MOSTRAS FICAM EM CARTAZ ATÉ O DIA 4 DE MARÇO
Até o dia 4 de março seguem em cartaz, na dotART galeria, as mostras: “Fluido”, do pintor Heleno Bernardi, que conta com pinturas inéditas em Belo Horizonte, e “Pierre Verger”, com fotografias do famoso artista franco-brasileiro pertencentes à Fundação Pierre Verger.
Na exposição Fluido, Heleno Bernardi apresenta uma pesquisa pictórica que se estabelece dentro da abstração. E, mais precisamente, no interior de um programa de trabalho que tira partido da força da gravidade. As pinturas são realizadas com tinta em estado líquido, que escorrem pela superfície da tela de acordo com as movimentações que realizo com o chassi.
Já a coleção de Pierre Verger, traz fotografias selecionadas do artista, com algumas das mais relevantes de sua prolífera carreira e que estamparam importantes espaços. Para a mostra, a curadoria trouxe em sua temática os registros que representam África, Bahia e pessoas que recebem divindades, exacerbando o lado religioso. Uma parceria com a galeria Paulo Darzé, de Salvador.
Embora sejam exposições individuais e completamente distintas, as mostras têm em comum o movimento presente nas obras de cada um dos artistas e também o contraponto de contar ou não histórias. “Verger era um exímio contador de história a partir de cada clique feito, foi um narrador. Já a pintura do Heleno tem as histórias dentro das camadas das tintas. Quando você admira as obras, você vê uma pintura emocional, não é narrativo, mas com histórias que se sobrepõem”, explica Wilson Lazaro, curador da mostra e diretor artístico da dotART.
Para o artista Heleno Bernardi, expor na mesma galeria que Verger é muito inusitado. “De um lado estão fotografias etnográficas, que não só registram uma história, mas uma história verdadeira. Mais que fotografias artísticas, são documentais. Fluido já traz um outro lado da arte, com cor, sem narrativa. Mas, ambas as artes se encontram na intensidade”, ressalta o pintor, que completa: “também é um privilégio pela relevância de Verger”.
Fluido
A série de pinturas “Fluido” se alinha a uma genealogia histórica da abstração iniciada por Morris Louis na década de 1950, nos Estados Unidos. Depois, outros artistas também tiraram proveito da força gravitacional na pintura, como Helen Frankenthaler, Robert Motherwell e Jackson Pollock (embora este usasse um outro procedimento, chamado “dripping”, que se tornou sua assinatura).
No Brasil, o pintor Antonio Bandeira utilizou com grande precisão os escorridos em suas obras dos anos 1960. Mais recentemente, artistas como o brasileiro Daniel Feingold e o inglês Ian Davenport também trabalham nesta direção, às vezes com uma abordagem mais geométrica que inclui a ideia de grid.
“Mas o que me interessa nesta pesquisa é uma possibilidade não explorada anteriormente por estes e outros artistas: a saturação extrema da superfície para criação de uma profunda densidade pictórica até chegar a um campo visual onde o tempo seja também percebido. E que a pintura desafie, matericamente e sem narrativas, os olhos e o corpo de quem a observa”, revela Heleno Bernardi.
O artista explica que trabalha a partir da linguagem, como a própria linguagem estabelece uma comunicação com o espectador. A pintura não envolve pinceis e sim tinta derramada, uma tinta liquida que vou depositando na tela e acontece o escorrimento. Vou trabalho a inclinação do chassi para conseguir o resultado que quero”, explica.
Heleno Bernardi vem desenvolvendo uma trajetória transdisciplinar ao longo dos últimos 20 anos. Seus projetos diferem consideravelmente no que diz respeito aos meios de comunicação empregados. E convergem constantemente para questões conceituais estruturantes de uma linguagem visual que passa pela saturação do material, pelo acúmulo no processo e pela energia embutida na realização das obras. Com pinturas, desenhos, objetos, fotografias, intervenções urbanas, instalações e outras mídias, ele também explora o embate entre o corpo e o mundo nas relações interpessoais. O artista já expôs seu trabalho em exposições individuais no Rio de Janeiro, São Paulo, Basileia, Nice, Amsterdã, Frankfurt, Hamburgo e Lisboa, entre outras cidades.
