Entrevista: André Luiz Odin, ator

Entrevista: André Luiz Odin, ator

1.   O início da sua jornada artística foi com o sapateado aos 3 anos. Como essa experiência influenciou sua paixão pela dança e teatro? 

Eu fui uma criança hiperativa, não parava nunca. Sempre estava dançando e cantando aos cantos, para os amigos e família. Além de acompanhar meus irmãos nos ensaios do Coral da Cidade de Salto, ou minha irmã nas aulas de dança que fazia, assisti muitos filmes que me marcaram. Mary Poppins, Mudança de Hábito 1 e 2 (principalmente o 2), Dirty Dancing, Chiquititas… Desde pequeno eu quis ser artista. Quando de fato comecei aos 9 anos a fazer aulas de Sapateado e Jazz, não parei mais. Me encontrei, sabia que era isso que faltava em minha vida.

2.   Com quase duas décadas de carreira e diversos musicais no currículo, o que o atraiu em particular para o papel de Eddie Ryan em “Funny Girl”? 

Funny Girl é uma história que eu conhecia por conta do filme. Assisti em uma época que queria me aprofundar mais no mundo dos musicais. Já era familiarizado com a Barbra Streisand, foi através dela que encontrei o filme e me encantei. Me encantei com a força e persistência da personagem, não me esqueço nunca da cena em que ela diz que sabia patinar para conseguir o emprego, sendo que ela nunca patinou na vida. Meu pai um dia disse que era medroso mas destemido, eu me vejo assim também. Eu vou/faço, com medo mesmo, mas vou. Acho que o que me atraiu em Eddie foi poder fazer parte deste elenco e contar essa história de uma artista que tem muito a nos ensinar e ainda quebrar paradigmas nos dias de hoje.

3.   Você descreve o teatro musical como uma forma de unir dança, canto e interpretação. Como você acha que essa combinação enriqueceu sua jornada artística? 

Sempre gostei de ser um artista versátil e me adaptar a todos os meios e estilos. Quanto mais a gente estuda, pesquisa, experimenta, mais nos enriquecemos como pessoas e profissionais, e mais oportunidades e possibilidades se abrem a nossa frente. Eu sou geminiano com ascendente em gêmeos, acreditando em signos ou não, isso diz muito sobre essa pluralidade artística.

4.   “Funny Girl” é um musical consagrado da Broadway. Como você abordou a construção do seu personagem, Eddie Ryan, de forma única, sem se basear em versões anteriores? 

Tentei não assistir nenhuma versão do musical, nenhuma referência, para construir junto com o diretor Gustavo Barchilon um Eddie único, um Eddie que fosse nosso. E acredito que conseguimos isso. Ele é o amigo da Fanny que está ao lado dela dando força, incentivando e ajudando-a, ao mesmo tempo que existe um amor platônico mais explorado na nossa versão que a de fora. Depois que estreamos, assisti essa versão do musical que estava há pouco na Broadway e consegui ver outro Eddie, completamente diferente do que construímos aqui.

5.   Você compartilha algumas semelhanças com Eddie Ryan, como a paixão pela dança. Como essas semelhanças pessoais influenciaram a maneira como você retrata o personagem no palco? 

Acredito que em certo momento, os dois se uniram. O diretor, Gustavo Barchilon, tem um olhar incrível para selecionar o elenco. Ele procura em cada artista algo que quer nos personagens a serem escolhidos. Isso ajuda na construção, pois conseguimos agregar um pouco da nossa própria personalidade, quem somos. Vejo muito do Eddie em mim, ele é amigo, parceiro, está sempre disposto a ajudar e dar forças a Fanny, às vezes passando por cima de suas próprias emoções para isso. 

6.   O musical narra a história de Fanny Brice e sua determinação em se tornar uma estrela. Como Eddie Ryan contribui para o desenvolvimento da personagem de Fanny? 

Ele é quem dá a primeira oportunidade para a Fanny, vê nela a grande estrela que ninguém vê. A partir disso, está sempre a ajudando a se aprimorar, a conseguir melhores oportunidades e segura na mão todas as vezes que ela precisa. Além de ser um contraponto ao Nick Arnstein, paixão e marido de Fanny Brice.

7.   Compartilhe um pouco sobre a dinâmica no palco com seus colegas de elenco, como Giulia Nadruz, Eriberto Leão e Stella Miranda, enquanto trabalhavam em “Funny Girl”. 

Uau! Eu não sei nem como expressar o que é dividir o palco e os dias com esses artistas tão incríveis. Posso dizer que cada apresentação, cada ensaio, é uma aula! Tenho aprendido muito com cada um dos meus colegas de cena. Quando tivemos nosso primeiro ensaio, do dueto que tenho com a Stella Miranda, eu me tremia de nervoso. Estou muito feliz de poder vivenciar tudo isso.

