1. O que te inspirou a escrever “O Coração do Príncipe” e explorar o tema da chegada da corte portuguesa ao Brasil?
Em uma reunião com minha editora, ela disse que adoraria ter esse material para publicar e que acreditava que eu seria capaz de fazer algo muito bonito com esse argumento. Eu aceitei e deu muito certo.
2. Como foi o processo de pesquisa histórica para garantir a precisão dos eventos históricos retratados no livro?
Sempre gostei muito de história, por isso foi uma jornada deliciosa começar essa investigação através de livros, documentários e podcasts. Estudar sempre será um convite irrecusável para mim.
3. Em que aspectos você se identifica com a protagonista Amélia e como isso influenciou a construção do personagem?
Eu poderia apontar diversos pontos como, por exemplo, seu compromisso em se tornar a pessoa que se almeja ser, mas de tudo o que nos aproxima, acredito que Amélia me ensinou que o amor vale a pena, mas não a qualquer custo.
4. Qual é a mensagem principal que você espera transmitir aos leitores através desse romance de época?
Adoraria que os leitores aproveitassem a jornada, que pudessem descansar da vida enquanto se perdem nessa história. Para mim, literatura não tem fins pedagógicos, não precisa ter uma moral. Literatura é preenchimento. Desejo, mais do que tudo, que eles sejam capazes de se conectarem com minhas palavras e sentirem cada uma delas.
5. Pode nos contar um pouco sobre o relacionamento entre Amélia e Pedro e como ele reflete os desafios da época em que a história se passa?
O maior desafio desse período é lidar com o fato de não terem escolha em relação ao próprio destino. Pedro tem uma obrigação maior com a monarquia sendo primeiro sucessor ao trono, seu casamento significa unificar reinos, fortalecer alianças, assim, não leva em consideração seus desejos pessoais para esse evento. Amélia, por sua vez, é mulher, não tem voz nenhuma, cresce sabendo disso. Mas no fim, nada disso importa, eles se apaixonam e querem acreditar que esse amor será mais forte do que todas as convenções sociais que lhes cercam.
6. Como foi trabalhar em parceria com a Editora Livros da Alice e o que esse novo selo representa para você como autora?
É um time engajado, querido, que trabalha feliz e abraça sua história como deles. Fui bem recebida e criei uma conexão muito boa. Para mim, é importante estar enturmada com a equipe, pois quando entrego a história, a construção do livro passa a ser um trabalho coletivo e manter a sinergia é de suma importância para o sucesso do lançamento.
7. “O Coração do Príncipe” é seu primeiro livro lançado pelo Grupo Ediouro. Quais são suas expectativas em relação a essa nova parceria?
Sempre digo que sou uma pessoa de relacionamentos longos. Espero que possamos lançar muitos livros juntos, estou confiante de que faremos muitas coisas bonitas.
8. Você mencionou que seu irmão, historiador, contribuiu para a precisão histórica do livro. Em que aspectos específicos ele te ajudou durante o processo de escrita?
Minha especialidade em história sempre esteve relacionada à literatura. Sempre estudando obras dentro de determinados contextos históricos, por isso, foi importante receber a orientação dele em relação ao material de estudo. Ele me indicou filmes, livros, séries, documentários e entrevistas com historiadores, o que foi determinante para o meu trabalho na hora de construir o enredo.
9. Como você descreveria o estilo literário de “O Coração do Príncipe” em comparação com seus trabalhos anteriores?
Após escrever e publicar tantas coisas sei que o que une minha obra é o meu jeito de escrever. Tenho minha própria voz e sou feliz em ver que tenho espaço para escrever do meu jeito. Não importa se estou escrevendo uma comédia romântica como meu conto Era Amor ou uma distopia futurista como O que Não Diz a Lenda, falo de gente, de dilemas particulares, de como o mundo afeta o indivíduo e, principalmente, o que devemos – ou conseguimos – fazer com o que nos tornamos. O coração do Príncipe é um livro romântico, mas também é uma história que fala sobre escolhas, resiliência e o poder do tempo. Tudo isso do jeitinho Chris Melo de contar.
10. Além do romance, quais são os temas secundários que você explora neste livro e por que são importantes para a narrativa?
Sempre procuro abordar a importância das relações como um todo e não apenas romanticamente. Há conflitos familiares, companheirismo e amizade. Além disso, há a própria jornada de cada personagem que cresce equilibrando seus desejos com oportunidades. Uma questão importante para livros YA é abordar como e quando acontece a transformação de jovem para adulto e eu tento responder essa questão dizendo que não é uma tarefa fácil, mas é possível crescer sem amargar.
