Entrevista: Banda Pedra Relógio

1.    O álbum homônimo marca a estreia oficial da banda. Como vocês definiriam o conceito geral do disco e a jornada até o lançamento?

O tema em geral dessa coleção de canções fala sobre estar saindo da juventude para entrar na fase adulta da vida. É um álbum narrado a partir de momentos de tensão mas cantado com melodias leves, um contraste legal que seria quase como olhar o lado bom da vida mesmo nos momentos de maiores pressão e dificuldades. Mas é certamente um álbum intenso e isso está expresso no som dele. É um som guiado por parede e frases de guitarras, batidas fortes e experimentações bem fora da caixa do que está rolando hoje no cenário musical de rock do Brasil. Conversamos sempre entre nós que isso é bom e ruim ao mesmo tempo. Não parecemos com ninguém, o que é ótimo pela autenticidade, mas também não pertencemos a nenhuma cena específica de som que está rolando pelo Brasil, o que torna o caminho e as conexões mais duras de serem trabalhadas. Acho que o que importa no fim é o som ser verdadeiro para nós no momento em que ele foi escrito e nisso temos certeza que este álbum foi muito bem sucedido.

2.    O single “Pensando Demais” tem um videoclipe que mistura cenas de shows e bastidores. Como foi a experiência de gravar com Anderson Castro e o que esse clipe representa para vocês?

Ao longo de nossa jornada já gravamos clipes com câmeras de alto desempenho, equipe de produção e até vídeos de animações. Vejo muito mérito nessas abordagens, mas o mais importante para nós no momento é estar conectado com nosso público. A verdadeira arte é aquela que comunica com quem nos acompanha, e para isso nada melhor do que mostrar nossa intimidade de uma maneira divertida e descompromissada. O Anderson é muito importante nesse processo por conhecer nossa intimidade. É como se fosse o olhar das pessoas dentro da banda. Um salve especial à ele aqui.

3.    Vocês mencionaram influências como Pixies, Oasis e Nirvana. Como essas referências moldaram o som do álbum e como elas se conectam com a brasilidade presente nas letras?

Não são referências conscientes, são mais inspirações. Essas bandas citadas fazem parte de como ouvimos música na nossa cabeça porque elas nos acompanham desde a pré-adolescência e fizeram parte da construção da nossa amizade. Meio que quando estamos compondo o jeito de tocar já está direcionado para esse som e nós sabemos que isso só acontece porque ouvíamos MUITO essas bandas. Sempre colocávamos uma dessas bandas pra sair de casa ou curtir uma noite ouvindo elas. Vejo como algo muito natural principalmente dentro de um primeiro álbum. A parte da brasilidade está nos temas e nos casos que são contados. Não há nada mais brasileiro do que falar literalmente sobre estar num trampo que tira a sua alma e que você quer muito melhorar de vida, sabe? Eu acredito que a música e a cultura brasileira são muito plurais e isso pode vir de diferentes maneiras dentro de uma expressão artística. Mas eu (Marcelo, vocal/guitarra) cresci também tocando músicas do Samuel Rosa e do Rodrigo Amarante no violão por exemplo. Certamente há influência desse período nas palavras e nas frases cantadas desse álbum.

4. Algumas faixas, como “Ouro de Tolo” e “Pois É”, trazem arranjos mais delicados e experimentais. Como foi o processo de criar e integrar essas camadas sofisticadas ao rock alternativo?

Um dos maiores prazeres desse álbum para nós, sem dúvida. É o experimento que te abre os horizontes e acende uma chama dentro de você para o próximo passo. O momento em si tem suas dores de cabeça porque você está lidando com algo novo, mas é muito foda você ver representado no som um filtro na bateria, colagens aqui e ali e um simples mellotrom pra preencher os espaços que os arranjos das cordas estão deixando. Essa parte do álbum fala muito sobre o futuro do nosso som.

5.    Vocês produziram, mixaram e masterizaram o álbum no estúdio “Lo-fi Club”. Quais desafios e vantagens encontraram ao assumir tantas etapas do processo criativo?

É uma via de mão dupla porque agora todas as escolhas estão centralizadas em nós mas ainda assim há o gosto pessoal de cada um nas tomadas decisão. Isso pode se tornar uma grande armadilha se o espírito correto e os objetivos não estiverem claros pra todo mundo. Tivemos nossas dores de cabeça mas natural por estarmos aprendendo a lidar com essa nova etapa. No fim o que vocês poderão ouvir no álbum é o que ficou de melhor dessa experiência.

6.    O confinamento durante a pandemia teve impacto no trabalho de muitas bandas. Como esse período influenciou a criação e o resultado final do álbum?