8.   Você já interpretou diversos papéis em musicais, desde “Billy Elliot” até “Anastasia”. Qual foi o maior desafio que enfrentou até agora, e como superou esse desafio? 

Acredito que cada trabalho traz um desafio diferente, difícil conseguir saber qual foi o maior que enfrentei até agora. Mas posso citar alguns: em Billy Elliot, tinha que sapatear pulando corda. No primeiro dia que pegamos a corda na mão, achei que nunca conseguiria essa habilidade, mas depois de muitos ensaios e repetições, consegui! Quando fomos montar Zorro, Nasce Uma Lenda, foi dividido o papel do Sargento Garcia. Para o Javier Berteloot, argentino Bailaor Flamenco, e eu. Como ele falava espanhol, foi me dada a função de ser um “tradutor” em cena, sendo que éramos um só personagem. Como não existia o meu personagem, foi criado tudo do zero, juntamente com os diretores. E foi um dos trabalhos mais incríveis que pude fazer parte. Tenho orgulho de todos que fiz.

9.   Além da performance em palco, você teve um mês e meio de ensaios intensivos e aulas de sapateado para se preparar para o papel. Como essa preparação impactou a sua abordagem à atuação?

Essa preparação me ajudou a estar em forma com o sapateado, para poder explorar o meu melhor possível no processo de ensaios e montagem. Tivemos pouquíssimo tempo de ensaio, 1 mês e meio no total, mas acredito que conseguimos criar um espetáculo impecável.

10. Com uma carreira cheia de aprendizados e conquistas, o que você espera que o papel de Eddie Ryan em “Funny Girl” lhe ensine? E como você enxerga o futuro da sua carreira? 

Acredito que já consigo perceber alguns aprendizados que o Eddie tem me ensinado. Principalmente pela visibilidade que estou tendo. Até aqui sempre levei minha carreira deixando que as coisas acontecessem naturalmente, a partir do Eddie Ryan, estou aprendendo a gerir minha carreira além de atuar. Me fez tomar as rédeas do que eu quero para o meu futuro, que é ter notoriedade e ter a autonomia de poder produzir.

11. Se o seu personagem Eddie Ryan tivesse que escolher um estilo de dança moderna para dominar, qual você acha que ele escolheria?

Acredito que ele escolheria manter vivo o estilo Vaudeville, que é o que sempre ele trabalhou. Talvez ele pudesse mesclar o moderno com o clássico, e criar algo com uma identidade única.

12. Imagine que Eddie Ryan decidiu abrir uma escola de dança. Qual seria o slogan dela?

 “Descobrindo o artista que existe em você.”

13. Se você pudesse trocar de papel com qualquer outro personagem de “Funny Girl”, quem seria e por quê?

Não trocaria!!!! Hahahaha. Porque não consigo me ver contando essa história por outra visão.

14. Em “Funny Girl”, o personagem Eddie Ryan tem uma forte relação de cumplicidade com Fanny Brice. Alguns espectadores podem interpretar isso de forma romântica. Como você aborda essa interpretação? 

Eu adoro! A direção do Gustavo fez questão de acentuar essa relação entre os dois, trazendo essa amizade forte e esse interesse no Eddie com a Fanny, um pouco diferente de outras versões. Já aconteceu muitas vezes de ouvir do público quando estou saindo do teatro que estavam torcendo pelos dois, e isso é muito especial para mim pois vejo que estamos conseguindo passar o que queríamos.

15. Alguns críticos afirmam que certos musicais clássicos, incluindo “Funny Girl”, podem ter elementos que não se alinham bem com a sensibilidade contemporânea. Como você acredita que essas produções devem ser abordadas nos dias de hoje? 

Acredito que toda história pode e deve ser contada, porém não podemos mais aceitar certos assuntos como normalidade. Cabe a direção, o elenco e a produção contar essas histórias com uma outra visão, trazendo questionamentos para o público. A arte é, além de entretenimento, ao meu ver, formador de opinião. 

16. O mundo do teatro muitas vezes enfrenta críticas por falta de representatividade. Como você vê a evolução dessa questão ao longo dos anos e qual é o papel dos artistas em trazer mais diversidade para o palco?

Acho que demorou para isso se tornar algo comum. A representatividade precisa e deve ocupar todos os espaços, não apenas no teatro. É importante demais para incluir, valorizar e ser justo com as minorias que sempre existiram e resistiram, além da identificação de quem se vê representado. Um reparo histórico há muito tempo atrasado. Não devemos mais apagar a existência dessas pessoas.

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