11. Você acha que Amélia teria acesso à Internet se vivesse nos dias de hoje?
Sim, Amélia, apesar de não pertencer à nobreza, é de uma família rica. Seu pai garantiria a melhor tecnologia para sua filha, assim como oferece os melhores vestidos e joias no livro. A única questão, talvez, fosse o controle, ela teria que fazer a mesma coisa que faz no livro, tapear o pai para garantir certa liberdade.
12. Quanto tempo você demorou para escrever cada palavra do livro à mão antes de digitá-lo?
Eu não escrevo o livro à mão. Faço à mão alguns rascunhos com anotações, projeto capítulos, crio um perfil de cada personagem, escrevo para acompanhar os estudos, mas é só isso. Já me demoro muito me preparando antes de iniciar o livro em si, caso o fizesse à mão, demoraria o dobro ou mais. Além disso, tenho um cisto no punho direito, nem suportaria tal tarefa.
13. Você acha que os personagens históricos se preocupavam com problemas de pele como acne?
Talvez algumas coisas fossem mais comuns, pois, como não havia tratamento, muita gente tinha. Além disso, problemas de pele, além de acne, também eram comuns, devido a não existência de saneamento básico. Apesar disso, aparência sempre foi uma preocupação, independente do motivo ou norteador.
14. Algumas pessoas argumentam que romances de época glorificam uma era de desigualdade social. Como você responde a essas críticas?
A gente não inventou a História, ela aconteceu. Cabe a nós abordar as questões com sensibilidade. O Coração do Príncipe não é indiferente às questões sociais, inclusive, temos Amélia abolicionista, filha de uma escravizada com um traficante de pessoas pretas. Da mesma forma que não precisamos ignorar o lado triste, também não temos que ignorar o fato de que, mesmo em períodos terríveis, as pessoas se apaixonam, vão a festas e vivem todos os tipos de dilemas.
15. Qual é a sua opinião sobre as críticas que sugerem que seu trabalho é excessivamente romântico e escapista?
A função da arte é o escapismo. Lido muito bem com isso, apesar de nunca ter ouvido antes. Se meus livros trazem algum alento, alguma sensação nova, horas de prazer, distração e entretenimento, minha função está cumprida.
16. Há quem diga que explorar um romance entre uma plebeia e um príncipe perpetua estereótipos de contos de fadas ultrapassados. Qual é sua visão sobre isso?
Estereótipos são reforçados quando abordados da mesma maneira. A força deste livro está toda em Amélia, desconstruir é importante, mas para fazê-lo precisamos pegar a base e desmontar. Foi o que fiz.
17. Como você vê a evolução da sua carreira como escritora desde o lançamento do seu primeiro livro?
Hoje sou uma autora mais experiente, que possui seu espaço e está mais preocupada em produzir do que provar que tem valor ou repertório. O tempo é importante para carreiras artísticas, ele prova que você não é mais uma aposta e sim uma constante. Permanecer foi um desafio que venci e me tornou mais confiante para continuar minha missão de contar histórias
18. Quais são os maiores desafios que você enfrenta como autora no cenário literário brasileiro?
O mercado de Cultura no Brasil é difícil, somos uma nação jovem que ainda se perde muito em alguns conceitos. Além disso, a economia e incentivos públicos variam demais e afetam o cenário cultural. Faz parte do processo, não tem como fugir, quem quiser estar nesse meio precisa se habituar a essas variações e aproveitar os momentos bons e segurar firme quando o mercado encolher.
19. Você planeja explorar outros gêneros literários no futuro ou pretende se manter fiel ao romance?
Quando meu primeiro livro se tornou um sucesso e fui comparada a mestres das histórias românticas prometi que não faria dez versões da mesma história, mesmo sabendo o que tanto agradou o público. Tenho mantido essa promessa, cada livro traz um universo único, quem dá o tom da história são as pessoas que a estão vivendo. Por exemplo, criei um personagem que presta serviços para a polícia, inevitavelmente o livro tem mais cenas de ação do que outros, trata-se de algo natural. Assim, fica fácil entender que estou apegada a contar a história daquelas pessoas respeitando o tempo e espaço delas e não ao gênero do livro. Esse é o motivo de não me preocupar em estar lançando um livro de época agora. Não me importo com o título, ser romancista é ser especialista em contar histórias longas e isso me traz infinitas possibilidades, e eu quero todas elas.