Entrevista: Clerio Back, fotógrafo

Entrevista: Clerio Back, fotógrafo

Entrevista: Clerio Back, fotógrafo

1. Clerio, parabéns pela sua conquista incrível. Como você se sentiu ao saber que sua foto foi a vencedora entre mais de 500 mil inscrições no CEWE Photo Award 2023?

Agradeço muito, é uma sensação difícil de descrever, ainda mais pensando no tamanho desse concurso, do prestígio e principalmente do nível de qualidade dos fotógrafos e fotos participantes. É um misto de orgulho, felicidade e gratidão. Um momento único e marcante na minha vida.

2. “Trabalhadores Noturnos” é o título da sua foto premiada. Pode nos contar qual foi a inspiração por trás dessa imagem e como ela foi capturada?

Eu sempre gostei muito de captar cenas cotidianas e praticar fotografia de rua, e essa cena foi uma situação que me chamou muito atenção pelo ambiente, pelas cores e claro pelos personagens. Busquei documentar uma narrativa que estava sendo contada naquele momento. A fotografia tem esse poder e é por isso que amo muito a espontaneidade que tenho, fotografando e buscando esse tipo de cena.

3. Ficamos curiosos sobre o equipamento que você usou para capturar essa foto. Você poderia compartilhar mais detalhes sobre a câmera ou smartphone que utilizou?

Eu usei meu Samsung note 20, é uma ferramenta que está sempre comigo e gosto muito pela praticidade e pela qualidade de entrega pra esse tipo de fotografia. Eu uso muito inclusive para vídeos e projetos documentais.

4. Sabemos que essa premiação ocorreu na Alemanha. Como foi a experiência de subir ao palco e receber o prêmio em um cenário internacional?

Estar nesse ambiente foi uma experiência incrível. Tive oportunidade de conhecer fotógrafos de diferentes países com diferentes culturas e olhares, também bate um orgulho de estar ali representando meu país e tambéma meu continente, e isso com certeza valoriza muito a qualidade de produçãoa visual do nosso país, temos fotógrafos renomados e incríveis por aqui. Nossa cultura e identidade é sempre muito estimada, então ser um brasileiro, e estar ali representando, é motivo de grande orgulho pra mim.

5. Você foi o único premiado de todo o continente americano. O que isso significa para você e para a fotografia brasileira?

É uma grande honra ser premiado e representar meu país nesse concurso, isso me mostra que devo continuar acreditando no meu olhar, e buscando sempre fazer meus projetos, seguindo a minha linguagem pessoal. O Brasil é um país extremamente rico em criatividade, mesmo em situações adversas, e a nossa fotografia é incrível, porque representa a nossa cultura, o nosso jeito de ser que é espontâneo e plural. Acredito que esse prêmio valoriza de alguma forma a nossa cultura e a nossa arte, porque é uma cena nossa, não é um fotógrafo brasileiro que fez uma imagem fora do seu país. Essa cena representa o que é nosso também, é parte de uma história nossa.

6. Além de ser um fotógrafo talentoso, você também é graduado em Publicidade e Propaganda. Como essa formação influenciou sua abordagem na fotografia?

Foi no curso de Publicidade que acabei realmente conhecendo a fotografia. Eu tive um primeiro contato com o laboratório de revelação em Preto e branco e foi algo mágico, aquilo realmente me tocou e claro mudou minha vida. Passei a procurar mais conhecimento tanto técnico como também de linguagem e claro fui praticando cada vez mais. Foi no curso que descobri que realmente queria isso pra mim.

7. Além da fotografia, você é professor, diretor e filmmaker. Como consegue equilibrar todas essas paixões e atividades em sua vida?

Acho que acabo conectando todas as essas paixões. A docência pra mim, sempre foi um ambiente de aprendizado, e como eu dava aulas práticas relacionadas à fotografia e produção audiovisual, sempre pensei minha abordagem na sala de aula como um processo de aprendizagem e troca. Sempre pesquisei e estudei muito e busquei conhecer os nomes importantes que me influenciam até hoje na minha linguagem, e pra mim, mesmo muitas vezes sendo exaustivo conciliar várias atividades, sempre gostei muito porque era algo que me motiva a ser melhor para poder ensinar melhor e de alguma forma ser uma referência ou exemplo no que eu faço.

8. Quais são seus projetos pessoais futuros na área da fotografia e do vídeo? Algum projeto especial em mente que gostaria de compartilhar conosco?

