Entrevista: Clarissa Chaves, atriz e cantora

1. Como foi o processo de preparação para interpretar a Jerusa, uma personagem tão icônica da obra de Jorge Amado?
O processo tem sido de muito estudo e intuição. Eu senti desde sempre uma conexão com os sentimentos da personagem porque é como uma outra vida minha no passado se identificasse com ela em muitos aspectos. Estudo o corpo da Jerusa e tento encontrar uma forma que se funde com o meu, pra haver harmonia entre eu e ela. O processo de criação de uma personagem tão especial vai ficar pra sempre na minha memória. Sou apaixonada por Jerusa.
2. O que significa para você interpretar uma personagem que simboliza empoderamento feminino e liberdade de amar?
Eu interpreto tudo o que sou. A diferença é que como personagem eu estou no começo dessas sensações. Então tudo é mais novo e intenso. Eu não gosto nem de pensar muito na questão de tempo, porque a Jerusa estava à frente daquele ano (década de 20), quando começou a se permitir sentir tudo isso, e nos anos 20, ter esse tipo de pensamento era muito ousado. Eu deixo a personagem sentir e enfrentar tudo sem essa barreira.
3. Quais são os principais desafios de adaptar Gabriela, Cravo e Canela para o formato de musical?
No papel de atriz, pra mim, o desafio é: não deixar a personagem caricata.
Tenho muito cuidado em trazer humanidade pra Jerusa e vivê-la com naturalidade no palco.
Por ser uma obra clássica, há sempre muita expectativa no que será visto, feito.
E trazer esse senso de proximidade da realidade para um musical, é um desafio. Porque ao mesmo tempo em que temos de trazer a naturalidade dos personagens, há também muita fantasia nesse espetáculo.
E isso torna tudo mais gostoso ainda! Juntar a ficção com a realidade tem feito Gabriela Cravo e Canela ser um diferencial.
4. Como você vê a relação entre Jerusa e Mundinho? Quais aspectos dessa história de amor você acha mais interessantes?
Acho que é uma relação de amor, respeito e afeto. O que é muito raro para a época em que se passa. Em Ilhéus, cidade do interior da Bahia, em 1925, imperava o machismo, o patriarcado e a misoginia, Aspectos ainda tão atuais, mas que comparados aos anos 20, são mais falados, há mais trabalhos de conscientização, para que as mulheres (e todos os gêneros) tenham mais informação de como lidar com essas questões. Então, viver o respeito que Mundinho carrega por Jerusa, enche meu peito de alegria!
Os personagens se encontram e embarcam numa paixão com tantas barreiras, mas que no fim, dá certo.
A vida foi muito generosa em me presentear com uma personagem que vive uma história de amor tão intensa, bonita e verdadeira. Eu como uma boa canceriana, amei e estou amando viver esse romance clássico! De novela, de filme, de livro, de tudo! Fora a honra de repesentar uma personagem que foi da icônica Nívea Maria, uma das mais importante atrizes da TV brasileira. Um presente!
5. Acredita que a mensagem de empoderamento da Jerusa ressoa de maneira diferente nos dias atuais?
Eu acredito que sim. Hoje enxergamos isso como liberdade, luta por sua própria felicidade! Na época, provavelmente as beatas a julgaram como rebelde. Apesar da herança histórica do sistema social patriarcalista, a mulher tem se colocado cada vez mais como protagonista na sociedade atual, assumindo novos papéis.
6. Você já teve experiências anteriores no teatro musical. Como essas vivências anteriores influenciam seu trabalho agora em Gabriela?
Em Teatro Musical, tive por enquanto, duas pequenas experiências, uma delas foi a audição pra Elis, a Musical. Essa oportunidade foi uma porta que se abriu e nunca mais se fechará. Foi a partir dali que tive acesso a esse universo, que até então era distante pra mim. Logo em seguida fiz muitas aulas pra me aperfeiçoar. Participei de “O violinista no telhado”, musicual do compositor americano Jerry Bock no curso que fiz e, em seguida, fui aprovada na minha audição para Gabriela, o musical!É gratificante ter essa oportunidade de crescer como artista junto a profissionais tão talentosos e fazer parte de uma obra tão clássica e histórica como Gabriela Carvo e Canela.
7. Sabemos que você é cantora e compositora e está em processo de lançamento de um álbum. Como você equilibra as carreiras de atriz e cantora?
Confesso que ainda estou achando esse equilíbrio. São situações muito diferentes, onde a intensidade é vivida de forma distinta nesse meu contexto. Pois meu álbum é um projeto completamente diferente de Gabriela.
Eu vivo tudo o que sempre tive como objetivo, e ter essas duas profissões é incrível pois uma complementa a outra no sentido de criação pessoal.
Eu uso muito da musica pra construir a Jerusa e uso muito da atuação pra construir minha música.
Pra mim, mesmo com as diferenças, tudo está emaranhado.
8. Participar de uma montagem dirigida por João Fonseca e Nello Marrese é um grande destaque. Como é trabalhar com esses profissionais tão renomados no teatro brasileiro?