Foi absolutamente decisivo. Foi esse tempo livre que nos fez refletir sobre os caminhos que estávamos tomando. Mudou nossa rota para o melhor, sem dúvidas. A rotina intensa muitas vezes distorce a realidade em que vivemos, essa era uma grande armadilha do nosso caminho até ali. Conseguimos finalmente pensar e executar em longo prazo, porque o músico independente PRECISA do tempo para se organizar e aplicar as ideias. Não adianta desrespeitar os processos. Tudo tem seu tempo e você precisa trabalhar de acordo com as fases. Acredito que essa tenha sido a principal lição desse período.

7.    As letras abordam temas como desafios da juventude, paixões intensas e a busca por um futuro melhor. Há alguma história ou experiência pessoal que inspirou essas composições?

Todas experiências pessoalíssimas (kkk). Cada pessoa tem a sua própria visão de uma paixão vivida intensamente ou a busca por um futuro e um trampo melhor. Essa de estar em um emprego que massacra seu espírito é uma experiência que, se for vivida com resiliência, te leva a lugares lindos na vida, porque nada te motiva mais do que sair de um lugar que você odeia, né? E é melhor fazer música e tirar algo de bom desse sentimento para que alguém possa cantar contigo e se sentir representado por você. Quem sabe essas músicas possam inspirar outras pessoas à fazer o mesmo e também seguir seus sonhos. Acho que a vida é muito curta para não seguir seus sonhos. Isso tem que ser uma rotina. Todo dia. Sempre que houver a possibilidade. A semana fica mais fácil de passar quando você está lutando de verdade por uma paixão sua.

8.    Vocês estão juntos desde 2015. Como enxergam a evolução da banda e do som ao longo desses anos?

Acho que tudo mudou para melhor. Estamos mais conscientes e conectados entre nós e os objetivos e os passos são muito mais claros hoje com o amadurecimento pessoal de cada membro. A única coisa que não mudou é a vontade genuína de fazer música que seja braba de verdade para nós. Toda vez que a gente acerta uma inspiração e cria uma nova música ou um novo som o coração bate mais forte. Ali você já sabe que tem mais coisa boa por vir.

9.    A tracklist do álbum inclui 11 faixas. Qual delas foi a mais desafiadora de compor e por quê?

Por incrível que possa parecer, a mais faixa desafiadora de se produzir foi a canção mais simples dessa leva. “Pois é”, faixa 6. Ela é literalmente a primeira música que compusemos juntos e nela está toda a beleza e também os problemas dessa fase. Lutamos muito para tirar arranjos que não soassem banais mas ao mesmo tempo não levar longe demais a ponto de tornar ela uma música difícil de se escutar porque essa não é a intenção dela.
As outras todas meio que o quebra-cabeça foi se montando sozinho. Nem parece que é você fazendo, a parada só vai e flui. Esse sentimento na criação é maravilhoso.

10. O álbum já está disponível nas plataformas digitais. Quais são os próximos passos? Há planos para uma turnê ou mais videoclipes?

Estamos em constante contatos para novos shows e parcerias. Adoraríamos tocar por todo o sudeste. Esse é o plano na real. E depois o Brasil, claro, mas uma coisa de cada vez. E certamente virão novos vídeos e conteúdos desse álbum, faço o convite pra todos que estão lendo para seguirem nosso perfil no Instagram, Youtube e Spotify. Muita coisa boa por vir.

11.  Para quem ainda não conhece a Pedra Relógio, que mensagem ou sensação vocês gostariam que o público levasse ao ouvir o álbum?

Aproveitem o caminho! O que fica são as memórias e para ter as melhores você precisa estar vivendo intensamente. Essa é a energia desse álbum!

12.  Por último, como a cidade natal de vocês, São João Nepomuceno, influenciou o som e a identidade da banda?

R – Eu não digo tanto a cidade em si, por mais que sejamos de uma cidade de proporções minúsculas (25.000 habitantes) ainda assim você não convive em todos os contextos e pessoas dentro dela. Vejo influências mais em nossos amigos e ambientes em que vivemos. O próprio Anderson, que gravou o vídeo de “Pensando Demais”, foi a primeira pessoa que nos sugeriu de gravarmos em casa. Pegou os equipamentos dele, trouxe até nós, teve toda a paciência do mundo pra tentarmos tirar algo de bom dali, já que todos éramos inexperientes naquele ponto. Então a influência do nosso contexto na produção desse disco é enorme, gigantesca. Estar ao lado dos amigos de verdade e das pessoas certas para a sua vida é essencial!