Entrevista: Rodrigo Sha, multinstrumentista e compositor

Entrevista: Rodrigo Sha, multinstrumentista e compositor
  1. Rodrigo, como nasceu o projeto Copenema? Em que momento você percebeu que a união entre o som carioca e a produção eletrônica europeia renderia algo tão original?

O Projeto Copenema nasceu aqui no Rio de Janeiro, quando o Consuldado da Dinamarca entrou em contato comigo para conhecer o Dj e Produtor renomado Kenneth Bager, Presidente também da gravadora Music For Dreams. Recebi ele na minha casa, e nos demos muito bem! No dia seguinte ele voltou e gravamos uma música inédita com um solo de sax de 12 minutos direto, e depois gravei uns vocais melódicos, meio Clube da Esquina…virou uma linda track “Some Di Some Day”, aí se deu realmente um encontro artístico único na vida, de muita conexão e de compartilharmos a mesmo linguagem…enfim…tudo muito natural, e além disso uma grande amizade nasceu, viramos família literalmente. 

O Som carioca é do mundo também, temos muitas influências por sermos cosmopolitas, assim como Copenhagen, é um polo artístico e de comportamento muito forte e expressivo na Europa. Além da minha carreira ter também essa direção do mundo, do som, e sempre busquei a minha identidade, sofisticação, sem ser refém do mercado. E aí foi o Match perfeito, pois a gravadora Music for Dreams busca exatamente por música contemporânea e original.

  1. O álbum Hoje foi gravado entre o Brasil e a Dinamarca. Como foi o processo de criação à distância e presencial com nomes como Kenneth Bager, DJ Pippi, Walter Default, entre outros?

O álbum “Hoje” começou na Dinamarca, fui pra lá há dois anos atrás para começar esse álbum, me hospedei na casa do Kenneth e família, fiquei 15 dias lá de imersão de 12 horas por dia no estúdio com todos os produtores e revezando os dias com Kenneth, Pippi, Walt, Dj Disse, Tha Swan and The Lake, compondo e já gravando valendo. Depois fui terminando o que era necessário aqui no Brasil, e duas músicas partiram daqui, “Não Vá” e “Deixa Ser”,e foram para as mãos do produtor Grasskirt, e produzimos essas duas a distância, e foi super fluido. 

  1. As faixas misturam samba, jazz, house, bossa e afrobeats com extrema fluidez. Como você equilibra essas referências na hora de compor e arranjar?

Acho que essas são todas as minhas influências na minha carreira, vem naturalmente e ao mesmo tempo com uma direção do Kenneth, ele me mostra alguma referência e me deixa à vontade para criar, um processo de muita confiança também. E as músicas nascem no jeito brasileiro de ser, no violão e voz, mesmo as instrumentais, mas algumas eles sugerem grooves e lá vou eu com o violão construindo as harmonias e melodias…com o sax…

  1. A reinterpretação de “Love is in the Air” em bossa-jazz é uma das surpresas do disco. Por que essa música? Como foi dar nova vida a um clássico com essa pegada solar?

Essa música partiu do Dj Disse, ele ama música brasileira, e estava insistindo para eu fazer uma versão em português. No último dia de estúdio peguei o violão e senti que deveria ser uma Bossa Nova, intimista, pra trazer a emoção da música e sair do óbvio, e aí comecei a escrever a letra…ela tipo desceu em 15 minutos na minha mente e coração. Logo depois já gravei o violão, a voz e de repente chegou um grande gaitista maravilhoso no estúdio Mathias Heise, eu pedi pra ele gravar…e ficou super bonito numa onda original. Uma alegria e sintonia.

  1. A sua sonoridade como saxofonista e flautista aparece com destaque em várias faixas. Como você enxerga o papel do sopro na identidade musical do Copenema?

