Quando o crime se torna um espetáculo e a lei vira piada

Quando o crime se torna um espetáculo e a lei vira piada

*Por Raquel Gallinati
 

No Brasil, o respeito à lei e à autoridade está sendo corroído por uma cultura que debocha da segurança pública, romantiza o crime, transforma criminosos em ídolos e ridiculariza aqueles que arriscam a vida para combatê-lo. A cada novo episódio, essa inversão de valores se torna mais escancarada. 

O caso recente envolvendo o rapper Oruam, segundo a colunista Fábia Oliveira, do portal Metrópoles, é um exemplo gritante desse absurdo. De acordo com a jornalista, ele armou a própria prisão para aparecer em um documentário sobre sua vida. Fugiu de uma blitz real, colocou vidas em risco e foi preso – mas tudo não passava de uma encenação cuidadosamente planejada para as câmeras, enquanto seus amigos filmavam a cena de um carro atrás. 

A autoridade policial – que apenas cumpria seu dever – foi reduzida a um figurante no roteiro de autopromoção de quem desafia a lei para alimentar sua própria narrativa. 

Não é um caso isolado. O Brasil se tornou o país onde criminosos são idolatrados e a polícia, demonizada. No lugar da ordem, assistimos a um teatro da impunidade, onde a ausência de autoridade, a desmoralização das forças de segurança e a frouxidão das leis fazem do crime uma aposta sem risco. O criminoso age sabendo que dificilmente será punido. E, quando é, a punição se torna um trampolim para a fama. 

As consequências desse ciclo vicioso são visíveis. O Estado, que deveria garantir a segurança, fraqueja diante do medo de contrariar narrativas politicamente convenientes. As leis, que deveriam garantir justiça, se tornam meras peças decorativas em um sistema que se recusa a punir quem desafia a ordem pública. 

A pergunta que se impõe é clara: de que lado estamos? Seguiremos reféns de um país onde o crime é glamourizado, a impunidade é regra e a lei virou uma farsa? Ou teremos coragem para fortalecer nossas polícias, dar respaldo a quem arrisca a vida para nos proteger e restabelecer a certeza do castigo para quem afronta a sociedade? 

A escolha precisa ser feita. E precisa ser feita agora.

*Raquel Gallinati é Delegada de Polícia, Secretária de Segurança Pública de Santos e Diretora da Associação dos Delegados de Polícia do Brasil

marramaqueadmin