É um presente divino. São oportunidades que a vida nos dá, e que se fizermos a nossa parte, nos dedicarmos, resultam em crescimento pessoal e artístico.
Vejo o trabalho deles e fico deslumbrada, pois é muito profissionalismo e talento.
E saber que sou dirigida por eles, é gratificante. Um aprendizado, pois além de ótimos profissionais, são ótimas pessoas.
9. A direção musical está a cargo de Tony Lucchesi. Como tem sido a experiência de trabalhar com ele e interpretar músicas que misturam composições originais com clássicos da música brasileira?
Tony é aquele tipo de diretor que faz perder o fôlego ao ouvir uma criação dele.
Há tantos ‘hits’ em Gabriela que acredito que as pessoas vão querer ver o espetáculo mais de uma vez.
É muito enriquecedor ver a forma como ele trabalha, e a seleção de músicas que ele fez pra obra, que casaram perfeitamente com as situações que os personagens estão vivendo.
Assistir Gabriela, em todos os sentidos, será uma experiência inesquecível.
10. O que o público pode esperar das coreografias criadas por Bella Mac? Há alguma cena específica que você acha que será particularmente emocionante ou impactante para o público?
Bella é tão talentosa, amo as coreografias dela. O trabalho que ela faz durante os ensaios sempre acrescenta ao espetáculo. Acho incrível que nesse processo há muita escuta dela para com os atores e atrizes também. Ela dá liberdade de criação e eu amo trabalhar com esse tipo de profissional.
Acho que especificamente, a música “Vida de Quenga” será uma parte marcante para o público! Pois é dinâmica, engraçada, divertida, e a coreografia é sensacional.
11. Você menciona que suas influências musicais incluem artistas como Elis, Djavan e Amy Winehouse. Essas influências têm algum impacto na sua interpretação de Jerusa ou em outras áreas de sua carreira?
Sim. Sou completamente influenciada por esses artistas. A arte deles me inspira e me fazem ter fôlego.
Em todos os meus processos de criação, eu uso não só esses três artistas, mas todos os que cresci ouvindo, como inspiração.
12. Como foi o início de sua trajetória nas artes e o que motivou sua decisão de atuar e cantar profissionalmente?
Eu sempre estive fundida na arte. Tenho muita sorte de ter uma família que me apoia. Desde criança minha avó e mãe me incentivavam, levando a desfiles, concursos, shows, cinema e teatro.
A arte pra mim é minha vocação, é minha alma, o ar que respiro. Não me vejo feliz fazendo nada que não seja ligado a cantar, dançar, atuar… é parte do meu dna! Minha decisão de levar isso profissionalmente já vem de uma vida toda, mas coloquei para frente quando tive maturidade o suficiente pra entender que meu caminho só seria trilhado se eu me movimentasse. Que só vontade não é o suficiente, temos que correr atrás do que desejamos realizar. E assim que tive esse pensamento, o universo abriu os caminhos e hoje estou aqui conquistando tantas coisas que eu tinha como objetivo. Sou cantora, compositora e todo um trabalho tem sido feito com os melhores profissionais da música, escolhidos por representar todas as características que carrego comigo.
13. Recentemente, você participou do concurso para abrir o Lollapalooza. Como foi essa experiência e o que ela representa para você em termos de reconhecimento na música?
Fiquei muito grata por ter sido escolhida entre tantas pessoas. A Radio Rock é clássica e ter tido selecionada por eles, foi de uma alegria. Ver que eles me enxergaram capacidade e talento para cantar no lollapalooza foi um sinal de que estou no caminho certo! Amei a experiência de participar de um concurso tão grande, e ainda mais sendo um concurso deles!
14. Com a estreia do musical e o lançamento do seu álbum em 2025, quais são seus planos e expectativas para o próximo ano?
Me jogar de cabeça e viver tudo isso intensamente, com muito amor e paixão pelo o que faço. Meu plano é deixar transparecer ao público uma artista verdadeira e transparente quando o assunto são suas vulnerabilidades, mostrar uma música humana e carregada de sentimentos.
Minha expectativa é viver o que há de melhor pra mim e entregar um trabalho que possa não só mudar minha vida, mas que faça alguém se identificar de alguma forma. De mostrar que ninguém está sozinho e que está tudo bem ter um coração partido, que crescer faz parte, que viver é bom demais.
Tenho a expectativa de viver minha vocação e me aperfeiçoar cada vez mais nos palcos.
15. Que mensagem você gostaria de deixar para o público que está ansioso para assistir Gabriela, Cravo e Canela e para aqueles que acompanham sua carreira musical?
Se preparem pra assistir um espetáculo de muitas músicas incríveis, originais e releituras, história linda e artistas talentosos! E 2025 está chegando com muitas surpresas, música e fantasia! Na música, o álbum será um mergulho nos meus sentimentos que eu amei transformar em uma história linda, sensível e verdadeira. Já estou em estúdio gravando e muitas surpresas estão sendo preparadas.