Entrevista: Banda Decreto Sem Lei

Entrevista: Banda Decreto Sem Lei

Como surgiu a ideia da formação da banda Decreto Sem Lei e como vocês definem a identidade musical do grupo?

O ponto de partida é a iniciativa do Maurício Amaral e do Pardal Chimello, que já tocam juntos no Anthares, banda de thrash metal dos anos 1980, de terem um trabalho paralelo. Isso já havia acontecido, com uma banda cover de clássicos do rock e do metal (Ozzy, Iron Maiden, Alice Cooper, Metallica). Inclusive, o Blau fez parte desse rolê. Mas ainda havia o desejo de fazer música autoral. Foi aí que surgiram o Bruno e o Felipe, e o som ganhou vida, um hard rock bem peculiar, cheio de energia. A chegada do Blau, um pouco mais tarde, reforçou essa identidade.

O álbum de estreia traz uma mistura de influências que vão do blues ao heavy metal. Quais são as principais referências musicais que inspiraram as composições?

O resultado final do álbum é um caldeirão de sonoridades. Cada um contribuiu com um tempero diferente, por suas influências, suas inspirações. O Maurício é mais do metal, traz os riffs rápidos e pesado; o Pardal bebe em várias fontes, do rock clássico ao metal, e no Decreto Sem Lei ele aproveita bem a liberdade sonora; o Bruno deixa muito nítido em suas linhas de bateria a influência dos anos 1970; o Felipe é o cara do blues, o que aparece muito no drive da voz e na possibilidade de incluir a gaita; e o Blau, que é bastante eclético, tem mais uma vertente do hard rock clássico.

Vocês mencionam que a música deve divertir e também instigar a pensar. Como esse equilíbrio aparece nas letras e nos riffs das dez faixas do álbum?

Essa combinação é essencial pra gente. A diversão fica por conta da vibração, da energia, da pulsação do nosso som. Há momentos de mais peso, que fazem franzir a testa, assim como há algumas partes mais animadas, pra galera cantar junto. A gente se diverte e tenta passar isso pro público. Já parte de fazer pensar está nas letras, com temas que vão desde questões macro, como a importância da preservação ambiental, até algo mais pontual, como uma relação abusiva.

A faixa “Imprevistos” é inspirada pelo cenário da pandemia. Como foi o processo criativo dessa música e o que vocês quiseram transmitir com o videoclipe?

Aquele início da pandemia da Covid foi um susto enorme. A vida mudou completamente. O processo de criação da Imprevistos acontecem em meio a toda aquela insegurança e às incertezas daquele momento, com todo mundo à distância. E, quando começamos a nos encontrar, ainda estava todo mundo de máscara. No videoclipe, a gente pegou essa pancada generalizada e tentou mostrar que os imprevistos podem ter as mais diferentes dimensões. E temos de aprender a lidar com eles.

O álbum aborda temas sociais profundos, como exploração da natureza, violência do tráfico e abusos emocionais. Como vocês veem o papel do rock na denúncia e reflexão desses temas?

O rock’n’roll sempre foi uma música de alerta, de protesto, de denúncia. É um estilo forte, marcante e abrangente. Essa energia fantástica é o pano de fundo ideal para tratar de temas tão preocupantes que nos afetam de maneira tão perturbadora. Claro, o rock também pode ser apenas divertido e até dançante, mas a gente escolheu esse caminho, de usar nossa música como um alerta.

“Convocado para Morrer” é descrita como um “soco no estômago”. Como vocês trabalham a intensidade e a emoção para impactar o ouvinte?

Essa é nossa faixa mais pesada, tem uma sonoridade quase violenta, como o tema pede que seja. As consequências do tráfico de drogas, em todas suas vertentes e em toda sua capilaridade, são terríveis. É por isso que a música tem riffs pesados, rápidos, impactantes. A ideia é mesmo ser visceral, trazer à tona um cenário de guerra. A vibração já começa com a gente: não dá para ficar parado tocando essa música.

Quais são as expectativas da banda para o show de lançamento na Galeria do Rock? O que o público pode esperar dessa apresentação?

Com toda certeza, o público pode esperar uma entrega total. Esse show é um turbilhão de emoções. Além do momento em si, pelo lançamento do álbum, por toda a dedicação para preparar e gravar esse material, a apresentação será na Galeria do Rock. É um lugar histórico para o público do rock. Quantas bandas não surgiram dos encontros em meio às lojas de discos, camisetas, acessórios? A gente quer se divertir muito e trazer todo o público junto nessa celebração.

Como a Lei Paulo Gustavo e o apoio da Secretaria de Cultura de Santo André foram importantes para viabilizar esse projeto?

A gente sente o maior prazer em falar sobre esse tema. Na verdade, é um compromisso nosso, uma obrigação. Esse apoio foi fundamental para conseguirmos realizar esse projeto. Sem esse recurso, a gente ia demorar muito mais tempo para chegar a esse ponto. A Lei Paulo Gustavo e todas as demais leis de incentivo à cultura e à arte em geral são muito necessárias, porque o Brasil é riquíssimo em criatividade e diversidade nesse setor, e ao mesmo tempo é muito carente de recursos. Em qualquer lugar do país, mas principalmente nas periferias, a cultura está fervilhando de atrações, e a galera se vira para fazer coisas surpreendentes. Se houver apoio, então… As leis de incentivo à cultura tem de ser mais bem divulgadas, e é preciso ter mais orientação para que artistas participem dos processos seletivos e cuidem dessa relação da maneira mais profissional possível.

De que forma vocês enxergam a cena independente e autoral no rock hoje em São Paulo e no Brasil?

Tem uma agitação diferente acontecendo, e de maneira muito positiva. Há uma vontade maior de artistas, de forma individual ou em grupos, de se profissionalizarem, de tomarem conta de seus espaços e não dependerem tanto de terceiros. Existem muitos lugares interessantes para fazer shows em São Paulo e no país todo, e se a gente se posicionar como opção artística de verdade, se mostrarmos que temos condições de fazer algo bacana onde faltam atrações musicais, as chances crescem. Participamos de dois movimentos coletivos atualmente, o Coletivo Rock ABC e a Associação Consciência Cultural, e vemos que as bandas, os músicos, estão amadurecendo, estão percebendo que trabalhar em conjunto é mais interessante.

Quais são os próximos passos da banda após o lançamento deste álbum? Já há planos para novas músicas ou turnês?

Quem sabe Europa… Brincadeira! Pelo menos por enquanto. A gente quer trabalhar bastante com a divulgação do disco, tanto em shows como nas redes sociais e nas mídias. Agora, no segundo semestre, vamos fazer um esforço bacana para tocar também fora do ABC e da capital paulista, queremos ir para o interior de São Paulo e, talvez, para outros estados. E já tem música nova em andamento. Com o primeiro álbum lançado, vamos nos dedicar bastante às novas composições. Queremos levar o som do Decreto Sem Lei para o mundo e já estamos pensando em novos vídeos clipes!

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