse projeto é algo indescritível, por isso creio muito na força que esse álbum carrega. Gratidão infinita a todes.

6. O novo álbum traz uma mistura de gêneros musicais que vai do rap ao hardcore, passando pelo reggae e jazz. Como vocês equilibram essa diversidade sonora e garantem que cada estilo mantenha sua essência dentro do coletivo?

É tudo muito orgânico e horizontal, cada um que chega traz sua bagagem e tem liberdade para criar e sugerir. Não pensamos em fazer músicas comerciais que são concebidas a partir de fórmulas do sucesso, a CZ faz música do coração e a liberdade deixa o processo de criação leve e construtivo. Assim de forma natural surge a diversidade sonora e a identidade coletiva.

7. Nobru CZ mencionou que “Sobressalto” é um reflexo da jornada e crescimento do coletivo. Como vocês sentem que evoluíram musicalmente desde o álbum “Zona de Encontro Musical” (2018), e quais foram as principais lições aprendidas nesse período?

A evolução é necessária em todos os aspectos da vida. O álbum Zona de Encontro Musical na época já foi um grande salto em relação ao estudo musical, fizemos um mergulho profundo nas teorias.¨Agora com o Sobressalto a gente explorou um pouco mais a bagagem de cada participante. A principal lição na verdade é um exercício diario: faça uma escuta atenta. 

8. A Coligação Z.E.M. tem uma forte identidade ligada à diversidade e à emancipação. Quais são os próximos passos do coletivo para continuar promovendo essas causas através da música?

Creio que precisamos cuidar e valorizar as relações, as mazelas da vida muitas vezes nos distanciam desse cuidado. Não podemos perder isso de vista. 

9. Como vocês esperam que o público reaja ao álbum “Sobressalto”, especialmente em termos de ressonância com as mensagens de resistência e resiliência presentes nas letras?

Que as músicas toquem no coração das pessoas. Eu acredito muito no amor e sinto que esse sentimento é de fato a solução para a maioria dos problemas que enfrentamos.

10. A música tem o poder de unir diferentes perspectivas e promover a reconexão. Como vocês veem o papel da Coligação Z.E.M. nesse cenário atual da música brasileira, e como esperam continuar inspirando mudanças significativas?

Acredito muito na renovação, pautada na história das pessoas e movimentos que vieram antes. Acredito que a Coligação Z.E.M tem potencial para ser um grande expoente da música urbana, dentro e fora do Brasil.