Pierre Verger
Pierre Verger (4 de novembro de 1902 – 11 de fevereiro de 1996), também conhecido como Fatumbi, foi um fotógrafo franco-brasileiro e a exposição “Pierre Verger” da dotART galeria reúne fotografias que retratam a Bahia, a África e pessoas relacionadas ao Candomblé, ressaltando seu lado espiritual e as histórias que acompanhou de perto.
Nascido em Paris, em 1932, adquire sua primeira máquina fotográfica e aprende os rudimentos técnicos da fotografia com o amigo e fotógrafo Pierre Boucher. Viajou o mundo, mas foi pelo Brasil que se apaixonou. Depois de ler o romance Jubiabá, de Jorge Amado, decide conhecer a Bahia e desembarca em Salvador em 1946. O francês encanta-se com a cultura negra, que predomina nas ruas e casas do lugar. Fotografa tudo, aproxima-se deles e procura entender suas histórias e tradições. O interesse o leva ao candomblé como observador, mas se envolve com as práticas religiosas e se converte.
A partir de então, sua relação com a fotografia se modifica. As viagens abandonam a orientação imprecisa e seguem roteiro claro. Buscam as formas que o culto africano aos ancestrais e à cultura negra assumiram nos dois lados do Atlântico. No Brasil, conhece e documenta, em 1948, a religião dos voduns, de São Luís, Maranhão, e o xangô pernambucano.
No mesmo ano, após ser iniciado no candomblé de Salvador, parte para Daomé, na África Ocidental. Lá encontra o rito dos orixás em sua formulação original. Em suas imagens busca revelar as diferenças e semelhanças nos rituais do Brasil e do outro país. Antes de voltar para o Brasil, conhece manifestações místicas em Paramaribo, Suriname (1948), e no Haiti (1949).
O centro que financia a pesquisa, o Institut Français d’Afrique Noire (IFAN), exige, além das fotografias, um relatório escrito. A partir daí, o fotógrafo inicia a associação entre imagem e texto. Suas fotografias ganham interesse científico e passam a ser utilizadas na reflexão antropológica escrita.
Os primeiros resultados de suas investigações são publicados em 1951,
no livro Brésil, com prefácio de Alceu Amoroso Lima. No mesmo ano, Verger trabalha como fotógrafo na pesquisa da Unesco sobre o preconceito racial no Brasil. Em 1951, passa a exercer a função de ogã no terreiro Opô Afonjá. De volta a Daomé, torna-se babalaô (senhor das adivinhações) e ganha o nome de Fatumbi, que adota para o resto da vida.
As obras da exposição pertencem à Fundação Pierre Verger (FPV), que foi criada por Pierre Verger em 1988, na cidade de Salvador, na Bahia. Funciona na mesma casa em que ele viveu durante anos. Como fundador, mantenedor e presidente, ele doou à fundação todo o seu acervo pessoal, reunido em décadas de viagens e pesquisas. São dezenas de artigos, livros, 62 mil negativos fotográficos, gravações sonoras, filmes em película e vídeo, além de uma coleção preciosa de documentos, fichas, correspondências, manuscritos e objetos.
SERVIÇO:
Exposições: “Pierre Verger” | “Fluido” – Heleno Bernardi
Visitação: Até 4 de março
Horário de funcionamento: de segunda a sexta, das 9h às 18h | sábado, das 10h às 13h
Local: dotART galeria (rua Bernardo Guimarães, 911, Savassi, Belo Horizonte)
Entrada gratuita
Informações: (31) 3261-3910