O Sopro é minha alma, o Copenema começou no sax e depois na voz…e sempre busco caminhos com a minha identidade nos instrumentos. Acho muito natural o sopro estar em destaque, e como disse, a galera gosta de som, o importante pra eles é fazer música de qualidade. Liberdade de criação total!

  1. O título do álbum, Hoje, remete a presença, leveza e celebração. Que mensagem você gostaria que o público levasse ao ouvir essas 12 faixas?

A mensagem é : viva o HOJE, seja feliz e livre independente do seu contexto no momento, a vida é realmente a arte dos belos encontros, e a música guia muito a gente nossa jornada. Valorize os momentos simples e profundos do dia a dia. 

  1. O Zé Ricardo, do Rock in Rio, destacou o quanto esse é um momento de maturidade e voo alto na sua carreira. Como você enxerga esse novo capítulo internacional?

O Zé me conhece desde o início da minha carreira, por isso resolvi falar com ele para escrever esse Aspas. Pois sentia que ele iria curtir toda essa caminhada. Venho desenvolvendo minha carreira internacional desde 2006, podemos dizer assim, tive muitas experiências internacionais com o BossaCucaNova, Bebel Gilberto, Marcelindo Da Lua e meus próprios projetos…então acho que uma parte dessa caminhada, é a minha dedicação e sede real pelo mundo e por uma sonoridade sofisticada, com riqueza nos arranjos, buscando sempre a conexão com a alma…e a outra parte é a vida que vai abrindo as portas. Uma ponta nutre a outra. Mas desde sempre me sinto um artista do Brasil para o mundo. 

  1. De todas as colaborações no disco, teve alguma que te surpreendeu particularmente no resultado final? Algum feat que nasceu “por acaso” e virou peça-chave do projeto?

Gosto muito das faixas com o artista e produtor “The Swan and The Lake”, chegava na casa dele 9h da manhã, um frio danando, seu home Studio meio caótico, porém tudo acontecia, ele é uma pessoa rara, muito especial, de muita sensibilidade e simplicidade na hora de produzir, temos 4 colaborações no álbum: Sorte, Poesia, O Amor me faz Viver, Um Alento. Me lembro com muito carinho desse momento do nosso processo criativo.

  1. Como tem sido a recepção do disco nas pistas e rádios fora do Brasil? Já há planos de turnê internacional?

Bem, os singles já vem tocando há tempos na Europa, “Nada Mais” é hit, “Hoje Você Disse que Vem” toca muito lá também, ”Circus em Paris” também audiência, pois foram singles lançados antes do álbum, pra aquecer. O legal da Europa em geral é que se o trabalho é consistente, ele tem espaço, pra tocar nas rádios, nos clubes, e se apresentar ao vivo, o pessoal gosta de artistas originais. 

  1. Por fim, como você vê o papel da música brasileira nesse cenário global conectado, onde a bossa, o groove e a ginga seguem abrindo portas?

A riqueza da música brasileira é gigantesca, o nosso jeito de tocar tem muita originalidade, os artistas brasileiros são admirados no mundo inteiro.

Eu percebo quando estamos lá no estúdio o respeito e admiração que eles têm pela gente, no processo criativo e no momento de gravar é muito especial, e na hora do show ao vivo estamos no mesmo patamar totalmente. E o barato e que mais faz a diferença é o intercâmbio, a mistura de linguagens, isso me dá muito tesão mesmo, pois o novo vem daí, dessa abertura…quem tem raiz pode se misturar com tranquilidade, sem perder sua identidade e muito pelo contrário, criar algo novo, um sentimento de ser e estar novo no mundo, isso tem a ver com nossa evolução e um entendimento da nossa condição humana, nosso propósito. 

E é isso o mercado é Global, e em muitos casos somos muito mais valorizados e escutados lá fora do aqui dentro do nosso próprio país. Mas acho que a cada dia que passa a música brasileira em geral é mais absorvida pelo mercado Global, assim como pelas gravadoras internacionais…E é isso, o importante e ressoar no mundo com a sua verdade!

marramaqueadmin