O livro foi escrito há 26 anos. O que motivou vocês a resgatar esse projeto agora e finalmente publicá-lo? CHRIS: Tanto eu quanto Taís e Fernanda tivemos um início de vida adulta muito atribulado, com muitas mudanças e desafios pessoais e profissionais. Demoramos para terminar de colorir as ilustrações (essa parte feita pela designer Fernanda Bonvini) e lapidar o texto. Decidimos lançar agora porque dirijo a Garota FM Books, editora de livros musicais, e esse livro fala de um amor que surgiu do encontro do Eu com a Música. Também já havia o plano de inaugurar o selo Garotinha FM Livros. Queríamos lançar no ano passado, celebrando os 25 anos da nossa amizade e dessa história, mas só foi possível neste ano.
Na época em que criaram a história, vocês eram muito jovens. O que mudou na percepção que têm hoje sobre aquele texto escrito em 1999? TAÍS: Em 1999, éramos bem menos exigentes e tínhamos uma visão mais simplista e romântica da vida. Hoje, ao reler, surge até um lado crítico cogitando novas abordagens, mas acho que perderia o sentido. Continuamos revisitando nossa criança interior.
O livro lembra O Pequeno Príncipe, trazendo reflexões profundas em formato infanto-juvenil. De que maneira esse clássico influenciou o processo criativo? TAÍS:O Pequeno Príncipe marcou nossas infâncias e a de muitas gerações. É um livro com traços simples e conteúdo filosófico vasto. Durante a criação de Eu na Minha Terra Distante, percebemos a forte influência desse clássico, tanto na linguagem quanto na identidade. Nosso protagonista também enfrenta questões existenciais.
O personagem Eu pode ser qualquer pessoa. Como definem essa metáfora? TAÍS: O “Eu” representa a parte íntima e singular de cada indivíduo. Encontrar identidade, superar medos, lidar com a solidão, entender o tempo, assumir responsabilidades afetivas e produtivas… tudo isso é uma aventura universal. O “Eu” sou eu, é a Chris e é qualquer pessoa nessa caminhada.
A Música tem papel fundamental na narrativa. Isso dialoga diretamente com a trajetória de vocês? CHRIS: Com certeza. Crescemos cercadas de música. Em 1999, Taís já era uma grande cantora e compositora; eu cantava em bandas de amigos, mas era insegura e me refugiava na pesquisa e na escrita. Taís me incentivava, dizia que eu era uma “estrelinha que ainda ia brilhar”. Eu a apoiava emocionalmente e trazia organização. Com o tempo, criamos nosso projeto musical Eu, Chris e Taís, que segue até hoje. Esse livro é a soma de tudo isso.
Quais foram os maiores desafios para transformar os desenhos originais em ilustrações finalizadas junto com Fernanda Bonvini? CHRIS: Eu não tinha talento para desenhar, mas rabiscava esse personagem desde sempre. Fiz os primeiros traços em folhas de sulfite, mas não sabia como pintar. Fernanda, que era próxima, se empolgou e foi experimentando cores e elementos, como os arbustos. Foi um processo longo, mas cheio de descobertas.
O livro nasceu de uma carta de amor que virou história. Essa origem confere uma camada poética especial? TAÍS: Acredito que sim. O amor transforma nosso mundo interno e também nossa forma de olhar o externo. O livro foi inspirado e desenvolvido com muito amor — e onde há amor, há poesia.
O reencontro com a obra trouxe também a vontade de criar trilha sonora. Já existe alguma música pronta para esse universo? CHRIS: Sim! Taís compôs uma música linda, tema do Eu, que já tem até um vídeo informal no YouTube. Outras estão em andamento. Chegamos a ter uma trilha completa, mas a perdemos com um HD. Estamos recomeçando, mesmo sem previsão.
Como equilibram hoje a vida profissional com a criação artística em parceria? CHRIS: Infelizmente a música não é prioridade por causa das nossas outras atividades. Mas buscamos sempre encontros para criar. Temos composições para gravar e, no lançamento do livro, faremos um pocket-show — o primeiro desde 2022.
Vocês enxergam Eu na Minha Terra Distante como livro único ou início de uma série? CHRIS: Não pensamos numa série, mas depende da resposta do público. Nada impede que o Eu viva novas aventuras. Ele é um personagem com questões existenciais universais, e ainda há muito a ser explorado.
O lançamento será em Niterói, cidade natal de vocês. Qual o significado desse retorno? CHRIS: Eu sou de Niterói e Taís é de Itaperuna, mas morou aqui muitos anos. Nossa amizade nasceu em Niterói. Temos amigos antigos e minha família sempre abraçou essa parceria. É simbólico celebrar aqui, junto às nossas origens e memórias.
Que mensagem esperam que leitores de todas as idades levem da fábula? CHRIS e TAÍS: A importância de plantar sementes, regá-las, ter paciência para esperar os frutos e manter o pensamento positivo. No livro, o Eu aprende que, quando começa a sorrir, as coisas boas acontecem. É uma metáfora sobre fé, esperança e persistência na vida.