Tenho alguns projetos que estão se encaminhando. Quero voltar a pensar mais nas produções de fotografia de rua e também quem sabe se possível pensar algumas exposições, atividades como cursos e coisas nesse sentido. Na produção de vídeo em breve começo a produção de projetos documentais com amigos e pessoas que admiro muito. Dessa forma, acredito que profissionalmente vai ser uma fase de muito crescimento e aprendizado.

9. Compartilhe um pouco sobre as pessoas ou profissionais que o inspiram no mundo da fotografia. Quais são suas referências?

Eu sempre gostei muito dos fotógrafos de rua. É até difícil e injusto elencar alguns somente mas eu gosto de muitos nomes. Posso citar Henri Cartier-bresson que é uma influência praticamente unânime nesse universo, mas também gosto muito do Sebastião Salgado, Waltee Firmo, Alex Webb, Steve McCurry. Não posso deixar de citar meu amigo Nilo Neto, fotógrafo Curitibano e que foi também meu professor de fotografia, uma grande inspiração e mentor para mim. Além dos nomes que citei um dos que mais me influenciaram e influenciam é meu amigo e grande parceiro de tudo o gênio Gui Dalzoto, conterrâneo e o cara mais talentoso e criativo que já conheci.

10. Em um mundo onde a fotografia digital é cada vez mais predominante, qual é a sua opinião sobre o valor da fotografia analógica? Ela ainda tem relevância?

Sim e tem muita. Vejo que os entusiastas mais jovens estão redescobrindo a fotografia analógica e acho isso incrível,  uma outra maneira de fazer e que também exige um cuidado diferente. O fato de você ter uma imagem física já é algo mágico, foi o que me encantou na fotografia, e o processo analógico é muito imersivo, você acaba sentindo ainda mais a fotografia no coração.

11. Algumas pessoas argumentam que premiações de fotografia são subjetivas e podem criar uma competição desleal. Como você vê essa questão?

De alguma forma as premiações realmente são subjetivas, porque cada concurso é formado por diferentes jurados que possuem olhares diferentes e gostos diferentes, mas de qualquer forma, são pessoas que amam a fotografia, e procuram encontrar algo que toque o coração, que ao meu ver, é a principal função da imagem, além, é claro, de contar uma história. No caso da minha foto, que ganhou a categoria “Food and Cooking”, ela não mostra comida e não mostra ninguém cozinhando, a imagem é totalmente dentro do tema, que é sobre  comida e cozinha. Então acredito que o poder de uma imagem pra encantar, tem que contar uma história, de forma esteticamente atrativa e também ser de certa forma única.

12. O que você diria para aqueles que acreditam que a fotografia de smartphone não pode ser considerada arte da mesma forma que a fotografia tradicional?

Eu gosto muito de pensar na ideia de arte como Marcel Duchamp pensava, que ela não é a ferramenta ou o objeto final em si, a arte reside na intenção do artista em criar arte, e isso é mexer com as pessoas, fazer elas refletirem, serem tocadas, questionadas, pararem para pensar. Para isso, não importa a câmera e a ferramenta, importa o olhar, a intenção.

13. Você já teve alguma situação engraçada ou inusitada enquanto estava fotografando que gostaria de compartilhar?

Teve uma vez, que fui para uma gravação com um cliente que era uma conta nova e estava bastante empolgado com o trabalho, e queria fazer e mostrar o melhor. Chegando no local, descarregando o equipamento, na entrada tinha uma escadaria larga e o cliente estava na porta esperando, eu com algumas mochilas nas mãos fui rapidamente ao encontro dele, e me atrapalhei completamente e cai com a cara no chão praticamente nos pés do cliente e não tava conseguindo levantar porque estava com muita coisa nas mãos, precisei de ajuda. Ele perguntou se eu tinha me machucado e se abaixou pra me ajudar e estava preocupado, falei que não estava com nenhuma dor e não foi nada, apesar de estar todo ralado, mas a dor maior foi a do ego acabado.

14. Se você pudesse escolher qualquer lugar do mundo para fazer uma sessão de fotos, qual seria e por quê?

Essa é uma pergunta muito difícil. Acredito que sempre o próximo lugar vai ser o lugar mais incrível, eu quero fotografar em vários lugares, várias pessoas. Gostaria de conhecer alguns países do norte da Europa, mas também alguns países da Ásia, além de voltar pra fotografar nos Estados Unidos. Então é uma pergunta sem uma única resposta, porque pra mim é realmente difícil escolher um único lugar.

15. Se sua vida fosse um filme, qual título você daria a ele?

Vida em movimento.

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